A TRI – Teoria da Resposta ao Item – é um desenvolvimento de segunda geração da teoria da medição. Ela é usada para elaborar as provas que são realizadas pelo ENEM, Prova Brasil e outras. Permitiu muitos avanços na realização de testes. Seu ponto alto, a meu ver, está na possibilidade de elaborar escalas de proficiência que ajudem a diagnosticar ações necessárias para os alunos.
A TRI tem algoritmos dentro dela que realizam certas operações. Um destes é o do controle do chute, quando um aluno não sabendo uma resposta, resolve indicar qualquer uma. A maneira de se controlar o chute é descrita na matéria abaixo:
“Isso significa que, se um candidato acerta as questões mais difíceis, mas não as mais fáceis, o sistema entende que não existe coerência nas respostas e, dessa forma, os acertos acrescentarão menos na nota final do participante. A prova entende que a resposta foi dada “no chute”.”
Veja matéria aqui.
Os parâmetros envolvidos na calibração de um item da TRI são: grau de dificuldade, capacidade de discriminação e controle do chute. Este é o modelo de três parâmetros da TRI, mas não existe somente este modelo. Existem outros modelos que não incluem o parâmetro “chute”.
Independente disso, a questão que se coloca aqui é se a ordenação da dificuldade feita pela TRI ao pre-testar os itens corresponde a alguma organização epistemológica do conteúdo da disciplina avaliada. Só se for por coincidência que isso ocorre, pois um item é mais difícil ou menos difícil não pela sua ligação com os demais, mas pelo número de alunos que acertam ou não aquele item no pre-teste. É daí que se infere sua posição.
Em disciplinas mais estruturadas estas ligações até podem corresponder (a lógica e a epistemológica) mas e nas menos estruturadas. Por exemplo, a matemática é bem estruturada. A questão é: como se comprova que de fato ao acertar uma “questão mais difícil” em uma determinada matéria, isso implica em que ele não conheça a mais fácil e portanto que o aluno chutou por não saber esta matéria? Qual a justificativa epistemológica disponível para além da lógica de que o mais complexo depende do mais simples? Como provar esta relação para além da frequência de respostas no pre-teste? Tem esta formulação respaldo nas modernas teorias do conhecimento das disciplinas avaliadas? Não seria melhor usar uma TRI de menos parâmetros e excluir o “chute”?