Há uma febre nos meios políticos para encontrar atalhos que levem a rápidos resultados na educação. Mede-se “qualidade” por aumento da nota em exames. A receita é antiga e procura associar testes e punições (bônus para quem aumenta a nota de aluno, treino para os testes, controle do trabalho do professor). Valorizar o professor, para esta forma de pensar, significa pagar bônus quando a nota do aluno atinge a meta. Ignorando o fato de que o aumento de médias em testes não representa automaticamente boa educação, estes atalhos deixam os políticos maravilhados – independentemente de gerarem ou não “boa educação”. Contudo, não há atalhos para a boa educação.
A ONG Bem Comum, com financiamento da Fundação Lemann, vai difundir o “modelo Sobral (CE)” em 50 municípios:
“O projeto fez tanto sucesso que se tornou modelo nacional de gestão. Agora, 50 municípios brasileiros foram escolhidos para replicar esse modelo, em uma iniciativa do Programa Educar para Valer. O programa faz parte das ações da ONG Bem Comum, patrocinada pela Fundação Lemann.”
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O conceito de “envolvimento” embutido no projeto oculta um esquema de pressão e controle sobre diretores, professores e alunos em cada sala de aula, feito por coordenadores e supervisores. Empresas educacionais e consultorias se beneficiam destas iniciativas. Um dos municípios encantados com a proposta é Vitória da Conquista na Bahia.
“Já a secretária municipal de Educação, Selma Oliveira, afirmou que os resultados positivos serão sentidos em breve, porque todos os que trabalham com o processo educacional estão muito envolvidos com a iniciativa. “Queremos avançar. Por isso, estamos alinhando nossas escolas com o projeto e reforçando o compromisso dos coordenadores e professores. Queremos o envolvimento efetivo e a participação de todos”, declarou.”
Para se entender melhor o que significa “envolvimento” veja post anterior aqui e aqui.
“O “novo” chegou nesta terça-feira (17) em Vitória da Conquista, representado pela experiência de Márcia Oliveira Cavalcante, coordenadora executiva do programa Educar para Valer, e pela força de vontade do nosso Governo Municipal em transformar a educação básica do município. Márcia traz para Conquista o case de sucesso de Sobral, a mesma terra de Belchior. Para contornar o que antes era um alto índice de analfabetismo dos alunos de escolas municipais, Sobral investiu em um novo plano de gestão, que focava em erradicar o analfabetismo, diminuir a evasão escolar e valorizar o professor.
Baseado na meritocracia, professores que apresentassem bons resultados eram valorizados financeiramente. Em 2011, foram cerca de R$ 450 mil em prêmios distribuídos para os educadores municipais. Além disso, investiu-se em educação integral e em uma gestão arrojada e efetiva. Com isso, o “novo” veio rápido: em menos de 15 anos, o número de crianças analfabetas ou alfabetizadas de forma incompleta caiu de 39% para cerca de 5%.”
O modelo do testar e punir, há trinta anos em voga, como já mostramos diversas vezes neste blog, não produziu melhor educação – mesmo quando elevou a média dos alunos com pequenos incrementos nas notas. O que se propõe agora, com Sobral, é um verdadeiro milagre e milagres em educação não são possíveis. Frequentemente, quando há saltos exagerados nas médias ou em indicadores de avaliação, pode-se encontrar procedimentos inadequados (como treino para as provas) e não raramente fraudes realizadas sob intensa pressão.
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