O ministro da educação anunciou que quer contratar professores para as universidades sem concurso e via organizações sociais. O deslocamento do financiamento para o mercado via instituições privadas – com ou sem fins lucrativos – representa uma perda de autonomia para as universidades. É privatização sim, pois o que não tem controle público, é privado. Não existe meia privatização. Essa desculpa vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
As consequências podem ser vistas neste episódio que envolveu universidades americanas e a filantropia americana. Os riscos são os mesmos ou até piores no caso de organizações sociais que farão a intermediação entre corporações do mercado e o orçamento das universidades.
Segundo o blog Inside Higher Ed “um acordo já extinto de 2008 entre Koch e a Florida State University, por exemplo, deu à fundação um papel na revisão de candidatos a docentes.” O blog também remete para outra denúncia feita por Angel Cabrera, da George Mason University:
“Angel Cabrera, presidente da universidade desde 2012, compartilhou a notícia com os membros do corpo docente em um e-mail dizendo: “Fui informado de vários acordos que foram aceitos pela universidade entre 2003 e 2011 e levantam questões sobre a influência de doadores em questões acadêmicas”. “
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Inside Higher Ed informa que, sob crítica, a “Fundação Charles Koch planeja tornar públicos seus futuros acordos plurianuais com universidades. A mudança vem depois de anos de críticas de membros do corpo docente e estudantes que afirmam que as concessões de Koch em alguns campi se desviaram das normas acadêmicas.” Mas as mudanças anunciadas pela Fundação não acalmaram as críticas, pois elas não vão atingir os acordos já realizados no passado, exatamente o foco das denúncias.
A influência dos Koch e de outros nas universidades, levou à criação de uma organização que trabalha para libertar as universidades da influência das grandes corporações chamada “UnKoch my campus”:
“A influência corrosiva do “dark money” minou as instituições democráticas dos Estados Unidos, mas não apenas em nosso sistema político. A educação, em particular o ensino superior, serve como o motor da investigação crítica e fundamento da nossa democracia. É onde os cidadãos são expostos a ideias e, por sua vez, é responsável por moldar a opinião pública, o discurso político e a política.
Os mesmos ricos doadores e corporações que têm poluído nosso sistema político por mudanças políticas egoístas voltaram seus olhos para as universidades em busca de mudanças políticas e culturais de longo prazo. Ninguém mais exemplifica esse tipo de filantropo político do que Charles Koch, CEO da Koch Industries.”
O debate passa pelo financiamento das instituições universitárias e deveria ser levado em conta no Brasil, onde o governo tem restringido o seu financiamento e no caso do “Future-se” quer a interveniência de organizações sociais. Como aponta o Blog Inside Higher Ed, citando Eric Austin:
“Como muitos outros professores nos últimos anos, Austin também expressou uma preocupação mais geral sobre a ameaça crescente para a academia de um financiador privado ideologicamente orientado, juntamente com um financiamento público dramaticamente reduzido. “Essas duas tendências em conjunto – são realmente problemáticas”.
Leia a entrevista do ministro da educação aqui.