A Folha de São Paulo continua com sua propaganda enganosa para desmontar o ensino público no Brasil. Em editorial anterior ela já defendeu transferir escolas públicas para gestão privada e isso implica em desmoralizar previamente a educação pública. Esta é a lógica. Com este pano de fundo, cada certo tempo a Folha submete dados obtidos do INEP a tortura para tentar obter alguma “delação premiada” que possa utilizar contra o ensino público.
Leia a Folha aqui.
A única medida que ela passou a adotar, desde que começou o ataque à escola pública, foi incluir o nível sócio-econômico no “estudo”. Mas não discute o fato de que as escolas da elite têm um nível sócio-econômico mais alto e as que não estão lá, um nível mais baixo. Isso vira um detalhe e passa a ser valor, seletivamente, o fato de 1 em cada 10 escolas públicas estar na elite do ENEM. O que a Folha deseja marcar é que as escolas públicas não têm qualidade para estar no rank da elite, pois as privadas são melhores. Ora não é isso que os dados do IDEB dizem sobre as escolas privadas: elas não estão conseguindo atingir as metas fixadas para o IDEB. O ensino privado brasileiro não é bom.
Mas isso não tem sentido, pois não há amostragem segura dos alunos de cada escola que permita tais ilações sobre a posição das escolas no ENEM. Foi exatamente por isso que o INEP parou de divulgar nota por escola.
Ora, os alunos que fazem o ENEM o fazem por iniciativa própria (claro, tem o pessoal dos cursinhos e escolas particulares que separa os alunos melhores e estimula fazer o ENEM para depois dizer que são elite), portanto não há uma amostragem válida para se poder falar de uma escola específica. Basta ter mais de 10 alunos no ENEM e isso ser correspondente a 50% da escola para que se considere que é uma amostra válida. Nada disso é suficiente, pois não há garantia de que alunos de diferentes estratos que compõem cada escola estejam representados no exame.
Veja-se, por exemplo, que no caso do IDEB, o cálculo exige, pelo PNE, 85% dos alunos presentes na prova. Nos Estados Unidos, exige-se 95%. Note-se que este critério que a folha diz seguir “utilizando critérios anteriores do MEC” é uma desonestidade, pois o INEP parou de calcular exatamente porque tais critérios não eram suficientes.
Mas em estatística tudo é possível se você vai mantendo ou tirando critérios segundo as conveniências e apelando para a “tortura dos dados”, a mandrakaria e os famosos “ajustes”.
O INEP parou de divulgar os cálculos por escola por dois motivos: primeiro, o oficial, é que não têm validade, exatamente pelo que foi dito acima. Segundo, e este eu agrego, porque é cômodo: deixe-se a imprensa fazer o ranqueamento e o INEP passa ileso, atingindo o mesmo resultado.
A Folha de São Paulo apela para o privatista Reynaldo Fernandes para justificar o cálculo:
“O MEC parou de divulgar o Enem por escola sob o argumento de que os dados não são adequados para avaliar as unidades. O professor da USP Reynaldo Fernandes, um dos formuladores do formato atual do Enem, discorda.
“Posso não ter ideia do que acontece na escola, mas, com a pontuação, podemos comparar escolas próximas, parecidas em termos socioeconômicos. E o Enem ainda vai além de português e matemática [o que as avaliações federais e estaduais não fazem], e tem ensino particular”, diz.”
Ocorre que o “estudo” da Folha fala exatamente sobre o que acontece na escola. São as escolas que estão em questão. Portanto, tal justificativa, longe de justificar, ela tem efeito contrário e por si mesma, afasta a possibilidade do cálculo ser válido para esta finalidade. Diz a Folha que acima de 569,7 (o detalhe é a precisão dos décimos) temos uma elite. Note-se a precisão, que contrasta claramente com a ideia de “proximidade” posta por Reynaldo e que vira instrumento para decretar, com precisão, que uma escola é de elite ou para dizer que abaixo de 464,0 estão as piores.
Ou seja, na hora de justificar o estudo, ele é uma “aproximação pelo NSE”, mas na hora de julgar as escolas, ele ganha uma precisão infalível… Isso é mais ou menos como vazamento de “delação premiada” que depois de divulgado, não importando se é ou não, vira verdade. Não é ético, nem científico. E isso tudo somente com as médias das notas de provas, sem nenhum outro dado sobre as escolas. Cômodo, não?
A Folha costuma mandar torturar os números para que eles revelem o que lhe interessa. Mas, para os propósitos que usa, não passam de “fake Science”, ou melhor ainda, “junk Science” – lixo.
Não seria facil corrigir pelo vies de seleção, usando dados do censo?
Mas o que fazer com a representatividade dos dados. O Enem é um exame voluntário…