Aos poucos vai se desenvolvendo uma abordagem mercantil para o ensino básico. O mercado está atento aos movimentos atuais da economia e prevê, com base na experiência internacional, os próximos passos da mercantilização da educação no Brasil. O fundamento declarado para a privatização é que governos não são eficientes para administrar, inclusive escolas.
Prepara-se uma base de atuação que irá pressionar para acessar recursos públicos, seja na forma de terceirização de atividades educacionais, seja através de programas como o Fies, bolsas e outros, voltados para a escola básica, e que permitirão transferir os recursos hoje aplicados na escola pública para a iniciativa privada educacional. Este tipo de iniciativa privada vem para disputar os atuais recursos da educação pública, que já são insuficientes.
Para tal, o mercado exige que se crie uma “segurança jurídica” que insira dispositivos legais na atual legislação que permita estabilidade a estes mecanismos de financiamento.
Confira na reportagem abaixo de Carlos Zambrana, como dois grandes grupos econômicos estão se preparando. Note que o “dark money” – os chamados fundos de investimentos – estão na base. Como sabemos da experiência americana, tais fundos estão unicamente interessados nas taxas de retorno de seus investimentos, para contentar acionistas. Não é a qualidade da educação que os move.
É importante pensarmos desde já no que significa colocarmos a formação de nossas crianças nas mãos destes grandes conglomerados geridos por fundos internacionais. Talvez ainda não tenhamos nos dado conta de que a privatização da educação – em todos os níveis – será a grande batalha que seguirá, sugando recursos públicos e precarizando ainda mais a educação pública.
Não se trata mais de uma “iniciativa privada”, que sempre houve, oferecendo escola privada alternativa para a elite. Trata-se de uma privatização que desviará os atuais recursos da escola pública, afetando dramaticamente a própria existência da escola pública – por terceirização e vouchers – para atender a todos os níveis socioeconômicos – presencialmente ou à distância. Inclui a elite, mas irá até onde o financiamento público permitir.
“Nos últimos dois anos, a história de dois grupos educacionais esteve ligada por uma fusão que criaria um gigante do ensino superior: a tão badalada união entre Kroton, comandada por Rodrigo Galindo, com a Estácio, que tinha o empresário Chaim Zaher, do grupo SEB, como o principal acionista individual. Pois bem, em julho do ano passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não aprovou o negócio e cada um seguiu sua vida. Zaher vendeu sua participação na Estácio para o fundo americano Advent por mais de R$ 400 milhões e decidiu focar no ensino básico.
A Kroton, por sua vez, passou a buscar alternativas de crescimento. Na semana passada, os dois deram duas grandes tacadas. O SEB comprou uma escola em Goiânia, numa sucessão de aquisições que tem feito desde o início de 2017, e a Kroton anunciou a criação de uma holding para investir no ensino básico. Ou seja, vão brigar pelo mesmo mercado. Entenda os passos de cada um.”
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https://www.theguardian.com/education/2018/apr/22/parents-boycott-sats-tests