Educação infantil: antecipar escolarização é crime

(Atualizado em 10-02-15, com alteração na redação do primeiro parágrafo.)

O MEC está preparando na Secretaria de Educação Básica, agora tendo Manuel Palácios como novo titular,  a base nacional comum para a educação básica. Em pauta estará a introdução de novas exigências de desempenho para a educação infantil, pois o atual Ministro acha que a criança tem que se alfabetizar até os sete anos. Isso irá provocar uma antecipação da escolarização das nossas crianças nas creches e pré-escolas do país, como se pode ver em outros países.

A experiência americana neste sentido é trágica. Lutam há anos para combater esta ideia que agora foi introduzida também na base nacional comum dos americanos. Um relatório sobre a matéria já foi divulgado anos atrás. Agora, acaba de ser divulgado novo relatório em janeiro, insistindo em que a pesquisa não referenda tal antecipação da escolarização das crianças na pré-escola.

As principais conclusões são:

  1. Muitas crianças não estão, do ponto de vista de seu desenvolvimento, prontas para ler na pré-escola, mas os padrões da base nacional comum obrigam-nas a fazer exatamente isso. Isso está levando a práticas inadequadas em sala de aula.
  2. Nenhuma pesquisa registra ganhos a longo prazo com aprender a ler na pré-escola.
  3. As pesquisas mostram maiores ganhos com programas baseados em jogos do que com pré-escolas de foco mais acadêmico.
  4. As crianças aprendem através de experiências lúdicas ativas com materiais, o mundo natural, e envolvidas, cuidadas por adultos.
  5. Experiências ativas, baseadas em jogos em ambientes ricos em linguagem ajudam as crianças a desenvolver suas ideias sobre símbolos, linguagem oral e palavra impressa – todos os componentes vitais da leitura.
  6. Nós estamos definindo metas irrealistas de leitura e frequentemente usando métodos inadequados para realizá-las.
  7. Em pré-escolas e creches baseadas em jogos, os professores projetam intencionalmente experiências de linguagem e alfabetização que ajudam a preparar as crianças para se tornarem leitores fluentes.
  8. A adoção dos padrões da base nacional comum implica falsamente que tendo as crianças atingido estes padrões irão superar o impacto da pobreza sobre o desenvolvimento e aprendizagem, e criarão igualdade de oportunidades educacionais para todas as crianças.

O relatório foi produzido por Nancy Carlsson-Paige; Geralyn Bywater McLaughlin e Joan Wolfsheimer Almon e conta com o patrocínio da Defending the Early Years e da Alliance for Childhood ambas americanas.

O relatório completo está aqui.

Antecipar a escolarização das nossas crianças é um crime, primeiro contra o desenvolvimento pessoal delas, e segundo contra o próprio país pois esta é a idade propícia para o desenvolvimento de uma série de habilidades pessoais e interpessoais que são vitais para o favorecimento da criatividade e, como sabemos a criatividade é a base da inovação. Esta sim é vital para o desenvolvimento econômico do país.

Leia também sobre o desejo de ACM Neto, na Bahia, de que o Governo Federal flexibilize as construções de creches em terrenos menores do que o estabelecido por lei.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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42 respostas para Educação infantil: antecipar escolarização é crime

  1. Maria Ines Bachiega disse:

    Concordo que nao podemos antecipar uma coisa que nao depende apenas de nosso trabalho. Tenho experiencia de 23 anos na educacao infantil municipal de Campinas e sempre digo aos pais que o merito da crianca aprender a ler eh dela e nao do professor, pois a crianca aprende quando esta biologicamente e emocionalmente apta a colocar em pratica o que nos fizemos juntos nas nossas brincadeiras, jogos, artes, dramatizacao etc Deixem as criancas serem felizes!

