Aldo Rebelo contesta o identitarismo

O movimento pós-moderno criou as bases para a defesa de um identitarismo que tem afastado a luta pela igualdade racial e de gênero da luta política baseada no debate sério de projetos históricos em construção. Nancy Fraser foi uma das primeiras a perceber a apropriação das lutas de igualdade racial e de gênero pelo neoliberalismo, que ela chamou de “neoliberalismo progressista”.

Para Fraser, trata-se de uma aliança entre “as principais correntes liberais dos novos movimentos sociais (feminismo, antirracismo, multiculturalismo, ambientalismo e ativistas pelos direitos LGBTQ+) com os “setores mais dinâmicos, de ponta, “simbólicos” e financeiros da economia americana.” (Posição 315.)

“Para que o projeto neoliberal triunfasse, tinha que ser reembalado, receber um apelo mais amplo e ligado a outras aspirações emancipatórias não econômicas. Somente quando adornada como progressista é que uma economia política profundamente retrógrada poderia se tornar o centro dinâmico de um novo bloco hegemônico.”(Posição 331.)

Os defensores do “neoliberalismo progressista” pretendem, com seu projeto, promover um reencontro entre as elites e os demais em um novo pacto social guiado pelo que poderíamos chamar de uma “inclusão meritocrática” que promove, igualmente, uma “exclusão meritocrática”, auto-justificada por esta mesma meritocracia. A mensagem é clara: o sistema dispõe oportunidades, não exclui, quem se exclui são as próprias pessoas que não se esforçam para aproveitar as oportunidades.

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Aldo Rebelo, na mesma direção, questiona os movimentos identitários. Para ele, o “identitarismo” é “uma criação das grandes corporações”.

“É uma permuta. As corporações, o capitalismo, o sistema financeiro transformou a luta identitária em uma ilusão de igualdade para negar a igualdade, como se fosse possível igualdade de gênero, de raça, linguística, de orientação sexual sem que esse sistema fosse alterado”, disse.

Para ele, por meio do identitarismo, o sistema capitalista faz concessões às chamadas “minorias”, desde que o próprio sistema não precise ser alterado. “Então eu sou o sistema financeiro, demito 1 milhão de trabalhadores, mulheres, negros, e apareço nos jornais e na mídia prometendo uma vaga, uma cota na direção do meu banco para negros escolarizados da alta classe média, que têm uma educação refinada. Em troca, você abdica da luta pela igualdade. O identitarismo é uma plataforma deles. É um acordo sinistro de renúncia à luta pelo direito dos negros, pobres, das mulheres, e você oferece um espaço para setores desses movimentos de classe média dentro das corporações. Em troca, você não toca no sistema”.

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Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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