A Folha de SP publica artigo de Maria Alice Setubal no qual advoga pela natureza suprapartidária da Educação. Fácil concordar com o diagnóstico de ações necessárias alí apresentado. No entanto, para tais ações elencadas existem diferentes possibilidades de soluções que atendem a determinadas visões de mundo que se consubstanciam exatamente nos partidos políticos que as defendem.
A aparente neutralidade implicada nestas ações apontadas advém somente do fato de que elas estão sendo alí tratadas em sua generalidade, em abstrato, e não estão sendo focadas especificamente em termos de soluções concretas. Quando isso for pensado, é claro que as divergências vão aflorar. A educação não é um campo de soluções neutras, mesmo que os diagnósticos possam ser universais.
Por exemplo: Qual o projeto nacional que se tem para a juventude? Para uns basta que eles se saiam bem nos sucessivos exames, dominem as competências básicas e consigam subir na vida. Para outros, isso não é suficiente. E para outros ainda, talvez nem seja necessário fazer baterias de exame. Há, por exemplo, os que defendem uma proposta mais ligada a um modelo de formação humana e não de “sociedade do conhecimento” apenas, alinhada às exigências exclusivas do mundo do trabalho – vale dizer às demandas por aumento de produtividade.
Para alguns é suficiente uma versão desidratada de escola destinada a ensinar o básico. Para outros, temos que ir mais além e lidar com o desenvolvimento de uma matriz formativa mais alargada que passe pela criatividade, afetividade, conhecimento, valores e visão de mundo transformadora. E adiantemos que isso não tem nada a ver com o movimento de medição do desenvolvimento “sócio emocional” das crianças, uma versão também desidratada de formação de valores posta em marcha por vendedores de testes.
O momento político brasileiro é muito surpreendente. Os que não ganharam nas urnas querem que Dilma, mesmo tendo sido eleita, faça o programa dos que perderam. Alegam que a diferença de votos foi pequena e o país está dividido. Outros, declaram que determinados assuntos são suprapartidários, ou seja, não existe um programa educacional do governo eleito a ser seguido, pois é um assunto de todos.
Como se pode entender esta situação pós-eleitoral? Manda a democracia que haja diálogo. E a presidenta foi clara quanto à disposição para o diálogo – mas completou: sem que isso signifique identidade de ideias. E é isso que pode ser feito – negociação (a partir da proposta do governo) de composição de soluções que levem em conta a opinião de todos os envolvidos – dentro e fora do governo – em um processo de diálogo, guiado sim pelos interesses nacionais. Pode ser que seja este o entendimento do termo “suprapartidário” que se esteja tendo, mas é preciso esclarecer bem porque, se é isso, talvez seja uma má denominação. Entretanto, o diálogo começa pelo reconhecimento do governo. Propostas de impeachment, fora PT, fora Dilma, e outras intimidações cotidianas que temos assistido não revelam disposição para o diálogo. Intimidação não é um bom começo de conversa.
Não se trata de impor aos que perderam as eleições o silêncio e nem de agir com arrogância pós eleitoral. Tais métodos não agregam. Isso, portanto, não pode ser confundido com declarar a educação como um território neutro, onde os projetos do governo não contem; ou querer que o governo implemente o programa dos derrotados. O que está posto é a negociação em torno de ideias diferentes. Fora disso, rompe-se a lógica democrática – seja por um lado ou pelo outro.
Considerações à parte, vale lembrar sempre que a última vez que o Congresso americano concordou com o suprapartidarismo da educação, deu em No Child Left Behind – a lei de responsabilidade educacional americana que acabou com a educação por lá.
o momento é delicado uma vez que a mentalidade reacionária e conservadora da população clama por soluções retrógradas como a volta do militarismo, a pena de morte, a criminalização do movimentos sociais e etc…na educação a coisa tá um pouco pior porque o governo petista, em nome da governabilidade, implantou o projeto neoliberal de responsabilização através do IDEB e a proposta da Dilma pra Educação é a meritocracia e a redução de disciplinas no ensino médio, visando tão somente os índices do PISA que se limita a lingua materna e ao raciocínio matemática para medir a educação, dessa forma criamos analfabetos funcionais e o pior, uma sociedade violenta entregue a drogatização e os vícios mais perversos que conhecemos como mazela do capitalismo.
Não posso dizer que você está errado. O governo Dilma ter flertado com estas propostas. A expectativa é que isso não se aprofunde como ocorreria em um governo Aécio. Mas é só expectativa a ser confirmada.
Caro Professor Luiz Carlos, gostaria de lançar aqui duas questões: uma sobre o uso da estrutura acadêmica para mobilizações politico partidária e outra sobre a incoerência entre os discurso dos acadêmicos e suas práticas meritocráticas, tendo como exemplo as práticas desenvolvidas pelos acadêmicos que defendem o acesso para todos ao ensino básico público, a eliminação da meritocracia nestas escolas, mas aceitam trabalhar em Universidades Públicas que não oferecem acesso para todos que querem estudar nelas, que escolhem pelo nível intelectual e do currículo tradicional através do vestibular seus alunos de graduação, que classificam pessoas por processos meritocráticos( “nada explícitos”) como aptas ou inaptas para frequentar seus mestrados e doutorados, que cobram mensalidades ou fecham contratos com outros órgãos públicos para oferecer cursos de especialização lato senso.
Que análise podemos fazer disto?
Impressiona os numeros da doutora Neca e como a Folha lhe atribui importância, já que a mesma conseguiu engatar 7 artigos na página de opinião da folha em período de um ano…
http://search.folha.com.br/search?q=Maria%20Alice%20Setubal&site=online%2Fopiniao