  2. Claudia Maria Barbosa de Alencar disse:

    Achei estranho colocar o comentário “Isso irá provocar uma antecipação da escolarização das nossas crianças nas creches e pré-escolas do país”, logo após a afirmação de que o o ministro acredita que a alfabetização deve se dar aos 7 anos. Acho que a oração foi mal formulada, pois a reformulação das exigências de desempenho para a educação infantil, ao contário do que diz a reportagem. Sou professora de Educação Infantil há exatos 32 anos, já passei por várias concepções de ensino. O que tenho visto nos últimos anos é uma loucura que não cabe dentre de nenhum dos teóricos que já estudei, pois a cada dia tentam trazer para a EI uma etapa que cabe ao EF. Tenho visto professores descabelados tentando alfabetizar crianças de 3 e 4 anos, pois precisam chegar ao 1º ano alfabetizados, caso contrário a escola ficará mal vista. Espero mesmo que seja feita uma reformulação e que as crianças voltem a ter o direito de serem crianças, sem que se tente fazê-las engolir goela abaixo o alfabeto, as sílabas e os números por simples pressão de um sistema que não consegue dar conta de alfabetizar seus alunos na idade certa. Pena que os professores nunca sejam convocados para participar dessas elaborações e discussões e tudo o que é feito para a Educação venha de cima para baixo, sem levar em conta a experiência, que pode contribuir e muito paraa formulação de teorias.

    • julie disse:

      Nossa mais que perfeita a resposta era tudo que precisa ler!!

      • Daniela disse:

        Com certeza você tem razão. Também sou radicalmente contra uma criança de 2 anos já entrar num processo de alfabetização, como vejo diariamente. Eu gostaria muito que seu discurso fosse lido por autoridades competentes.

    • Rejane Rodrigues Matos de Barros disse:

      Claudia, isto que disseste também é o que penso. As pessoas adoram criar novas teorias e o pior é que geralmente estas pessoas nunca entraram em uma sala de aula de EI, e sempre sobra para o professor que sabe o que deve fazer mas tem que seguir
      as exigências elaboradas por leigos na prática.

    • Aline disse:

      Tua experiência em campo é a resposta que precisávamos.

  3. Francisco T. C. Santos disse:

    Sou estudante da Licenciatura em Informática do IFPI, e, ao longo de meus estudos dos teóricos da aprendizagem, percebo que “queimar etapas” é improdutivo e maléfico para o desenvolvimento cognitivo da criança. Isso é fato científico e representa a base do sistema educacional no que diz respeito às etapas de progressão intelectual da criança e do adolescente. O que proponho é aumentar os investimentos na atual educação básica em todos os seu níveis e promover a contínua valorização dos profissionais da educação responsáveis por colocar em práticas as diretrizes do sistema educacional brasileiro.

  4. Mais um texto interessante tocando na questão da importância de não antecipar etapas na educação infantil.
    O primeiro parágrafo, porém destoou e criou um pouco de confusão.
    Escolas pelo país afora estão alfabetizando com 4, 5 anos, 6 no máximo. Se o ministro atual fala em 7 anos me parece um avanço!
    Pelo que entendi, o fato concreto é que estão preparando uma “base nacional comum para a educação básica”. Não é claro a conexão disso com uma suposta diminuição da idade de alfabetização.

    • Hoje, aceita-se que a alfabetização tenha como referência a idade de 8 anos para ser concluida. É quando se faz a ANA a Avaliação da Alfabetização. Isso só já provocou uma corrida nas escolas, como você bem descreve para antecipar a alfabetização para 4 ou 5 anos. Reduzindo para sete anos a referência, a pressão sobre as escolas aumenta. As políticas dos reformadores têm conduzido a este resultado, como informam os dois relatórios americanos que estão nos links do post. As consequências para as crianças não são boas.

