O ministro Velez, conservador, já está no terceiro comunicado do MEC, informa a Folha de São Paulo, em sua missão de ajustar à lei suas “afoitices” ideológicas. A versão original da polêmica nota do Ministro saiu de um rompante deste, sem que o setor jurídico do MEC fosse consultado.
A versão original não só tem um slogan de campanha, o que é manifestamente ilegal inclusive pelo apelo religioso, como revela a cartilha autoritária pela qual atuam os conservadores: a imposição de seus valores aos demais em todas as áreas. Eles acham que possuem os princípios perenes da “fundação do mundo”, alguns deles deturpados pelos próprios liberais e claro, pelos socialistas.
Para incredulidade geral da nação, o Ministro queria demonstrações de que sua determinação (depois disfarçada de recomendação) havia sido cumprida, através de filmagens que deviam ser enviadas ao MEC, esquecendo-se de que as escolas de educação básica estão sob administração de estados e municípios e não do governo federal. Eis como agem os conservadores. Os liberais (e talvez até mesmo os neoliberais) ficaram vermelhos e engoliram seco. A pressão obrigou Bolsonaro a dizer ao ministro que deveria “pedir desculpas e desfazer” a solicitação.
Mas, ante o silêncio inicial do governo, coube aos estados (e ao Conselho Nacional de Secretários de Educação) bloquear a doutrinação militar pretendida pelo MEC. O Conselho Estadual de Educação de São Paulo acaba de emitir um Parecer que deveria ser lido pelo Ministro como parte de sua formação “cívica”. Cabe ao Conselho Estadual regular as normas das escolas públicas e privadas do Estado e não ao MEC.
Mas, dos conservadores devemos esperar isso mesmo. Há 200 anos ou mais que eles convertem seus valores em “carolices” cívicas, religiosas e ideológicas, que julgam iluminar o mundo. Já não entusiasmam mais ninguém, a não ser eles mesmos, em uma espécie de “auto-fragelação” pelos “descaminhos da humanidade” que devem ser contidos com a educação cívica e a obediência à “ordem natural das coisas”. Já se esqueceram dos efeitos deletérios que a ditadura militar criou na juventude quando esta foi confinada nas escolas para atender a gestos como este – bem lembrado por Hélio Schwartsman em um texto na Folha de São Paulo: Eu me orgulho de não saber o hino.
A função dos 10 minutos de glória que os conservadores (olavetes e evangélicos no governo) ganharam neste início de governo é arranjar votos para passar as reformas dos neoliberais. Já gastaram boa parte dos 10 minutos elegendo Bolsonaro e criando uma série de manobras diversionistas. Não sem consequências, são, de certa forma, os “bobos da corte” destinados aos momentos de diversão. Os liberais (de olho em 2022) assistem, pois o que interessa é a agenda econômica “o resto não tem pressa”.
Entre o pessoal ligado à educação, à medida que o tempo passa, a paciência vai acabando.