Governo Federal lança plataforma on line para aluno se preparar para exames do ENEM. O portal é uma parceria do MEC com o Serviço Social da Indústria (SESI), além da TV Escola, canal público do MEC. O Programa foi lançado por Dilma e Mercadante e também estiveram presentes no evento o secretário de Educação do Distrito Federal, Júlio Gregório, que representou o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, parceiras da iniciativa. Segundo o INEP:
“Os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passam a contar agora com uma ferramenta inédita e gratuita de preparação para as provas do exame. Trata-se da Plataforma Hora do Enem, lançada pelo governo federal nesta terça-feira, 5, no Palácio do Planalto. A iniciativa reúne na internet um conjunto de ações, como simulados e vídeoaulas, para auxiliar na preparação dos estudantes.”
Para Mercadante, que apresentou o programa:
“Com duas horas e meia de estudo personalizado, a partir do diagnóstico individual do estudante, a melhora do Enem é da ordem de 30%”, disse.
Segundo a descrição do INEP:
“Ao usar um computador, tablet ou celular para acessar a plataforma, o estudante marca o curso em que quer passar e quanto tempo tem para estudar por dia para o Enem. A partir desse diagnóstico, a plataforma oferece um plano de estudo com pontos fortes e fracos na medida do participante, com exercícios, resumos e videoaulas direcionados.”
O conceito de educação é reduzido, aqui, ao de sair-se bem na prova, ou seja, preparar-se para testes. Este tipo de sistema interativo com “avaliação embarcada” é o que deverá, com o tempo, também chegar às escolas. O Estado de Nova York, nos Estados Unidos, vai gastar 40 milhões de dólares para preparar um sistema deste tipo para suas escolas estaduais. O nome destas plataformas personalizadas de ensino é “competence based instruction”. Voltamos ao conceito de “livro ramificado” de Skinner, nos anos 70. Como se nota, na descrição abaixo, por aqui não será diferente.
“A plataforma Hora do Enem é um aplicativo disponível para web e android que reúne centenas de videoaulas e milhares de exercícios abrangendo toda a matriz de conteúdo do Enem. Permitirá um diagnóstico individual e um plano de estudos personalizado para cada estudante, com base no curso desejado e nas necessidades específicas. O aplicativo ainda permitirá que os gestores das redes públicas e o Ministério da Educação acompanhem o progresso dos alunos até a realização do Enem. Os dados poderão ser utilizados para aprimorar o ensino e direcionar medidas de melhoria na educação pública.”
Acesse aqui a plataforma.
Triste….muito triste.
Tenta-se replicar em nosso país o atual funcionamento das escolas públicas estadunidenses, marcado pela obsessão em aferir o desempenho acadêmico dos alunos por meio da utilização de testes padronizados de larga escala (de aplicação censitária), a ponto de comprometer a quantidade de tempo destinada à própria instrução, principalmente dos alunos desfavorecidos.
A maioria dos pesquisadores sérios (independentes) em educação já advertiram que esses testes não possuem a eficácia, a abrangência e nem a idoneidade necessárias para contemplar em toda sua complexidade as dimensões cognitivas do desenvolvimento intelectual do educando, sem falar nas igualmente relevantes dimensões não-cognitivas.
Vige no senso comum o entendimento de que os testes padronizados de aprendizagem são instrumentos científicos confiáveis, tão objetivos e precisos como um termômetro ou qualquer outro dispositivo utilizado para medições no âmbito da ciência. Nada mais ilusório. Pesquiso em minha Tese de Doutorado, no bojo do assalto à educação pública em escala global, as limitações desse tipo de avaliação discente.
A primeira limitação refere-se à abrangência do conteúdo testado. Tais tipos de testes conseguem atingir apenas uma pequena amostra de um amplo campo cognitivo, ou do conteúdo de uma determinada disciplina, a ser ministrada em uma série escolar específica. Por essa razão, a nota do aluno em um teste dessa espécie não consegue espelhar o seu nível de aprendizagem de todo o conteúdo a ser ministrado. E mais: não conseguem também mensurar as habilidades não cognitivas interpessoais , e nem as individuais, tais como a capacidades de escutar, de refletir, o controle dos impulsos, a paciência, a persistência, a empatia, a curiosidade, a criatividade, o pensamento crítico, a resiliência, a autodisciplina, a desenvoltura, as responsabilidades social e ambiental, a dimensão cívica, e outras de mesma índole e importância social. Ambos os tipos de capacidades não cognitivas, as interpessoais e as individuais, interagem com as habilidades cognitivas para o desenvolvimento integral do ser humano.
