Seminário Unibanco: a reunião do “clube” – final

Todos sabem das restrições que fazemos a exames do tipo PISA conduzido pela OCDE. É um exame que tem a finalidade de constranger os países a internacionalizarem sua política educacional na ótica das reformas empresariais.

Sendo o PISA um instrumento destas reformas é curioso que o Seminário Unibanco passe em branco e não tenha apresentado o resultado do PISA para os países que ele considera modelo: Australia, Ontário no Canadá e Inglaterra.

Note que os Estados Unidos desapareceram de cena. Isso se deve a que, hoje, toda a política dos reformadores empresariais neste pais encontra-se desmascarada e com farta literatura cientifica que mostra seu fracasso. Não é prudente que ele figure, portanto, mesmo que as receitas encontradas nos países considerados agora modelo, não difiram, em essência, daquelas praticadas nos últimos 30 anos pelos Estados Unidos. O Chile também foi discretamente citado no Seminário.

Mas o que tem a Austrália que interesse aos reformadores brasileiros? A forma de implantar (e gerir) a base nacional comum e a plataforma de controle de desempenho dos estudantes. Elas servem para criar o ambiente que a Secretaria de Educação Básica e o INEP precisam para, a primeira, fazer a base nacional comum e, o segundo, fazer a plataforma de devolutivas. Sendo este o objetivo, os resultados no PISA não interessam. Mas, qual é o desempenho da Australia no principal termômetro dos próprios reformadores empresariais, o conhecido PISA?

Uma comparação entre o primeiro exame feito por aquele pais no PISA de 2000 e o ano de 2012, mostra a situação:

  1. Em 2000, em leitura, a nota era 529. Em 2012 a nota é 512.
  2. Em 2003, no primeiro exame de matemática, a nota era 524. Em 2012 é 504.
  3. Em 2006, no primeiro exame de ciências, a nota era 527. Em 2012 é 521.

Para ver um gráfico destes valores clique aqui.

Sobre Ontário no Canadá pode-se verificar que em matemática houve queda no desempenho dos alunos no PISA. Em 2003 a nota era 530 e em 2012 foi 514. Em relação a leitura e ciências, a descrição abaixo, feita no relatório do PISA, é eloquente, ao se referir ao Canadá como um todo:

“Embora o desempenho da leitura não se alterou significativamente para o Canadá entre 2000 e 2012, diminuiu em Prince Edward Island, Quebec, Manitoba, Saskatchewan e Alberta. As quedas variaram de 16 pontos em Quebec a 34 em Manitoba. O desempenho na leitura não se alterou significativamente no restante das províncias (ver Anexo B.2.13).”

Em Ontario, especificamente, sendo generosos, podemos dizer que não há progressos pois em 2000 a pontuação em leitura era de 533 e em 2012 é de 528.  Em ciências, no Canadá temos:

“Para as ciências, o desempenho diminuiu entre 2006 e 2012 em Newfoundland and Labrador (-11), Prince Edward Island (-18), Quebec (-15), e Manitoba (-21), e manteve-se inalterada nas seis restantes províncias (ver Anexo B.2.14).”

Em Ontario, especificamente, novamente sendo generosos, podemos dizer que não há progresso, pois em 2006 a pontuação em ciências era de 537, em 2009 foi de 531 e em 2012 é de 527.

Resta uma esperança: qual o PISA da Inglaterra?

A performance da Inglaterra em matemática permaneceu estável desde 2006. (…) O desempenho da Inglaterra em ciências tem-se mantido estável desde 2006. (…) O desempenho da Inglaterra em leitura no PISA 2012, como em 2009 e 2006, não foi significativamente diferente da média da OCDE.”

Uma reportagem da BBC resume tudo:

O Reino Unido está ficando para trás dos seus concorrentes globais nos testes internacionais com jovens de 15 anos, ficando atrás dos 20 melhores em matemática, leitura e ciências. O Secretário de Educação da Inglaterra Michael Gove diz que desde 1990, o desempenho nos testes têm estado “no melhor dos casos, estagnados, e no pior dos casos, em declínio.”

Em que está o Unibanco interessado no caso da Inglaterra?

“A partir de 2010, ganharam impulso as chamadas escolas Livres (“Free Schools”), criadas por grupos comunitários de forma autônoma, como forma de responder às demandas locais.”

Além disso, em matéria de desregulamentação há que se lembrar que as políticas neoliberais têm como berço privilegiado a própria Inglaterra de Margareth Tatcher.

Concluindo, apesar do barulho do Seminário do Unibanco, os números acima não correspondem a todo o ruído feito em torno do nome dos países que o Seminário considera que são um farol para o Brasil. Renegar a meca dos reformadores empresariais, os Estados Unidos, substituindo-o por países menos conhecidos e pesquisados, não melhorará a situação destas políticas. Elas são velhas conhecidas. Os números continuam não sendo bons tanto na matriz como nas filiais…

Caso queira acessar o material do Seminário Unibanco na Folha de São Paulo clique aqui.

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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