  5. Mary Dalva Bortoli disse:

    Minha experiencia como mãe e tia difere… tenho 3 sobrinhos que estudaram em escolas públicas e nenhum deles aprendeu a ler ou escrever antes dos 6 anos! ao contrário um sobrinho que tem 6 anos neste momento ainda não sabe todo o alfabeto. Quanto a escola particular, minha sobrinha que já é mais velha leu com 7 anos, outro sobrinho também de seis anos mais com educação particular acaba de começar a ler… foi a novidade do fim de ano! Tenho uma filha de 4 anos e meio e que tenta por si só ler as letras, descobrir sons de sílabas… tanto que procurei a escola para talvez antecipar a ida dela para o próximo nível. A escola achou muito ruim e que ela “pularia etapas”. Agora mudei de cidade e nesta nova, procurei escolas em que ela pudesse ser matriculada com outras crianças já de 5 anos… tive tanta dificuldade que desisti da procura. Temo que ela fique frustrada já que reconhece todo o alfabeto, gosta de pedir que digamos como escreve as palavras pra ela escrever, reconhece números e quantidades e além de que é bastante agitada. Acredito que deva haver um padrão e que na idade certa as crianças sejam alfabetizadas, mais, cada um na sua realidade! toda criança ter que esperar os sete anos é complicado! tanto quanto querer que todas esteja prontas aos 5 anos! Mas, daí penso e as escolas? tem condições de reconhecer a necessidade de cada um e dar o atendimento necessário! Parece que definir tudo por idade é mais fácil!

    • juliana Alves disse:

      Infelizmente a angústia e ansiedade dos pais torna-se maior que a necessidade de nossas crianças. Como educadora do estado de Minas Gerais, tenho a certeza de que se a criança tiver estímulos variados, chegando aos 7 anos sua alfabetização fluirá de forma rápida e prazerosa. Nenhuma criança deixa de aprender ou fica frustrada se for be, direcionada pela família. essa frustração por adiantar a criança é muito mais dos pais do que da própria criança. Vamos deixar as crianças serem crianças e viver a infância no tempo certo. Querem imputár-lhes responsabilidades antes da hora.

  6. Rosana disse:

    Minha filha estuda em uma escola particular e aprendeu a ler com 4 Anos. Não aconteceu nenhum tipo de pressão do nosso lado, tampouco da escola para que fosse alfabetizada nessa idade. Como a Mary dalva comentou, acredito que algumas crianças devem passar por essa fase sem pular etapas, porém, sem tentar impedir crianças que tem mais facilidades de fazê-lo. Cada caso é um caso.

    • Aldo Cesar frota Vasconcellos disse:

      Deixo um comentário para Rosana, Mary Dalva, Michelle e outras pessoas que tenham crianças que se alfabetizam antecipadamente por conta própria: segundo os princípios da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf o problema está na possibilidade de a criança perder a vitalidade, que no caso será necessária para toda sua vida. Os casos de crianças que se alfabetizam sozinhas são raros e cabe aos pais decidirem se é melhor começar um trabalho intelectual cedo que irá atrapalhar a mielinização cerebral, já que nessa idade não se formou nem 50% do cérebro. Rudolf Steiner, criador desse método pedagógico alerta inúmeras vezes que uma criança alfabetizada cedo demais pode desenvolver na velhice, artrites e artroses, esclerose múltipla e outras doenças a partir dessa desmineralização precoce. Hoje inúmeros médicos já alertam para um verdadeiro surto de alzheimer pelo fato das crianças estarem sendo alvo de intelectualização precoce. E o princípio de tudo está na formulação de Steiner de uma lei humana que é: “as forças do crescimento são as mesmas usadas no exercício do pensar”; ou seja, só quando a cç atinge certa fase de seu desenvolvimento (aprox. 7 anos – queda dos dentes molares) é que é adequado iniciar o uso do intelecto, mas mesmo assim ainda de forma que não comprometa seu crescimento restante. Pesquisem um pouco mais, se quiserem, e no mais, não devemos nunca achar que alfabetização precoce produzirá gênios, mas ao contrário poderá saturar a criança e no futuro haver um desinteresse pelo estudo, que deve ser vista como um direito permanente e prazeroso, não uma tortura. Também sou professor e contador de história, por isso trabalho desde a E.I. até Ensino Médio. E não vamos esquecer: Albert Einsten só começou a ler depois dos oito anos, e seus pais já estavam achando que ele tinha alguma deficiência. Quando perguntaram a ele o porquê dele não conseguir ler na “idade certa”, ele respondeu que simplesmente não tinha vontade de ler, e quando teve, começou a ler. É simples assim!
      Espero ter ajudado, abraços.

