Carolina Filho e Pedro Oliveira membros do Coletivo Quinze de Outubro e que trabalham na rede estadual de educação de São Paulo refletem sobre as pressões para o retorno às aulas em meio ao agravamento da pandemia. Dizem:
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“Com apenas duas semanas de aulas presenciais já pudemos perceber o aparecimento de casos em diversas unidades de ensino e, assim, percebemos que mesmo se considerarmos só as escolas, a medida já estaria profundamente equivocada. Em Campinas, desde a retomada precipitada das aulas presenciais chegam relatos diários de novos casos suspeitos ou confirmados de Covid nas escolas, que já atingiam cerca de 20 unidades escolares em 19 de fevereiro. Esses casos somente em parte foram veiculados pela imprensa. A maioria dos casos foram revelados por denúncias anônimas de professores e funcionários dado o esforço de muitas direções de escolas e diretorias de ensino em esconder os casos confirmados e suspeitos de Covid-19. Querem passar uma ideia de normalidade para que as escolas permaneçam abertas, a despeito da contaminação e proliferação da doença. Professores e funcionários estão sendo coagidos a não divulgar possíveis contaminações ou riscos de contaminação a que estão sendo submetidos. Também em 19 de fevereiro dados do Plano São Paulo indicavam a ocupação 97,20% dos leitos SUS municipal de UTI-Covid, o que torna ainda mais preocupante os “esforços” de subnotificação e minimização da gravidade da pandemia. É bem possível que o número de escolas com casos confirmados ou suspeitos de Covid possa ser (e se tornar) muito maior.
Entretanto, as repercussões negativas do retorno precipitado das aulas presenciais afetam não só aqueles que estão indo de forma obrigatória ou facultativa às escolas. O incentivo à maior circulação de pessoas em um momento no qual as médias móveis de mortes por Covid-19 estão altíssimas (acima de mil mortes diárias no país) ao mesmo tempo em que começam a se espalhar variantes mais contagiosas do vírus da Covid-19, custará muito caro à população do estado de São Paulo. Em meados de fevereiro já foi possível acompanhar diversas cidades com sistema de saúde colapsados. Situações muito tristes, em que chegamos devido à atuação de autoridades públicas irresponsáveis ou genocidas. Com a imposição do retorno às aulas presenciais, Doria e Rossieli entram para o grupo dos políticos que contribuíram para o agravamento da pandemia.
A Resolução SEDUC nº11 de 26 de janeiro de 2021, que dispõe sobre as orientações para retomada das aulas na rede básica de ensino paulista, lamentavelmente prioriza a manutenção das escolas abertas a qualquer custo, independente da gravidade da pandemia naquela localidade e das confirmações e suspeitas de novos casos de infecções na própria unidade escolar. Apesar da Resolução já ser flexível e pouco rigorosa para evitar a disseminação da pandemia, temos recebido diversos relatos de abafamento dos casos pelas Diretorias de Ensino e de pressão para manter as aulas normalmente mesmo quando há mais de um caso de contaminação confirmado dentro do quadro de profissionais e alunos. A postura do governo estadual atenta contra a vida deliberadamente.
Nossa prioridade número zero tem que continuar a ser salvar vidas. Não podemos aceitar que se banalize a morte. Temos milhares e milhares de brasileiros e paulistas que perderam a vida em função do descontrole da pandemia no país. São dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Isso deve ser motivo de indignação e um imperativo ético para agirmos em defesa da vida. A volta às aulas presenciais é urgente e necessária e, para isso, a garantia de condições efetivas de segurança sanitária é um pré-requisito. Por isso, defendemos a suspensão imediata das atividades presenciais nas escolas e que só sejam retomadas quando tivermos uma cobertura vacinal de toda a população contra a Covid-19 consolidada.”
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Sem contar que este retorno não tem resolvido absolutamente nada no que diz respeito à aprendizagem dos alunos que estão tendo aulas presenciais, pois isso ocorre de maneira escalonada e os professores estão sendo orientados a reprisar os conteúdos todas as semanas para atender todos os alunos, cuja única atividade escolar que estão desenvolvendo, em muitos casos, é apenas frequentar a escola uma semana por mês. Nas escolas, acabam se aglomerando em pequenos ambientes onde há equipamentos eletrônicos para assistirem às aulas dos professores que se encontram em trabalho remoto, por pertencerem ao grupo de risco. Os celulares que sempre foram um grande problema para os docentes, pois não conseguiam dar aulas em razão de os alunos ficarem nos aparelhos, continuam não contribuindo para melhorar essa relação. Agora que os estudantes precisam estar com celular para aulas remotas, quando estão em regime presencial nas escolas, não os levam, e acabam acessando as aulas de modo precário, ou compartilhando celulares e monitores de computador. Se com o escalonamento da rede estadual, o número de contágio vem aumentando, imagine quando tirarem o escalonamento… Na rede municipal, com os pequenos, a situação é ainda mais grave. Muito, muito triste e perigoso tudo isso. Precisamos de Vacinas Já!