O governador atacou as universidades paulistas porque suas Faculdades de Educação não apoiaram a ideia improvisada de reorganizar o sistema escolar do Estado de São Paulo. Bem ao estilo do que o Chefe de Gabinete do Secretário de Educação pediu que os Diretores fizessem com os alunos e professores que ocupam as escolas.
A educação paulista está sendo assediada por uma macartismo denuncista que fotografa pessoas, placas de carros, submete a pressões professores, funcionários e alunos no interior das escolas, aterroriza professores ameaçando de que não receberão salários pelo fato das escolas estarem ocupadas, corta bônus nas escolas ocupadas em ato retaliatório, pressiona pais e os joga contra os seus filhos, coloca a polícia ostensivamente na frente das escolas, quando não as utiliza para desocupar escolas e acabar com manifestações a poder de bombas de efeito moral. Há medo nas escolas, uma verdadeira máquina de aterrorizar, criada a pedido do Chefe de Gabinete do Secretário de Educação.
No caso das Universidades, o governador tem dificuldade para entender que elas têm autonomia para se manifestar e que sua principal função é exatamente exercer a crítica do seu tempo e fazer avançar o conhecimento, visando prover melhores formas de lidar com os variados problemas que afetam a vida social e a natureza.
Universidades e seus pesquisadores não são quintais do governador do Estado que devessem ter alguma fidelidade às políticas públicas dos governos, ainda que possam muito contribuir com sua formulação e sua crítica. E este é exatamente o problema existente.
Sem consultar ninguém, inclusive o sistema público de Universidades que o próprio Estado paga, preferiu ouvir consultorias privadas pagas por empresários que ofereceram a ele receitas milagrosas já fracassadas em outras plagas, para ressuscitar o moribundo sistema educacional do Estado que segundo seu próprio Secretário de Educação, é uma vergonha.
O Secretário ao proferir sentença de morte para o sistema educacional que administra, esqueceu-se apenas de que é o seu partido, o PSDB, que está no poder há mais de 20 anos no Estado e que, a vergonha que ele sente, deve-se à política traçada por este mesmo partido ao longo de sua longeva presença no poder estadual.
O governador não argumenta. Desqualifica o debate. Tudo na sua política educacional está correto: o que atrapalha são as Universidades, a APEOESP, os infiltrados, o MST, os invasores, os alunos, o Ministério Público etc. Com isso, tenta jogar uma cortina de fumaça, com ajuda da mídia, para ocultar a incompetência de sucessivas gestões tucanas. O governo apenas pede que em um “ato de fé” todos acreditem em suas boas intenções com a educação paulista, pois o que está fazendo é para “melhorar a educação”.
Ignora que está lançando uma grande confusão pelas comunidades do estado afora. Pais terão que gastar mais para que seus filhos se locomovam até as novas escolas designadas; crianças menores terão que transitar sozinhas por áreas desconhecidas e às vezes perigosas; alunos deixarão de frequentar a escola pois terão que locomover-se a maiores distâncias impedindo que saiam do trabalho e cheguem a tempo para as aulas; professores poderão ser demitidos; escolas deixarão de atender sobrecarregando outras que receberão seus alunos, aumentando o já vergonhoso número de alunos que o estado ostenta: em média 30 alunos no ensino fundamental e em média 40 no ensino médio.
A tudo isso o governador considera certo e quem estiver contra é porque é corporativista. Perde o Estado de São Paulo oportunidade de ouro para reduzir o número de alunos em sala de aula mudando de uma “média de 30 alunos” para “no máximo 30 alunos por sala”. Perde a oportunidade de, em áreas de risco e pobreza, reduzir o número de alunos em sala a 20. Para isso, precisará de mais professores e escolas e não de menos. Perde a oportunidade de ampliar as escolas para tempo integral. Perde a oportunidade de permitir que os professores tenham uma carga menor de aula e possam se aperfeiçoar e planejar melhor sua atividade.
Tudo isso, para o governador, é corporativismo. Para ele, só fazendo mais do mesmo, a educação paulista vai melhorar. Copiou a política de bônus usada na Cidade de Nova York. No ano passado, o Estado jogou pelo ralo 1 bilhão de reais em pagamento de bônus e a educação, segundo seu próprio Secretário, é uma vergonha. A Cidade de Nova York parou há tempos com esta bobagem importada da iniciativa privada, mas o Estado de São Paulo continua a jogar dinheiro no lixo.
Agora, o Estado resolveu importar a fracassada reorganização que Joel Klein realizou no início dos anos 2000 naquela cidade. Joel Klein deixou o cargo desmoralizado, pois os estudantes da Cidade de Nova York tiveram suas notas infladas para que o Departamento de Educação pudesse mostrar a eficácia de suas receitas milagrosas. Como podem as Universidades Paulistas apoiarem tal política?
Se o governador quer ser candidato em 2018 e precisa de um fato novo no moribundo sistema estadual, este não é o compromisso das universidades as quais devem ajudar aqueles que sejam bem intencionados a colocar em prática políticas públicas para as quais haja evidência empírica consistente.
A Secretaria de Educação sequer se deu ao trabalho de fazer um planejamento fundamentado em evidências que pudesse ser analisado pelas Universidades e pela comunidade em geral. Seu documento mais recente é um Decreto publicado no Diário Oficial com não mais de 20 linhas e um alegado estudo de 19 páginas mal feito e que não obteve apoio nem do Movimento Todos pela Educação, financiado pelos próprios empresários brasileiros. Mesmo este documento, precisou ser obtido pela lei de acesso à informação, compulsoriamente.
O governador está bravo pois não esperava a reação dos estudantes. Foi mal assessorado se é assim, pois as consultorias que o atendem, em especial a Mckinsey, foi quem trabalhou com Joel Klein em Nova York, e eles sabem que esta proposta ia ter resistência. Os estudantes estão dando uma grande lição ao governo. O governador conseguiu recriar o movimento estudantil no Estado. Por isso, temos que cumprimentá-lo. Depois das ocupações, a educação do Estado não será mais a mesma. Novas lideranças estão emergindo nesta luta.
Ao invés do governo Alckmin acusar as Universidades Paulistas, que o povo paulista financia, de serem “corporativas” só porque discordam das suas propostas infundadas, ele deveria aprender com elas, pois elas são mantidas com dinheiro público, e deixar de ouvir a plêiade de empresários-educadores improvisados que transitam pelos gabinetes do governo com suas ideias mirabolantes requentadas destinadas a privatizar a educação paulista e a abrir mercado.
Se há algum corporativismo aqui, ele está exatamente na atuação dos empresários alojados na educação paulista que tentam aprisiona-la e coloca-la a serviço de seus interesses privados. Isso sim, governador, é corporativismo. E ele mora ao seu lado, não é preciso procura-lo nas Universidades Paulistas.
BRAVOOOOO !!
Parabéns, Luis !!
O melhor texto sobre a crise até hoje ! Impecável !
beijo gordo, Mhelena Frem
Maravilhoso seu comentário!!! Ele é truculento e só quer sucatear a Educação paulista. É uma administração vergonhosa que não dialoga e não valoriza os profissionais das escolas, nem os pais e nem os alunos.