      • Andreia disse:

        Que especial ler o seu registro, sou educadora de um jardim Waldorf, lá estamos lutando pelo direito de que nossas crianças possam ser de fato crianças, que possam brincar, escalar árvores, ouvir o sons dos passarinhos, convivam em harmonia com diferentes faixas etárias, que qmem é respeitem a natureza e seu próximo, que venerem a vida com tudo de belo que ela possui… Será mesmo importante antecipar a escolarização? Não é mais importante ser feliz?

  7. Michelle disse:

    Na minha epoca a pré escola com 5 e 6 anos aprendíamos tanta coisa, sai sabendo ler e escrever para a 1ª serie, tinha lição, brincadeiras, e todos aprendiam, hoje meu filho tem acesso a todo tipo de informação, sabe escrever, sabe cores, numeros, e muitas outras coisas atraves de sua curiosidade, que não posso deixar de incentivar já que na escola que ele estuda publica não se pode ensinar nada, a professora diz que não utilizam lapis e nem caderno que somente irão usar esses metodos na primeira serie, meu irmão aprendeu a ler com quase 9 anos graças a essa nova tecnica ridicula, gostaria que voltasse ao metodo antigo já que hoje as crianças tem mais sede em aprender.

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  9. Me parece que el tema es muy importante toda vez que servirá para lograr adultos mejor equilibrados. El ser humano debe recibir un proceso de aprendizaje de acuerdo con su nivel de desarrollo mental, por tanto me ha causado mucho interés saber de estos planes que está mencionándose en Brasil. Yo soy Ingeniero Pesquero de Profesión y he sido Profesor durante 30 años en la Facultad de Ingeniería Pesquera de la Universidad Nacional Federico Villarreal, en Lima-Perú y, uno de los aspectos que siempre me hacia pensar fue el notar que la instrucción de mis alumnos era diferente a lo que me contestaba indicándome que, indudablemente era por la calidad de educación que habrían recibido en sus respectivos Colegios de origen, concepción que no me convencía totalmente. Espero, ciertamente con mucho interés el desarrollo de la aplicación de estos planes educativos en Brasil, y les deseo realmente que la experiencia sea muy positiva, a favor de los alumnos del país hermano.

  10. Aline Caixeta disse:

    Essa ideia de que antecipar a escolarização da criança é garantia de que serão aumentadas suas chances de sucesso na vida escolar é um grande equívoco. Ainda mais quando estamos falando de uma escolarização com excesso de rituais, repetições e memorizações, sem espaço para a criança pensar, agir, manifestar-se e se relacionar. Uma escolarização que não é bem vinda nem no Ensino Fundamental quanto mais para a Educação Infantil. Não sou contra o ensino na Educação Infantil, especialmente ao que se refere ao trabalho com a linguagem escrita, desde que seja de fato um trabalho com a cultura escrita e sua função social e não meramente o treino das letras.

  11. angelicavsmarques disse:

    Depois passa no ENEM e não pode cursar porque não completou a doutrinação

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  13. Isso tudo se resume em violação da infância.

  14. “Quem sobe uma escada a partir do degrau do meio, jamais será completo”. Não devemos ‘queimar etapas’ sequer das fases de comportamento, quanto mais do letramento. A escola não deve retardar, nem acelerar; mas regular o processo de desenvolvimento da criança, com base na ciência e nas experiências positivas.

    • Andreia Mendes disse:

      Parabéns aos participantes desses comentários. Me acrescentou mto ler o q pensam. Sou professora da EI tbm e acredito q o objetivo principal da luta na educação seja valorizar e garantir q as crianças vivam sua fase infantil sem esse massacre da escolarização antecipada. Concordo e tenho exemplos na família das negativas consequências de pular etapas… Ensinemos ludicamente num ambiente alfabetizador expkoremos as diversas linguagens brinquemos brinquemos cantemos contemos e ouvimos os recontos das crianças. .. Estudemos e exijamos nossa valorização. Deus seja convosco. Andreia- Goiânia.

