Remy J. Fontana, sociólogo e professor aposentado do departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC, analisa em um belo artigo no site “A terra é redonda”, o conceito e as armadilhas da “meritocracia”.
Diz o autor:
“Embora o que em princípio, e para alguns um verdadeiro princípio ético, pareça assegurar oportunidades a todos, em substituição a atribuições de posições sociais por privilégios de nascimento, na prática configura-se como mais uma ideologia a sancionar desigualdades. Ideologia muito conveniente para um sistema que faz parecer naturais as diferenças de capacidades e talentos, percebidos como atributos de alguns indivíduos e não como resultantes de uma diferenciação social preexistente, que decide a sorte de uns e outros já na largada, especialmente via sistema escolar. Pensadores positivistas, um pouco antes e funcionalistas, um pouco depois, no decurso do século XX, apostaram um tanto desmedidamente nas promessas da educação como um complemento das revoluções industrial e democrática.
Mesmo se pudéssemos alcançar efetivamente o que o ideal da meritocracia promete, ainda assim o princípio é falho, não se sustenta, pois mesmo que os indivíduos obtivessem sucesso por seus próprios esforços, várias questões se colocam: teriam eles merecido os talentos que lhes permitiram desabrochar? Seria resultado de méritos próprios o fato de terem nascido numa classe determinada e não em outra? De viverem num tipo de sociedade que valoriza suas qualidades e habilidades? De serem possuidores de capacidades e atributos que seu tempo privilegia e valoriza? Será que daria para desconsiderar o auxílio que tiveram e que lhes ajudaram ascender, a prosperar? Será que não teriam nenhum débito com as comunidades nas quais estavam inseridos? Com os específicos arranjos sociais que lhes favoreceram os êxitos, que lhes tornaram possível o sucesso?”
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