Está em voga nos Estados Unidos, juntamente com a visão punitivista que domina vários setores, submeter as escolas a processos de terceirização por organizações que utilizam modelos “quase-militares” de escola. No Brasil a prática já se encontra instalada, por exemplo, em Goiás e recentemente foi defendida por Bolsonaro.
Nos Estados Unidos são conhecidas como modelos “no-excuses”, “sem desculpas”. As práticas usadas por tais escolas são draconianas. Recentemente, um relatório foi publicado tentando mostrar a eficácia de tais escolas de organização “quase-militares”. O relatório “Charter Schools and the Achievement Gap” escrito por Sarah Cohodes do Teachers College (Columbia University) e publicado na revista “The Future of Children”, associada à Universidade de Princeton e ao Brookings Institution pode ser baixado aqui. Ele advoga a replicação de tais práticas inclusive para as escolas publicas e não apenas para as terceirizadas. O National Education for Policy Center fez a revisão deste relatório e derrubou sua consistência metodológica.
A revisão descreve uma escola onde 93% dos estudantes são afro descendentes onde o silêncio é requerido no ônibus escolar, inclusive nas reuniões da escola, nos 10 minutos finais do almoço e se isso não é atendido no dia seguinte o estudante tem que ficar em silêncio durante todo o almoço. Na Philadelphia, os estudantes possuem um cartão no qual são registradas as infrações e se elas chegam a seis, o aluno fica detido por três horas.
Porto Rico que está privatizando por terceirização centenas de escolas debate este relatório que recentemente procurou defender a maior eficácia destas “charters no-excuses”. Veja aqui repercussão em Porto Rico. Para Dianne Ravitch, este modelo de organização escolar foi criado para escolas com populações pobres e crianças negras e são equivalentes a um modelo educacional neocolonial.
A revisão do NEPC feita por A. Chris Torres, da Michigan State University e Joanne W. Golann, da Vanderbilt University conclui que:
“Em primeiro lugar, as recomendações do relatório baseiam-se exclusivamente no sucesso acadêmico dessas escolas, que alguns acreditam ter desvantagens reais. Em particular, o relatório não aborda a controvérsia sobre o uso de métodos disciplinares severos. Práticas disciplinares da abordagem “no excuses” podem contribuir para altas taxas de exclusão por disciplina (por exemplo, suspensões que tiram os alunos da escola) e podem não ser compatíveis com uma definição ampla do que seja sucesso do aluno.
Em segundo lugar, a recomendação de que as escolas repliquem práticas tipo “no-excuses” levanta a questão sobre quais praticas exatamente deve ser replicadas. A recomendação de replicação não confronta a falta de pesquisa que permita indicar quais práticas escolares são eficazes para melhorar o desempenho dos alunos.
Terceiro, o relatório não aborda muitos dos fatores subjacentes que permitiriam que as escolas “no-excuses” e suas práticas sejam bem sucedidas, como recursos adicionais, professores, alunos e famílias dispostos e capazes de seguir as práticas rigorosas dessas escolas.
Assim, os professores Torres e Golann concluem que, embora o relatório tenha nuances em sua revisão dos impactos das escolas charters, ele não tem esse mesmo cuidado em extrair suas conclusões – diminuindo muito a utilidade do relatório.”