  15. Juliana disse:

    Minha filha começou a ler as suas primeiras palavras antes dos quatro anos, em creche pública. Foi um processo natural ao qual eu atribuo algumas razões:
    -Sua professora não poupou esforços para promover um desenvolvimento integral da sua turma;
    -Sua professora não trabalhou – nunca – atividades xerocadas;
    -Sua sala nunca teve alfabeto nas paredes;
    -Minha filha nunca soube o que quer dizer BA-BE-BI-BO-BU;
    -A sua turma explorava a natureza ao redor diariamente;
    -As crianças trabalhavam a terra com horta e flores;
    -Atividades físicas eram amplamente estimuladas (e a estrutura da creche não deixa ninguém boquiaberto);
    -Experiências científicas despertavam a curiosidade da turma;
    -As crianças eram encorajadas a registrar (por desenho livre ou o que quer que desejassem fazer) tudo o que vivenciavam;
    -A linguagem foi trabalhada de inúmeras formas com essa turminha;
    -Livros e mais livros foram exaustivamente explorados pela professora e pelos pais das crianças (encorajados – muitas vezes “forçados” – pela professora);
    -Minha filha e as outras crianças brincaram, brincaram e brincaram muito;

    A função da linguagem escrita foi compreendida cedo por ela e isso a levou a tentar descobrir como funcionava a sua estrutura. Antes de aprender a ler, ela aprendeu a pensar. E o “pensar” extrapola a língua portuguesa e invade todas as áreas presentes em sua vida.

    • OK Juliana, você ressaltou os ganhos. Mas esquece-se de que podem haver danos, e é isto que alguns especialistas têm alertado. O mais dramático é que os danos podem levar tempo para serem visíveis.

      • Juliana disse:

        Olá Luiz, eu tentei mostrar que, apesar de ela ter aprendido a ler cedo, não houve intencionalidade de escolarização na instituição em que ela estudou. Eles privilegiaram o brincar e as outras linguagens da criança e essa forma de conduzir a educação dos pequenos permitiu que a minha criança tivesse oportunidade de descobrir por si só a linguagem escrita.
        Nem todas as crianças saíram de lá lendo, mas a creche sempre esclareceu que alfabetizar nunca foi a sua meta. Mas todas as crianças tiveram a chance de vivenciar aquela infância que a gente entende como ideal.
        A diferença foi que em toda essa vivência as professoras souberam colocar as crianças como atores sociais – essa sim é uma meta explícita da instituição – de suas próprias aprendizagens.

  16. Juliana disse:

    Hoje, olhando para trás, eu penso que a instituição valorizou as linguagens de suas crianças e a participação dos pais em suas vivências. Eu penso que isso abriu o caminho para que a minha filha seguisse o curso de seu desenvolvimento de forma natural. Até então os frutos colhidos têm sido muito bons e ela tem aproveitado a sua infância sem a preocupação de dar conta da escola, mas brincando.

  17. Entendi. E neste sentido, você tem razão, pois não havia uma política pública baseada em metas e bônus meritocrático empurrando as crianças para além de suas necessidades. Defendemos que não há uma idade certa para as aprendizagens, portanto, se elas ocorrem antes, tudo bem. Mas tentar antecipar metas arbitrárias e externas ao desenvolvimento de uma criança, não conduz a bons resultados. Penso que nisso estamos de acordo. Obrigado pelo esclarecimento. Abraço.

