Postado originalmente na Uol em 9/01/2011
As ações do Governo Alckmin no campo da educação que iniciaram com a troca do Secretário Paulo Renato podem significar uma inflexão na política educacional do Estado. Ainda é cedo para se afirmar, mas as declarações e ações do governo sugerem uma mudança na forma de se relacionar com a rede estadual de ensino. No poder há 16 anos, o PSDB não conseguiu constituir uma política educacional de sucesso. Implantou formas de avaliação em larga escala (SARESP) e a progressão continuada de forma verticalizada, forçada (somente agora se reconhece este erro – após 13 anos); mais recentemente introduziu pagamento de bônus para a equipe escolar por atingimento de metas; criou um indicador próprio de desempenho, o IDESP, até melhor que o IDEB, mas nada disso conseguiu tirar a educação do atoleiro. Com pouca variação positiva nos indicadores, a rede tem hoje 46% dos professores na forma temporária, criando uma instabilidade fatal no quadro de professores, entre outros problemas acumulados.
Recentemente o que se tem visto é um governo preocupado em dialogar com a rede – pelo menos o verbo tem aparecido nas declarações. A própria mudança no sistema de progressão continuada está sendo proposta para 2012, de forma que se possa conversar sobre as mudanças com a rede. “O secretário também garantiu que todas as possíveis alterações passarão por uma consulta à comunidade escolar. “Não abro mão de que quem está na ponta, que são os professores, manifestem-se. A postura desta gestão é de discutir com a rede”, afirmou.”
A troca de Paulo Renato já foi um sintoma de que o governo queria uma nova relação. O segundo indicador veio pela nomeação de João Cardoso Palma Filho como Secretário Adjunto, após ter colocado o Reitor da Unesp, Herman Voorwald, como Secretário da Educação no lugar de Paulo Renato. Palma é grande conhecedor da rede e tem condições de iniciar esta nova relação – se a política deixar. Outras sondagens em curso dão conta de uma tentativa de ampliar o leque político no governo trazendo pessoas de competência até de fora dos quadros do PSDB.
A tarefa, entretanto, não será fácil. Há uma história que não pode ser facilmente descartada. Embora a sonolenta administração de Chalita tenha sido um ponto fora de curva na política educacional agressiva do PSDB, ela também foi cercada de idas e vindas e terminou desembocando na “SWAT educacional” do PSDB com Maria Helena Castro, Maria Ines Fini e Paulo Renato à frente. Impuseram um novo currículo atrelado ao SARESP, introduziram bônus, apostilaram a rede e tomaram outras medidas de forma verticalizada, bem no estilo americano da “accountability” – a responsabilização. Resultados pífios se seguiram.
Agora, parece que o governo está procurando uma inflexão. Não acredito que haverá abandono da “responsabilização”, não creio na possibilidade de tanta lucidez, mas é possível que haja um maior diálogo e ações mais bem direcionadas, baseadas no conhecimento do funcionamento da rede e não em fórmulas mágicas copiadas de manuais importados de Nova York. Veremos.