Como todo fundamentalismo, o fundamentalismo de mercado parte da premissa de que os indivíduos só são devidamente motivados externamente, por dinheiro. Para eles, motivação interna inexiste.
É a lógica do mercado e, por isso mesmo, que não serve para tudo. Mas em tempos neoliberais baseados em fundamentalismos, não bastassem os professores serem submetidos a estas práticas, agora até os médicos do novo “mais médicos pelo Brasil” terão seu salário turbinado se seus consultórios se transformarem em uma porta giratória com clientes entrando por um lado e saindo rapidamente pelo outro.
Cada vez mais os médicos têm reconhecido a importância da “conversa” para entender o que os pacientes de fato sentem e poder, aliados a exames, diagnosticar. Um dos aspectos mais elogiados do antigo “mais médicos” era exatamente esta possibilidade de receber atenção e conversar com o médico.
Agora, é bônus por atendimento. Velocidade, eficiência medida por resultados: número de pacientes atendidos.
“Batizado de Médicos pelo Brasil, o novo programa que será criado pelo Ministério da Saúde para levar médicos ao interior do país terá seleção por meio de prova objetiva, contratação por vínculo CLT, especialização e salário com bônus atrelado a indicadores de desempenho. “
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Ricardo Semler, um empresário, resume bem a bobagem dos bônus:
“O caminho de ouvir empresários e dar bônus aos professores em função de nota, por exemplo, demonstra como se está pensando a escola de trás para a frente.
Ora, dar gratificação ao professor para que gere boas notas em provas tacanhas, em apenas duas matérias, é o mesmo que dar comissão a corretor imobiliário para que venda aquele terreno micado, e não o mais difícil de mostrar.”
Antes que esta bobagem vá para o brejo, de novo, vai fazer muitas vítimas. As organizações dos médicos e o próprio Ministério Público deveriam impedir esta aventura transformada em política pública.
Sobre os fracassos de bônus com os professores pode-se ler aqui.