  18. João pedro Lopes disse:

    Bom, galera, achei excelente a discussão, então vou deixar a minha própria experiência registrada aqui, como exemplo e para avaliação. Quando eu tinha três anos, três anos e meio, eu adorava os gibis da turma da Mônica, o meu padrasto na época sempre trazia para mim um monte, e minha mão ficava lendo pra mim. Claro que ela não podia ler sempre, e eu queria que ela lesse sempre, então eu mesmo me esforcei absurdamente pra entender a linguagem, porque eu tinha muita vontade de ler as revistinhas. Daí minha mãe foi me ensinando as letras, de tanto que eu tonteava ela. Conclusão: antes de entrar para o CA, eu já sabia ler com alguma fluência. Detalhe, eu me lembro perfeitamente disso (hoje eu tenho 25 anos). Porém, de fato, hoje sinto as consequências dessa alfabetização precoce: tenho problemas de coordenação motora e minha letra é horrorosa. Outro fato que observo é que,no meu caso,essa antecipação do aprendizado de um código tão complexo como a escrita, desencadeou também todo um conjunto de características psicológicas. Desde cedo, eu mantive uma postura muito crítica e cética em relação ao mundo que eu ia enxergando. Não sei se dá pra se estabelecer relação entre uma coisa e outra, mas é bem possível. Como exemplo, posso colocar que antes mesmo de eu ter feito meu primeiro pensamento acerca do “divino”, eu já sabia ler, ou seja, meu cérebro já tinha uma característica “mais adulta” do ponto de vista neural; então é bastante lógico assumir que nesse momento eu tenha feito uma valoração mais crítica sobre esse conceito, em comparação com outras crianças, o que talvez explique o fato de eu ser ateísta desde que me entendo por gente, e também de nunca ter tido fé. Pura suposição, fruto da minha auto-observação, mas talvez valha a reflexão.

  19. Pingback: Sobre o ensino acadêmico precoce | Reminiscências

  20. Cristiana Fernandes Cota disse:

    Infelizmente, o pedagogo está sendo obrigado a antecipar a alfabetização na educação infantil.

  21. laura montes da slva disse:

    conheço uma professora que na instituição em que ela trabalha, as crianças não podem brincar,
    ela é obrigada indiretamente a alfabetiza-los, para que a escola tenha méritos, isso é um absurdo, a criança precisa ser criança, é brincando que também se aprende.

  22. jaquelinede melo carvalho disse:

    engraçado da maioria dos comentários, primeira pergunta vcs tem filhos? segunda: qual o nivel de suas profissões? se alfabetizaram com que idade? acho que definir a capacidade de uma criança pela idade é estúpida e inconsequente,pois se hoje somos o pais decaído é pq somos um pais que uma criança de seis anos não pode ler e nem escrever porque é crime.

    • Marcia Frederico disse:

      Nao julgo ser crime, e acho que a crianca pode aprender aos cinco ou seis anos, só que não deve queimar etapas e se deve respeitar a sua infancia e seu processo individual..Deve se pensar na seguranca emocional dessas criancas.Sou estagiária em pedagogia numa escola particular e lá vejo criancas com 4 .5. anos alfabetizadas mas imaturas emocionalmente,estressadas e sem conhecer sua própria identidade.As vezes algumas delas de 5 ou 6 anos se assentam em meu colo pedindo carinho.Oque na verdade querem e expressar com isso que querem mesmo e serem criancas. E não serem tomadas de tanta responsabilidade.

  23. Marcia Frederico disse:

    Meu filho teve acesso ao alfabeto aos dois anos no computador e aos quatro sabia ler mas nunca forcei a escrita, aconteceu naturalmente aos seis anos na escola. Isso partiu dele. Mas não se socializou com as crianças de sua idade.Sempre buscou amizade que crianças maiores.Por um lado seu cognitivo teve estímulos.Mas o seu desenvolvimento emocional ficou abalado.Não sabe lidar com frustações aos 14 anos, não se socializa bem com as pessoas, egocêntrico as vezes.Tem dificuldades em matemática pois não sabe formular hipóteses pois não brincou na sua infância.
    Hoje quero preservar minha filha de tres anos de escolas ou situações que não respeitam sua infância, pois acredito que criança pode aprender brincando.

