São Paulo: perdendo o rumo novamente

Postado originalmente na Uol em 7/05/2011

Não demorou muito. As falas do Secretário de Educação de SP apontavam para um bom começo de gestão. Notícia de hoje (7-05-2011) dá conta de que o Estado de São Paulo volta à velha trilha do PSDB que conhecemos. Agora mais sofisticado apenas. O Estado – com recursos que serão desembolsados por um pool de ONGs e Fundações como Fundação Bradesco, Lemann, Victor Civita, Itaú Social, Educar, Instituto Unibanco e Instituto Natura) – contratou a McKinsey para colocar o Estado entre os 25 melhores sistemas do mundo até 2030. Este conjunto de entidades agora integra um comitê de acompanhamento de ações da pasta.

São estas fundações e ONGs, de fato, que irão definir a política educacional e seus meios. Nos Estados Unidos, quem define a agenda do Ministério da Educação são as fundações (Bill Gates, Fordham, Walton, etc.) – a poder de dinheiro. Aqui não é diferente.

Este é o modelo que vai proliferar: uma articulação entre iniciativa privada recheada de ONGs e Fundações igualmente apoiadas pela iniciativa privada, indústria da avaliação (para fazer exames e calcular os rankings) e indústria da tutoria (para os pobres que não aprendem), mídia e a ação do Estado. O modelo vem dos Estados Unidos onde este grupo era conhecido como Business Roundtable.

Aqui, o mesmo problema de sempre: a confusão entre boa educação e notas altas em testes. Para os políticos, o que importa é que as notas sejam altas e eles possam alardear nas eleições que o país subiu nos rankings nacionais e internacionais. Mas nota alta em duas disciplinas não resume a vida da escola. É inacreditável que ainda continuemos achando que tirar nota boa em português e matemática seja sinônimo de boa educação. Caso não tenham notado, a última edição do PISA já colocou os Estados brasileiros em disputa por qual deles está melhor no PISA. Nesta última edição foi o Distrito Federal. Esta disputa agora vai ampliar-se.

Coisa só do PSDB? Aguardem. Nossa presidenta já avisou que quer o Brasil em outra posição nos rankings. Não acho que a solução será diferente. Os políticos têm pressa, e a boa educação que eles não implementaram há uma década atrás, pelo menos, valendo para todos os partidos políticos que ocuparam os governos, agora vai virar corrida para nota alta em rankings. Uma espécie de “race to the top” do Obama nos Estados Unidos. Cada governador e prefeito vai estar nesta corrida baseada em “gerencialismo educacional”. A velha crença de que se mudarmos a gestão e introduzirmos tecnologia, a educação melhora. Isso vem desde 1970 e é retomado a cada certo tempo. Agora, a situação tende a ficar mais grave pois a educação vai ser gerenciada sob a lógica dos negócios, do mercado, das inúmeras McKinseys. Estaremos assistindo em breve, os últimos momentos de um sistema público estatal de educação. Com a ajuda do eufemismo “público não estatal”, os contratos de gestão serão o próximo passo. A indústria educacional está salivando…McKensey na cabeça em São Paulo, OCDE em Santa Catarina.

Infelizmente, vamos ter mais uma década perdida em São Paulo, tempo mínimo que esta aliança ONGs, Fundações, Iniciativa Privada, Estado vai levar – não somente em São Paulo. Nas eleições veremos o PT reclamar disto ou daquilo, mas não haverá – na prática – diferença nas ações. O PNE que o diga.

Enquanto isso, nossas Faculdades de Educação, nossas centrais sindicais e entidades educacionais continuam em “berço esplêndido”…

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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