Batendo o martelo

Postado originalmente na Uol em 4/01/2011

O pessoal que gosta de administrar “batendo o martelo” – estilo da nova Presidenta – costuma “resolver” problemas técnicos e criar políticos. Em dois dias de governo, o estilo já produziu resultados. A Presidenta, apressadamente e sem justificar politicamente a decisão, bateu o martelo sobre a privatização dos aeroportos (que inclui abertura do capital da Infraero) e a resposta da oposição, talvez ao contrário do que ela esperava, não foi o aplauso. A oposição cobrou a postura anti-privatista dela na campanha eleitoral: “É uma atitude bastante contraditória” diz Agripino Maia (DEM). “Ela fez o discurso [de campanha] errado e a ação certa”, completou. Para o Senador Alvaro Dias (PSDB) “apesar do fato positivo, Dilma deveria pedir desculpas pela mentira e retórica eleitoral” (Folha de São Paulo, 4-01-2010).

O curioso de toda esta questão é que deveríamos ser nós, em especial o PT, a cobrar da Presidenta coerência entre seu discurso eleitoral e os seus atos. No entanto, estamos todos calados e a oposição é que cobra coerência. Essa atitude pode nos levar cada vez mais a uma posição de “tolerância permissiva” que tende a justificar todos os atos da Presidenta, pelo fato de a termos apoiado. Esta atitude de início de governo incentivará os privatistas a pressionar por mais privatização, inclusive na educação. Ongueiros e Ongueiras já estão a postos.

Milu Villela, do Instituto Faça Parte, patrocinado pela Goodyear, pelo Itau,  pela DPaschoal e pela TAM, já está em campo na Folha de São Paulo de hoje (4-01-2010). Depois de desfilar com a pobreza – ela sempre é lembrada nesta hora – afirma que Dilma poderá se notabilizar se fizer uma revolução na educação. Justifica esta necessidade mostrando o caos da nossa educação – a referência é sempre o PISA, exame aplicado pela Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), a qual é uma organização internacional de 31 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Os membros da OCDE são economias de alta renda com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e são considerados países desenvolvidos. Teve origem em 1948 como a Organização para a Cooperação Económica (OECE), liderada por Robert Marjolin da França, para ajudar a administrar o Plano Marshall (liderado pelos EUA) para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. As corporações americanas se desenvolveram ancoradas no Plano Marshall. Em 1961, foi reformatada para Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento. O exame PISA passou a ser aplicado a países não membros também. Esta organização, portanto, representa o interesse das grandes corporações econômicas internacionais.

Voltando à questão. Depois de elencar as mazelas da educação brasileira – sem mostrar seus avanços – Milu indica, entre tais mazelas, a “falta de modelo de gestão para as nossas escolas”. Para ela Coreia e Chile mostram que se pode construir modelos de educação de excelência em curtos períodos históricos.

Esta fala vai na mesma direção do Manifesto que nós estamos examinando neste blog nas últimas postagens. O mercado é o modelo de gestão preferido e que permite esta revolução. Se esta rede de ONGs, Institutos, Fundações, etc. conseguir sensibilizar Dilma a “bater o martelo”, como fez com os aeroportos, terá sido decretada a morte do sistema público de ensino brasileiro. Logo saberemos.

Sobre o alardeado sucesso Chileno que os liberais/conservadores estão fazendo no Brasil ver também http://naercio.insper.org.br/wp-content/uploads/2009/08/seriam-os-vouchers-a-soluaao-para-a-educaaao-brasileira-2007.pdf

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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