Tendo em mente que os pais desejam obter para seus filhos, das escolas, habilidades acadêmicas e conhecimentos básicos, pensamento crítico e resolução de problemas, apreciação das artes e da literatura, preparação para o emprego qualificado, habilidades sociais e ética de trabalho, cidadania e responsabilidade pela comunidade, saúde física e saúde emocional, é importante que eles saibam que, desses oito objetivos, os testes padronizados apenas começam a medir O PRIMEIRO. Todos os demais são completamente inatingíveis por meio dessa patológica obsessão por skinnerianos testes padronizados.
A maioria das pesquisas acadêmicas sobre avaliação dicente atesta que a melhor forma de se mensurar a aprendizagem dos alunos se dá pelas atividades que eles desenvolvem individual e coletivamente, em sala de aula e em casa (seja por meio de tarefas escolares ou de seus próprios projetos independentes), tais como artigos relatando alguma pesquisa, ensaios escritos (dissertações ou composições) e outras produções do gênero, e não recorrendo a testes padronizados.
Esse adestramento para testes padronizados leva ao estreitamento curricular, e ai reside A DIFERENÇA ENTRE TREINAR E EDUCAR.
Uma dos efeitos mais daninhos da instituição dos testes padronizados de larga escala como ferramenta nuclear das políticas educacionais de viés empresarial tem sido a subtração do tempo anteriormente destinado à instrução com vistas a intensificar a preparação para aqueles testes, os quais se transformaram de meio de aferição (com todas as suas limitações) do conteúdo que deveria ser ministrado em objetivo último de todo o processo de ensino-aprendizagem, seu zênite supremo. Para atingi-lo, não se mede as consequências do estreitamento curricular que tem engendrado um alunado hábil na aplicação de técnicas e “bizus” com vistas a se sair bem naqueles testes, todavia ignorante de conhecimentos básicos essenciais para a conformação de um adulto minimamente instruído para o convívio em sociedade.
Vamos conversando…..
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Eu tenho apenas uma questão àqueles que são contra os testes padronizados. Como classificar cerca de 6 milhões de alunos, considerando a logística e o número de pessoas envolvidas nas correções das avaliações? Att
Caro, João Silva. Isso depende da concepção de educação que será considerada. Dê sua sugestão!
Prezada Yuna, não acho que seja uma questão de concepção da educação, mas pura e simplesmente que temos 228mil vagas nas universidades e 7.746.057 candidatos (dados de 2016) e, o único caminho (neste contexto do ENEM) são os testes padronizados. Para mim, quando o objetivo é simplesmente classificar os examinados, os testes padronizados são o que temos de melhor, dada a larga escala, principalmente se a metodologia de elaboração e análise for a TRI. Agora, em outros contextos, tais como avaliação de sistemas educacionais (SAEB/Prova Brasil, PISA), aí sim os testes padronizados são totalmente questionáveis.
Olá professor, tudo bem?
De fato, os gastos com essas ferramentas são muito altos. O custo geral que envolve a produção do ENEM é um absurdo. Os 10% do PIB é pouco para esse tipo de escola do século XXI. Muitas ferramentas e pouca formação para os profissionais da educação. Será que temos muitos estudantes utilizando essas plataformas para investirem tanto?
Incentivei meus alunos hoje a acessarem este sistema, espero que usem..
Caro Prof. Freitas. Talvez já seja de seu conhecimento, mas a Hora do ENEM é puro merchandising. Tenho um parente que tentou se cadastrar hoje na plataforma, e existe uma parte gratuita e outra paga. Trecho: “Aos estudantes que estão se cadastrando na plataforma de estudo da Hora do Enem representada pela Geekie Games, deverão saber que algumas ferramentas de estudo são gratuitas e outras não, a Geekie Games oferece um teste de 9 dias para os alunos conhecerem a plataforma como todo. Mas, aliás, o que é gratuito e o que é pago? Essa pergunta que os estudantes estão fazendo e alguns se encontram revoltados, mas não se preocupe que iremos explicar melhor. Vale ressaltar que o aluno que está no último ano do Ensino médio matriculado em uma escola no ano de 2016 terá todos os recursos da plataforma de estudo gratuita (http://2016inscricao.com.br/a-hora-do-enem-e-gratis-ou-pago-geekiegames-geekie-com-br-horadoenem-mec-gov-br/). Como que o INEP/MEC pode divulgar um “produto” em seu site, algo com fins lucrativos. Isso para mim é inconcebível em um sistema público e gratuito.
Att.