Cair de pé Presidenta

Há algum tempo, por ocasião das últimas eleições, escrevi que se do ponto de vista político não era tão bom com Dilma, seria pior sem ela. Continuo achando o mesmo. O dia seguinte da saída de Dilma, que parece cada vez mais próximo, será marcado por decisões de um arco de alianças entre conservadores e liberais que jogará a educação nas mãos das ideias dos reformadores empresariais, nas mãos do mercado. E não só a educação, é claro.

Dilma está espremida entre seus compromissos originais com a agenda eleitoral e as pressões para que faça a agenda liberal, incluído aí o cerco dos empresários e banqueiros e seus arautos na mídia. Na medida em que acena para os conservadores, vai perdendo o próprio apoio dos progressistas. Acreditar que terá apoio de todos mesmo realizando a agenda liberal-conservadora é acreditar em papai noel.

O papel do PMDB na desarticulação do governo é visível. O Congresso virou um agente de desgoverno e desestabilização nacional a serviço do impeachment “a la Paraguai”. A agenda liberal se executada por Dilma retirará exatamente o apoio dos progressistas e não trará apoio dos liberais e conservadores. Acharão outros motivos para não apoiar. Dilma não vai conseguir fazer nem uma agenda e nem outra, porque na realidade isso é apenas uma injunção criada para retirá-la da presidência, a qualquer preço.

Penso, portanto, que só há uma saída: ser coerente com o pensamento que a elegeu. É secundário se ela continuará ou não na presidência. Na história, ela não terá sido a única a ter enfrentado injunções como esta, e ter caído de pé. A responsabilidade, de retirar uma presidenta eleita por manobras ditas “constitucionais”, deve ser assumida perante a história por quem a retirar de lá. A história vai examinar as ações de cada um dos atores como faz agora com as ações tomadas durante a ditadura. Pode-se enganar através da mídia, hoje, como também se fez na ditadura, ontem, mas não se poderá enganar amanhã a história, como a ditadura não consegue também fazer hoje.

Portanto, cair de pé é melhor do que tentar segurar o mandato descaracterizando-o e apanhando agora de todos e depois da própria história.

Compete às forças que se alinham com o projeto original de Dilma, dar a ela todo o apoio possível na realização deste projeto, independentemente de ela ser ou não deposta.

Esta janela de progresso social que agora pode ser fechada, voltará a ser aberta pela ação daqueles que serão cada vez mais atingidos pelas próprias medidas da “nova aliança” conservadora – a segunda onda neoliberal latino-americana.

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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9 Responses to Cair de pé Presidenta

  1. Avatar de Benigna Villas Boas Benigna Villas Boas disse:

    Excelente análise.

  2. Avatar de M. Estela S. Betini M. Estela S. Betini disse:

    Concordo com a análise clara e objetiva do Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas. Precisamos ter a honestidade de assumir que não estamos no caminho que gostaríamos de estar, mas não podemos compactuar com um golpe conservador. Está faltando ações políticas e não de gestão. Políticas que mostrem em que canoa estamos navegando, trocar toda hora de barco não ajuda a presidente a se manter, pois como disse o professor, a manutenção do poder é o menos importante.

  3. Avatar de Nisia Maria da Silva Neto Nisia Maria da Silva Neto disse:

    Professor Luiz Carlos Freitas! Admiro sempre suas análises, muito já li do que vc escreveu. Não estou apta para comentários tão profundos e quero deixar claro que luto sempre pela Democracia. No entanto quero perguntar? 1. Dilma está cumprindo suas promessas de campanha? 2. O PT roubando descaradamente e a dupla Lula/Dilm, sem saber? 3. É possível piorar mais a Educação? 4. Nosso país não está à deriva?

  4. Avatar de Amanda Amanda disse:

    Muito bom o texto. Precisamos pensar no contexto e na necessidade que o pensamento está respondendo.

  5. Avatar de Geraldo Antonio Betini Geraldo Antonio Betini disse:

    Ótima análise contribuindo para se entender melhor a situaçao em que está o país. Um educador com uma visão dialética, tem elementos para uma análise política da realidade.Parabéns!

  6. Avatar de Josenir Josenir disse:

    Concordo com o senhor professor. É necessário manter a coerência com o projeto que a elegeu. Não será assumindo o programa de Aécio Neves que Dilma construirá as condições para sair da crise gerada pela adoção de uma agenda liberal

  7. Avatar de Sônia Aranha Sônia Aranha disse:

    Cair de pé certamente é melhor do que sentada, porém não há, a meu ver, nenhuma possibilidade de cair. A democracia está em jogo. Espero que a esquerda (que sempre tem o rei na barriga e , portanto,não negocia ) entenda que o contexto mundial é de crise do capitalismo e que temos um golpe a espreita. O apoio ao Governo Dilma neste momento histórico (ressalto .. neste momento) deve ser incondicional e sem abrir a menor possibilidade de queda, de pé ou sentada.

    • A questão é não deixar de cair, negociando o programa. Não cair, mas perder o programa, não é solução. Isso posto, também acho que não deveria cair nem em pé e nem sentada. No entanto, não é o que estamos vendo… o programa está indo pelo ralo.

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