Tempo integral na escola: a procura pela bala de prata

O modelo causa-efeito persiste na educação muito embora não haja evidência de sua adequação à análise do fenômeno educativo. Governos, pesquisadores, políticos, economistas procuram pela bala de prata que resolverá, de uma tacada, os problemas educacionais.

Os reformadores empresariais da educação são os principais interessados no modelo causal. Vivem às turras com as variáveis que afetam a aprendizagem procurando encontrar qual delas é a bala de prata que, se aplicada, produzirá o “abrate sésamo” da educação.

Agora é a vez da escola de tempo integral. Estudo divulgado dia 4-01-2013 pelo jornal Estado de São Paulo compara o desempenho entre escolas com e sem tempo integral e mostra que as médias não são diferentes.

Faltou definir o que é tempo integral. Mais Educação, um programa do governo federal, por exemplo, não é educação integral. O conceito de educação integral é diferente do conceito de educação de tempo integral. A ênfase não é no tempo e sim na concepção de educação. Não visa apenas a ocupar o tempo do aluno dando mais do mesmo, ou promovendo atividades variadas desconexas. Supõe um novo currículo e uma nova metodologia.

Mas os nossos apressados estatísticos não são afetos a concepções, e sim a números. Portanto, escola de tempo integral é aquela em que o aluno fica mais tempo (7 horas) na escola, não importando o que faça. E por esta via, fazem a comparação indevida.

Perguntas erradas, levam a respostas erradas.

Não há bala de prata em educação. O fenômeno é multivariado e os valores das variáveis estão interligados. Além disso, a introdução de inovação depende de variáveis com valores locais e não médios.

Nenhuma medida isolada produzirá efeitos milagrosos. Se produzir, desconfie dela.

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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2 Responses to Tempo integral na escola: a procura pela bala de prata

  1. Avatar de Carlos R Bifi Carlos R Bifi disse:

    Excelente artigo prof, mas faltou apontar uma direção para que a tal Escola de tempo Integral funcione corretamente. Não como uma bala de prata, mas que tenha um efeito retardatário sobre a má qualidade do ensino, pelo menos. Minha humilde sugestão seria começando por uma valorização imediata do professor. Não digo que uma “canetada” em uma folha, determinando aumentos extraordinários, resultaria em bons resultados, mas que essa valorização viesse por meio de uma melhor seleção “natural” dos nossos educadores, para só assim, sentirem-se mais propensos a procurar melhores programas de formação continuada. Quando digo “Natural”, quero dizer que, se o governo remunera melhor seu educadores, os melhores educadores procurarão essa melhor remuneração. Só assim, projetos educacionais, tal como a escola de tempo Integral, funcionaria não apenas como deposito de crianças por 7 horas e sim, com projetos educacionais individuais da realidade de cada comunidade que ali vive. Parabèns pelo artigo!
    Prof Me Carlos Bifi

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