Postado originalmente na Uol em 12/12/2010
Vocês notaram que durante toda a manifestação que a imprensa brasileira fez sobre os resultados do PISA não se falou de United States of America? Em um país americanófilo como o nosso, que vive propondo copiar os milagres da educação americana, isso não é de se estranhar?
Mas a resposta é simples, embora os USA tenham uma média mais elevada que o Brasil no PISA o fato é que nós estamos nos movimentando para cima e eles, não saem do lugar desde 2000 – mesmo em uma década em que tentaram toda a sorte de privataria em cima do sistema público americano. Ao contrário: em matemática chegaram a cair e só agora em 2009 recuperaram o prejuízo. Inglês melhorou um pouquinho, mas não tanto como o Brasil melhorou. E a única área em que saíram melhorzinhos foi em Ciências, mas não melhoraram no mesmo ritmo que o Brasil.
Vamos aos dados. Em leitura, olhando os dados de 2000 a 2009, os americanos estão no quadrante “performance declined” o Brasil está no “performance improved”. O que diferencia um do outro é que os americanos estão na média da OECD e nós não, como já comentamos. Mas mesmo assim, nós melhoramos em torno de 16 pontos e eles caíram em torno de 4 pontos (Cf. Figure V.2.2, p. 40 PISA 2009 results: learning trends – Vol. V). Em matemática, os americanos estão no quadrante “performance improved” tendo crescido em torno de 4 pontos. O Brasil está no mesmo quadrante “performance improved”, mas – detalhe – ganhou 30 pontos. Só perdeu para o México que ganhou em torno de 34 pontos. É portanto o segundo maior crescimento entre os 57 países examinados. Note-se que aqui, a média dos americanos é, como a do Brasil, abaixo da média da OECD, ainda que maior que a do Brasil. (Cf. Figure V.3.2., p. 61 PISA 2009 results: learning trends – Vol. V). Em ciências, os americanos estão na média da OECD e no quadrante “performance improved” e ganharam em torno de 13 pontos. O Brasil está abaixo da média mas no quadrante “performance improved” tendo crescido em torno de 15 pontos. Ou seja, em quaisquer comparações com os americanos, nós crescemos mais nos últimos 10 anos.
Restaria a argumentação de que os americanos estão acima da média. Eles têm com 500 pontos em leitura, 487 em matemática e 502 em ciências, portanto, é forçado dizer “acima da média”, pois os americanos estão abaixo ou apenas na média, como se vê. O Brasil tem 412 em leitura, 386 em matemática e 405 em ciências. Claramente abaixo da média. Mas esta não é a única medida. É preciso levar em conta que enquanto os americanos patinam, o Brasil avança – sem a privataria que fizeram por lá. Se é bem verdade que em torno de 100 pontos nos separam da média da OECD também é verdade que outros 100 pontos separam os americanos do país que lidera as avaliações no PISA. Os americanos lutam hoje para conseguir ficar na média, nós avançamos consistentemente – é o que dizem os avaliadores internacionais, tão queridos dos liberais brasileiros.
O importante é que estão pior, ou como estavam antes de terem feito a privataria geral. O que significa que estas medidas não surtiram efeito a não ser para pior, se considerarmos o estado atual do sistema público americano.
Isso valeu a posição de “successful reformer” ao Brasil, coisa que a mídia cala. Ninguém falou disso. O documento está disponível e chama-se:” Strong Performers and Successful Reformers in Educacion: lessons from PISA for the United States “(OECD) de 2010. Pasmen, entre os países que podem dar lições aos USA está o Brasil, segundo este documento, junto com outros. O Capitulo 8 “Brazil: encouraging Lessons from a large federal system”, trata disso. Na página 177 o box de abertura diz: “A média das pontuações do Brasil no PISA aumentou em todos as matérias medidas durante os 10 anos. Apesar destas pontuações estarem bem abaixo da média da OECD e obviamente não colocar o Brasil entre os países de alta performance, tais ganhos sugerem que o Brasil implementou políticas federais baseadas em uma visão coerente que parece ter gerado algumas melhorias consistentes.”
Há outros aspectos nestes documentos do PISA que comentarei em outras postagens.
Agora gostaria de me limitar a uma questão que aparece durante a leitura de um artigo de Dimenstein na Folha de São Paulo de hoje (12-12-2010).
Apesar dos liberais terem se calado sobre o desastre americano no PISA ao longo desta década, foi durante este período que se implantou o No Child Left Behind, a lei que autorizou com apoio de Democratas e Republicanos a privataria geral da educação americana e levou o sistema público à destruição. Entre estas ações estão as escolas Charter – obsessão da Fundação Bill Gates , atualmente, a qual está despejando milhões de dólares nos distritos. Uma malha de “organizações comunitárias”, leia-se, indústria da educação, tomou conta das escolas com o mote de que a iniciativa privada administra melhor que a administração pública. Nós conhecemos esta história…