Postado originalmente na Uol em 30/01/2011
Não são só os liberais brasileiros. Os conservadores ingleses (mesmo partido de M. Tatcher, lembram-se…) estão copiando a ideia de “charter School” de New York. O Governo Cameron e seu Ministro de Educação Michael Gove assumiram esta proposta como parte significativa de sua política educacional. Oito escolas já foram autorizadas e há mais de 250 pedidos em exame na Inglaterra.
Nem mesmo a decisão do Congresso dos Liberais-Democratas, membro da coalisão com os conservadores, de não apoiar a privatização via “charter schools” – numa decisão surpreendente – conseguiu barrar a ideia. “Alunos não são latas de feijão” – disse um dos participantes do Congresso contrários à reforma.
Na Inglaterra, as “escolas charter” vão se chamar “escolas livres ou independentes”. O governo pretende dar um novo impulso às escolas livres mesmo depois de meses em que a política está sob ataque dos sindicatos e dos parceiros da coalizão os liberais-democratas.
Mais de 400 pais, professores e instituições de caridade participam neste fim de semana (29-01-2011) de uma conferência sobre as escolas livres que serão abordados por especialistas os EUA, onde as escolas charter educam mais de 1 milhão de crianças.
A conferência inclui o ex-secretário de educação municipal de New York Joel Klein, defensor do movimento que tem inspirado as reformas de Gove.
Segundo o Jornal Guardian o governo deu aprovação inicial a 35 grupos.
As escolas livres têm enfrentado forte oposição dos sindicatos, que acusou os apoiadores de uma escola livre em Wandsworth de definir a sua área de influência de forma a excluir as crianças mais pobres. Os membros do partido liberal-democra votaram contra as escolas livres porque argumentam que isso alimentará o “risco crescente de divisão social e de desigualdade”. Os sindicatos partilham preocupações de que a criação das novas escolas vai levar a um sistema dualista de ensino.
Gove disse ontem:
“Sim, há adversários, pessoas que tentam parar isso. Dessa forma é muito importante que os reformadores de toda parte e em todos os países conversem entre si.”
Ainda segundo o Guardian, “Fazendo eco destas preocupações, Baker” – outro conferencista do Seminário de hoje – “disse que era muito mais difícil demitir um professor por falta, em uma escola pública.
“É preciso uma quantidade enorme de esforço para se livrar de um professor ineficaz [na rede pública]. As Charter Schools têm contratos anuais, não existe tal coisa como estabilidade. Algumas pessoas estão dispostas a trocá-la pela oportunidade de fazer parte do planejamento, que faz parte do processo colaborativo. Nossos professores não têm de ser sindicalizados…”.
Para o Gardian, os resultados das escolas charters americanas têm sido mistos pois há estudos que apontam, em alguns casos, atuação melhor das escolas públicas frente as charters, mas também há pesquisas que dizem que as crianças mais pobres e imigrantes vão melhor em escolas charters.
O leitor deste Blog tem acesso a este e outros estudos em postagens anteriores. De fato a situação dessas escolas é pior do que a divulgada pelo Guardian: em 10 dos 16 Estados americanos com escolas charter avaliados, elas são piores ou iguais às escolas públicas. Os estudos que apontam melhoria para as crianças pobres são igualmente controversos e dependem da disciplina considerada. Às vezes vão melhor em leitura, mas não tão bem em matemática.
Independentemente, da questão de ser ou não melhor que as escolas públicas, há a questão dos objetivos educacionais e da concepção de educação que estas reformas veiculam. Temos que discutir o que significa ser uma “escola bem sucedida”.
Leia matéria completa (inglês) em:
http://www.guardian.co.uk/education/2011/jan/29/free-schools-approved