NYC: desenvolvimento sustentável de escolas

Em tempos de reforma empresarial que busca impressionar apresentando resultados rápidos para criar um mercado educacional baseado na competição e pressão sobre as escolas e sua comunidade, é interessante colocar atenção neste estudo que é divulgado pelo National Education Policy Center, no Colorado (USA).

Políticas que visam criar desenvolvimento sustentável em escolas que enfrentam problemas, procurando transformá-las em escolas com mais qualidade, estão sendo testadas em um projeto que tem por objetivo oferecer uma alternativa às falsas promessas de impulsionar rapidamente as médias das escolas, e propõe uma perspectiva diferente: crescer continuamente e de forma sustentável.

A política da reforma empresarial, quando apresenta algum resultado, o faz por pressionar o aumento da média de desempenho das escolas (em algumas disciplinas avaliadas) o que já se sabe, não é sinônimo de boa educação. Como diz o release do NEPC:

“Parte do desafio em melhorar os resultados educacionais é que fatores de fora da escola devem, provavelmente, impactar o dobro na variação dos resultados dos alunos, do que os fatores de dentro do sistema escolar. A abordagem conhecida como “escola-comunidade”, como as da Cidade de Nova York, tenta abordar as necessidades acadêmicas, sociais, emocionais e de saúde das crianças, bem como a capacidade de atender a essas necessidades sistematicamente em comunidades de pobreza concentrada. Eles fazem isso envolvendo organizações externas e as famílias, criando parcerias que fornecem serviços e programas para os estudantes, professores, funcionários da escola e líderes.

Os autores explicam que a mudança complexa leva tempo. A evidência e a lógica nos diz que deve haver uma defasagem entre o início de um programa e a verificação de seus resultados mensuráveis. Nos primeiros três a quatro anos, as escolas geralmente atingem unicamente uma implementação parcial, e a implementação plena leva entre cinco e 10 anos.

Dada a necessidade urgente de melhoria educacional, uma mudança mais rápida é desejável. Mas muitas tentativas atuais de promover uma “virada” nas escolas, para mostrar melhorias rápidas em resultados dos alunos, levaram a resultados inesperados, negativos, como a alta rotatividade dos professores, um grande número de professores inexperientes, a instabilidade administrativa, má escola e clima de sala de aula, e segregação socioeconômica.

Para os pesquisadores: “são estes passos intermediários, e não os rápidos aumentos nos resultados dos testes, que devem ser o foco dos avaliadores e dos responsáveis políticos.”

Baixe aqui o estudo original.

O estudo afirma que:

“A construção de condições e mudanças nas práticas e na cultura pode aumentar a aprendizagem do estudante o que, por sua vez, irá se refletir em seus resultados medidos mais tarde. Cada passo traz benefícios e envolve mudanças imediatas, mas cada passo também é complexo e requer tempo para ser implementado e percebido. Os professores e as lideranças da escola não podem ser integrados completamente em reformas complexas da noite para o dia; os pais e a comunidade de forma semelhante também não o farão, assumindo novos papéis em resposta a um pedido de cima para baixo, nem devem.”

Esta alternativa está disponível, mas certamente ela não servirá aos políticos sempre ávidos por mostrar quão eficiente eles são, antes de uma próxima eleição. Não servirá também para os reformadores empresariais, sempre ávidos por mostrar que se adotarmos as práticas bem sucedidas das empresas, podemos melhorar rapidamente a educação.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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Uma resposta para NYC: desenvolvimento sustentável de escolas

  1. Mariana Yuki disse:

    É inegável a necessidade de promover escolas de qualidade no Brasil e, assim como Luiz Carlos de Freitas nos chama a atenção nesse post, é necessário que uma grande atenção seja dada às propostas de reformas empresariais dentro do âmbito escolar. Essas intervenções empresariais podem ser percebidas, principalmente, na educação privada, em que a grande preocupação das escolas é promover um ensino de qualidade, porém, qualidade essa baseada em notas e rankings, da OBMEP, por exemplo, ou seja, a qualidade da educação brasileira tem sido reduzida a aprovações.
    Diante desse aspecto acima citado e da emergente preocupação com a qualidade da educação brasileira, julgamos importante pensar o “desenvolvimento sustentável” das escolas a partir de uma gestão preocupada com a comunidade escolar de maneira geral. Para isso, é importante pensarmos em uma Gestão Democrática, que, de acordo com Souza (2009, p. 126) “pode ser entendida pretensamente como um processo democrático, no qual a democracia é compreendida como princípio, posto que se tem em conta que essa é a escola financiada por todos e para atender ao interesse que é de todos; e também como método, como um processo democratizante, uma vez que a democracia é também uma ação educativa, no sentido da conformação de práticas coletivas na educação política dos sujeitos.”
    A Gestão Democrática se faz muito importante ao pensar o desenvolvimento sustentável das escolas como sendo algo relacionado ao contexto escolar dos alunos. Ou seja, de acordo com o NEPC apud Luiz Carlos de Freitas, os fatores externos à escola provavelmente impactam mais o resultado dos alunos que os atores propriamente ditos escolares, portanto, uma Gestão Democrática Social é tida como uma alternativa interessante no sentido de integrar a comunidade escolar como um todo no ambiente escolar específico.
    É importante, porém, ainda em consonância com Souza (2009), pensar em uma gestão efetivamente democrática, uma vez que, ele nos chama a atenção para a existência de diferentes conceitos de “Gestão Democrática”, que são, basicamente: Gestão Democrática Estética, em que, apesar de parecer se preocupar com a opinião da comunidade ao entorno, se baseia apenas em “quem concorda?”; Gestão Democrática Representativa, em que o desejo do representante é mantida, mesmo que a decisão dos representados seja diferente; e Gestão Democrática Social que propõe uma participação efetiva no conjunto das práticas, que como dito, seria o ideal ao se pensar uma educação sustentável como sugere o National Education Policy Center.
    Em suma,a proposta da abordagem “escola comunidade” que envolve família, contexto social dos alunos, funcionários e líderes, ou seja, a comunidade escolar de maneira geral, mencionada no post pode ser muito bem relacionada a uma Gestão Democrática Social, como desenvolve Souza (2009), em que a gestão escolar é um processo político mais vasto que tomadas de decisões, é fundamentado na comunicação, na participação de todos, na construção de direitos e deveres coletivos.

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