Os países que ainda têm uma visão atrasada de avaliação meritocrática, vivem a ilusão de que o foco nas notas e na meritocracia é a saída para a crise educacional. Mal sabem que esta “saída” conduz a outro beco “sem saída” promovido pela própria meritocracia, ou seja, a ampliação da desigualdade social e a destruição dos nexos de solidariedade dentro e fora da escola.
Cingapura é louvada por autoridades brasileiras como modelo de educação eficiente, pois ocupa posições elevadas nos rankings da OCDE. Mas, elas precisam saber que a experiência daquele país levou-o agora, tardiamente, a constatar que este enfoque baseado na competição das escolas, na meritocracia, acelerou outra crise:
“A divisão social no país está cada vez maior, porque as práticas do sistema educacional baseadas no princípio da meritocracia que renderam elogios a Cingapura não promovem mais a mobilidade social como deveriam.
Está em curso um trabalho para combater tudo no sistema que esteja prejudicando a coesão social. E dessa vez não vai ser suficiente apenas desenvolver uma força de trabalho altamente qualificada para se conectar à economia global.”
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O sistema educacional de Cingapura está agora rendendo-se a outras teses. Não dá para concordar com todas – em especial com a equivocada ênfase que passará a ser dada nas habilidades socioemocionais, na tentativa, agora, de apagar incêndios e de reverter danos – mas é significativo que uma das melhor colocadas nos rankings internacionais esteja defendendo uma visão mais solidária e menos competitiva de sociedade:
“As políticas estão se distanciando da obsessão nada saudável de pais e alunos por notas e vagas nas melhores escolas e enfatizando a valores e princípios. Escolas estão sendo encorajadas, especialmente as do ensino fundamental, a riscar do currículo exames padrões e focar no desenvolvimento integral da criança.”
E agora, Cingapura? Como reverter isso. Quando estas ideias inúteis são implementadas, os educadores que as criticam são considerados portadores de “blá, blá, blá pedagógico”. Quando as consequências pedagógicas e sociais se apresentam, os autores da “solução pela eficiência e pela responsabilização” desaparecem. Não há responsabilização pelos erros de política, curiosamente. O dito fica pelo não dito. E as ideias consideradas “blá, blá, blá pedagógico”, então reaparecem do nada.
Quem sabe o pessoal de Brasília, se dá conta…