A direita foi surpreendida com a decisão do governo de enfrentar os seus representantes no Congresso: Motta, Alcolumbre e companhia. Só lhe restou ocultar o conteúdo do debate – redistribuição de renda – e acusar o governo de polarização.
O governo agiu certo. Ponto programático (que foi aprovado em uma eleição) e que é obstruído no Congresso não pode ter acordo do governo sob pena de, amanhã, esta mesma direita dizer que ele é um estelionatário que não cumpre o que promete. É legítimo que a oposição bloqueie se tem força, da mesma forma que é legítimo que o governo reaja. Na verdade, tem a obrigação de reagir em nome dos que nele votaram.
Na visão de I. Wallerstein, o lugar preferido de ação do liberalismo é sempre “aparecer” como centro. Demoniza seus opositores para justificar sua utilidade como centro político emergindo como uma “direita ponderada”, ou como foi chamada recentemente pela própria direita radical: uma “direita permitida”.
A Folha de SP já assumiu este papel e abriu espaço para Campos Neto, ex-BC, dar uma entrevista onde se destaca a frase “o discurso do “nós contra eles” é ruim e não fará o pais crescer”. No entanto, todos estamos cientes, hoje, de como a riqueza se distribui em nossa sociedade capitalista: o pais cresce para quem?
Como aponta Michael Roberts (2025):
“Em um post anterior, mostrei que os países do chamado Sul Global não estão “alcançando” os países imperialistas ricos do chamado Norte Global, seja em renda per capita, produtividade ou qualquer índice de desenvolvimento humano. Ao mesmo tempo, as enormes desigualdades de renda e riqueza, entre e dentro dos países, continuam a se agravar.”
Neste momento, é fundamental que este governo diga a que veio e diga quem não o deixa cumprir seu programa. E é preciso deixar claro para a população quem de fato polariza. Uma polarização iniciada pelo congresso e por seus representantes de direita que lá habitam, é agora declarada inadequada pela mesma direita que a iniciou, na tentativa de ocupar o centro mediador e mostrar-se sensata, colocando a conta da polarização no governo.