  24. cristina disse:

    Concordo com a Michelli. Fui obrigada a colocar minha filha na escola aos 3 anos e meio. Agora ela esta no pré, e ainda não consegue identificar as letras do alfabeto sempre às confunde e as vezes não sabe que letra é. Sei que ela tem potencial para mais pois é muito inteligente. Quero ensina-lá em casa e ela diz que não é pra aprender as letras ainda. Que incentivo é esse? Sei que sou privada de seu convívio a dois anos para ir a escola brincar na areia todos os dias e aprender palavrões e mau comportamento dos coleguinhas.O país futuramente será de analfabetos que permitem a roubalheira dos governantes em troca de bolsa família!

  25. Aline Andrade disse:

    Por essas e outras sou a favor da educação domiciliar, nos moldes preconizados pelo ilustre prof norte americano, John Holt.

  26. Beatriz e Larissa disse:

    A educação infantil é caracterizada pela díade educação e cuidado, sendo que estes são indissociáveis.
    Considerando que antes de ser aluno, o sujeito é uma criança, cidadã, que segundo o ECA, tem direito, dentre tantos outros, à educação gratuita e ao lazer infantil (Princípio VII), o brincar ganha centralidade nas práticas pedagógicas dessa etapa da educação básica.
    Portanto, a pré-escola não está apenas no âmbito do cuidado, mas também do educativo quando introduz as crianças em ambientes social, emocional e culturalmente diversos, incentivando a cultura de pares por meio do brincar, são ampliados os conhecimentos e vivências daqueles sujeitos.
    De acordo com Neves, Gouvêa e Castanheira (2011), na educação infantil e no ensino fundamental o letramento e a brincadeira são essenciais e centrais na prática pedagógica, no entanto, em cada segmento há diferenças na forma em que eles procedem, pois, enquanto na EI, as relações solidárias, a cultura de pares e os grupos de aprendizagem são o centro da educação, no EF, a lógica é individual.
    Ainda de acordo com os autores, existe uma cisão entre as práticas pedagógicas da educação infantil e do ensino fundamental. O brincar passa a não ser mais considerado como educativo, mas apenas como um momento de recreio, os sujeitos não são chamados mais de crianças, mas de alunos, e as práticas educativas “organizaram-se em torno da repetição de atividades de treino psicomotor, tomadas como pré-requisitos para a apropriação do sistema de escrita” (p. 138).
    Entendemos que a solução desse hiato entre estas duas etapas da educação básica não é antecipar a escolarização, pois como foi apresentado na publicação acima “nenhuma pesquisa registra ganhos a longo prazo com aprender a ler na pré-escola”, mas a solução está em prolongar as práticas pedagógicas que valorizam a cultura de pares, que consideram o brincar como fundamental para a educação, sobretudo dos sujeitos do ensino fundamental, os quais ainda são crianças.
    De acordo com Clementino e Oliveira (2017)
    […] a escola não pode ser parcial, meramente de instrução, mas deve oferecer à criança oportunidades completas de vida, abrangendo formação de hábitos de conviver e participar em uma sociedade democrática (p. 101).

    Por isso, entendemos que antecipar a educação é um crime duplo, pois atinge as crianças e seu desenvolvimento ao mesmo tempo que modifica a especificidade de cada etapa da educação básica, uma vez que a EI é regida pelo cuidado e educação e não uma preparação para o ingresso no EF, pois este último, de acordo com Brasil apud Gracindo (2010), caracteriza-se por ser uma prática social que “visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, tanto para o exercício da cidadania como para sua inserção qualificada no trabalho”.

    Referências Bibliográficas:

    CLEMENTINO, Ana Maria; OLIVEIRA, Dalila Andrade. Novos sujeitos docentes e suas condições de trabalho: uma comparação entre o Programa Escola Integrada e o Projeto Educação em Tempo Integral. Em Aberto, Brasília, v. 30, n. 99, p. 99­113, maio./ago. 2017.

    GRACINDO, R.V. Ensino fundamental. In:OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CDROM

    NEVES, V. F. A.; GOUVÊA, M. C. S.; CASTANHEIRA, M. L. A passagem da educação infantil para o ensino fundamental: tensões contemporâneas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, 220p. 121­140, jan./abr. 2011

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