Postado originalmente na Uol em 16/05/2011
Esta semana(11-05-2011)estive com 400 professores no Estado de Alagoas em atividade programada pelo Sindiupes. Foi uma ação que se ligou também à greve que os professores de Vitória e outros municípios próximos estão desenvolvendo por melhores condições de trabalho. Em Vitória, os sindicalistas foram ameaçados de prisão. O evento estava destinado a discutir o Plano Nacional de Educação.
Nas discussões que se seguiram, uma questão foi bastante evidenciada: como reagir a esta onda de medidas que pretende transformar cada vez mais a educação em mercadoria? Minha opinião é que o primeiro passo é disponibilizar informações sobre como estas medidas são usualmente implantadas, a estratégia geral, pois sem isso fica difícil encontrar caminhos para o enfrentamento. A primeira fase, portanto, deve ser a de disponibilizar informações confiáveis. No Brasil, os reformadores empresariais divulgam estas idéias sem contestação, ocultando os graves problemas que as formas de privatização da educação utilizadas em outros países geraram. Em geral, tais formas de privatização (contratos de gestão, por exemplo) chegam aos países sem que tais problemas sejam abordados. São propostas a partir da crença de que onde foram utilizadas deram bons resultados.
Não é diferente com a questão do pagamento de bônus. Tais programas são alardeados em foruns internacionais e nacionais como fórmulas de sucesso. Já mostramos aqui neste blog os problemas destas abordagens.Já mostramos também aqui que os estudos de pesquisadores independentes não evidenciam melhora nos resultados dos alunos por causa de pagamento por bônus e que é muito difícil estabelecer relação entre melhoras na aprendizagem e bônus dada a complexidade dos fatores envolvidos na produção da aprendizagem nas escolas. O primeiro passo, portanto, é desmistificar estes programas trazendo ao público brasileiro os estudos que mostram os resultados.
Sempre haverá estudos mostrando que o bônus e outras medidas associadas a estas idéias são boas. Mas o cuidado que temos que ter é verificar quem está divulgando o estudo. Isso porque as Fundações, ONGs e mesmo especialistas que advogam por tais medidas costumeiramente utilizam relatórios de estudos que não foram submetidos a revisão de pares. As Fundações fazem seus relatórios e os publicam sem ter que submeter seus relatórios ao crivo da comunidade científica. Tais estudos, frequentemente ao serem revisados, demonstram ter problemas metodológicos ou relativo às conclusões que extraem de seus dados.
Um segundo aspecto da luta é que é preciso um mínimo de unidade no campo que se propõe a dar a luta.Enquanto sindicatos e centrais sindicais desinformados não começarem a se preocupar com estas novas formas de privatização no Brasil, as ações ficarão truncadas e sem continuidade.
O que os sindicatos e centrais não estão percebendo é que serão a bola da vez durante a implementação destas formas de privatização. Não é só a escola que será afetada. Cresce em todo mundo a idéia de que os sindicatos são os responsáveis por não se avançar na educação, pois bloqueiam a implantação destas “medidas inovadoras” de “comprovada eficácia”.
O Estado de São Paulo, atualmente, pareceria ter outra posição pois o atual Secretário tem procurado melhorar as relações. Mas só parece, pois enquanto a Secretaria acena com reajustes e com negociação, contratou a Consultoria Internacional McKinsey, paga por um pool de ONGs e Fundações, e entregou a ela a definição da política educacional do Estado. Mas note que o antecessor, pensava exatamente que o sindicato teria que ser “peitado” – até foi elogiado pelo “The Economist” por ter esta postura. É só uma questão de estratégia. Tendo dado reajuste, São Paulo procura desarmar o sindicato perante a população na hora de implementar a reforma empresarial da educação, fazendo-o passar por radical, obstrutivo, etc…
Mas voltando a Vitória, tivemos uma excelente tarde de discussões e análises em um Sindicato combativo.