Mangabeira Unger no Senado

Argumentar contra o Pátria Educadora da SAE usando a existência do Plano Nacional de Educação sempre foi uma furada. Algumas entidades acreditaram nisso e insistiram na tecla. A resposta vem pelo próprio Mangabeira: “o Pátria Educadora executa o Plano Nacional da Educação”. Era óbvia a resposta.

Mas o ponto mais importante é sua fala sobre os “obstáculos” que o Pátria Educadora tem que enfrentar: a) precisa de uma vanguarda pedagógica para sustenta-lo que deve ser construída e que não pode ser constituída por políticos e burocratas; b) o debate precisa ir além dos agentes tradicionais. Quem são eles? O Ministério da Educação, o Conselho Nacional de Educação e, claro, os sindicatos de professores; e c) o país não vê a realidade calamitosa da qualidade do ensino básico.

Ou seja, o Pátria Educadora nasce de costas para as principais instituições que cuidam da educação no Brasil, e os educadores – no MEC, no CNE e nos Sindicatos – são um “obstáculo” à sua realização, precisando ser criada uma nova vanguarda pedagógica para além deles. Entenda-se: eles estarão presentes, mas é a vanguarda que vai conduzir – junto com Dilma e a SAE. A CNTE leu isso? Está tudo lá no site da própria SAE.

Esta é a mesma fala dos reformadores empresariais da educação que desacreditam e difamam o magistério para fazer passar suas propostas. Nada de novo.

Em outra nota, Mangabeira quer nos convencer de que o Pátria Educadora não segue o modelo dos reformadores empresariais. Nada como ler sua própria declaração:

“O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos/SAE, Roberto Mangabeira Unger, afirmou em entrevista ser crítico do paradigma empresarial nas relações educacionais e declara, em relação ao projeto Pátria Educadora, que a as mudanças no ensino básico precisam “ir além”.

“Não desmereço os avanços do paradigma empresarial onde foi aplicado, mas sou a favor de uma agenda de reformas muito mais ambiciosa”, diz Mangabeira. Métodos como mecanismo de cobrança e a meritocracia são incorporados no documento, mas dentro de uma proposta ampla de reforma no ensino básico. “Adotar somente estas mudanças são avanços limitados. Não é esse paradigma que está inspirando essa proposta”, finaliza.”

Veja aqui.

Primeiro ele afirma que a lógica empresarial não é inspiração para o Pátria Educadora. No entanto, logo em seguida, diz que quer ir além dela e reconhece que incorpora “mecanismos de cobrança e meritocracia”. Ora, a política dos reformadores empresariais da educação tem três conceitos básicos: responsabilização (cobrança); meritocracia; e privatização. Tudo o mais são formas de se obter isso. Portanto, o Pátria Educadora na forma proposta não perde nada para os reformadores.

Um verdadeiro cavalo de troia.

 

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About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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