RJ: policiais armados nas escolas é burrice…

A Secretaria de Educação Estadual do Rio de Janeiro pretende colocar policiais armados dentro das escolas, onde os pais e professores concordarem. É preciso que se tenha consciência do que significa isso para os profissionais que trabalham na escola e para os próprios estudantes: isso não vai resolver o problema da violência, vai agravar.

Sempre que se diz isso, vem a argumentação de que os bandidos precisam ser coibidos. Foi assim com a justificativa da intervenção militar nas favelas do Rio de Janeiro. Pergunta-se, agora que a intervenção acabou, de que adiantou?

Vai ser criado um Programa Estadual de Integração de Segurança – PROEIS – e que pretende pagar para policiais atuarem dentro das escolas em seus períodos de folga.

Leia aqui.

É extremamente perigoso, para os profissionais da educação e seus estudantes, conviverem com armas dentro das escolas. O exemplo é o caso americano onde esta política foi usada e que tem levado milhares de professores e estudantes às ruas contra esta prática.

Por um lado, militarizam-se escolas, por outro prega-se o endurecimento das regras disciplinares e, agora, fala-se em colocar pessoal armado dentro das escolas. Não é este o caminho. Isso levará a mais violência e a mais exclusão. Vai repercutir nos alunos mais pobres e negros que serão mais frequentemente expulsos da escola criando uma linha direta entre a escola e a prisão.

Vou repetir informações que já disponibilizei em outro post:

Nos Estados Unidos, o aumento do controle disciplinar nas escolas tem sido considerado danoso para a educação dos jovens e criado uma “linha direta” entre as escolas e as prisões, o que levou a Associação Nacional de Educação americana (2016) a se manifestar sobre a prática:

“Linha direta da escola para prisão significa o uso de políticas e práticas que estão direta e indiretamente empurrando estudantes negros para fora da escola e colocando-os no caminho para a prisão, incluindo, mas não limitando-se a: políticas severas de disciplina escolar que abusam da suspensão e expulsão, aumento do policiamento e vigilância que cria ambientes parecidos com prisões nas escolas, excesso de confiança no encaminhamento para a aplicação da lei e no sistema de justiça juvenil, e um ambiente acadêmico voltado para testes de alto impacto e alienantes.”

A escalada da violência nos Estados Unidos tem, obviamente, outras causas além dos processos de privatização das escolas, mas a exigência de níveis mais altos de desempenho dos estudantes nas escolas, pela reforma empresarial, tem lavado ao aumento do controle disciplinar e à segregação dos estudantes de origem mais pobres e negros (Scott, Moses, Finnigan, Trujillo, & Jackson, 2017) e certamente favorece e acaba por justificar tais ações.

Um estudo de DeJarnatt, Wolf & Kalinich (2016) afirma que:

“(…) o Chicago Tribune relatou que, durante o ano letivo de 2012-2013, as escolas charters [terceirizadas] de Chicago expulsaram os estudantes de forma muito mais alta do que as escolas públicas de Chicago. Eles relataram que, para cada 10.000 alunos, as escolas charter expulsaram 61 alunos enquanto as escolas públicas expulsaram 5. O Boston Globe relatou de forma semelhante que as escolas terceirizadas de Massachusetts tinham maior probabilidade de suspender ou expulsar estudantes. O artigo cita uma escola charter de Boston que submeteu quase 60% de sua população estudantil a suspensão durante o ano letivo de 2012-2013” (p. 22).

A escalada de violência, por vários motivos, faz com que, hoje, mais que nunca, se debata nos Estados Unidos a colocação da polícia no interior das escolas, ao lado do endurecimento nas regras disciplinares destas. O saldo é apresentado por Sam Sinyangwe, diretor do Projeto Mapping Police Violence (Giroux, 2018):

“Os dados (…) que existem (…) mostram que mais policiais nas escolas levam a mais criminalização dos estudantes e, especialmente, estudantes negros e pardos. Todos os anos, cerca de 70 mil crianças são presas nas escolas … [Além disso] desde 1999, 10 mil policiais adicionais foram colocados nas escolas, sem impacto na violência. Enquanto isso, cerca de um milhão de estudantes foram presos por atos que seriam punidos anteriormente com detenção ou suspensão, e os estudantes negros têm três vezes mais chances de ser presos do que seus pares brancos. ”

Leia aqui.

O Rio de Janeiro não pode aceitar isso e tem que fazer um trabalho, via sindicatos, universidades, organizações estudantis e outras junto aos pais, professores e estudantes para que não caiam nesta armadilha.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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