Há várias formas de privatização da educação. Uma delas é a privatização por dentro, ou seja, pelos métodos e processos de gestão e ensino. A rede municipal de Piracicaba no Estado de São Paulo acaba de adquirir um sistema de educação privado para implantar em toda a rede de ensino implementando sua privatização por dentro.
“A Rede Municipal de Educação de Piracicaba passará a contar com o sistema integrado de ensino da Poliedro, o mesmo adotado em escolas particulares em todo o Brasil. A empresa foi a vencedora do Pregão Eletrônico nº 570/2022, realizado pela Prefeitura para a contratação, por meio das secretarias municipais de Educação e de Administração. A publicação está no Diário Oficial do Município de hoje, 16/03.
A Poliedro Sistemas de Ensino vai fornecer aos alunos de 4 e 5 anos da Educação Infantil e para todos de Ensino Fundamental, materiais didáticos impressos e digitais para alunos e professores, além de assessoria pedagógica, portal e plataforma educacional e sistema de avaliação de aprendizagem dos alunos. O investimento será de R$ 11,2 milhões.”
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Com um “sistema de ensino”, tudo estará previamente definido em termos de metodologia de ensino o que significa eliminar a possibilidade da criatividade e da autonomia do magistério municipal.
“A aquisição de um novo sistema garantirá que os alunos da Rede Municipal tenham acesso a um material didático unificado e, consequentemente, às mesmas oportunidades e recursos, assegurando um universo de novas possibilidades e garantindo a formação qualificada aos nossos professores”, destaca o secretário de Educação, Bruno Roza.”
A “uniformidade” é exatamente o oposto do que ocorre em uma sala de aula, repleta de “variação”. Os tempos de aprendizagens e as formas de aprendizagens dos estudantes são variadas e a uniformização de métodos e tempos impõe um ritmo e forma únicos de aprendizagem para todos, reduzindo as possibilidades de se calibrar a aprendizagem segundo as necessidades variadas que os estudantes possuem. Esta é a principal função do professor.
O alinhamento e a uniformidade são as causas pelas quais a Base Nacional comum americana empacou segundo especialistas que examinaram seu fracasso: houve um alinhamento de métodos e tempos que matou a autonomia do professor para lidar com as diferenças de aprendizagens dos estudantes.
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A privatização por dentro é apenas uma primeira etapa de um processo mais amplo de privatização e que não vai se deter nesta etapa. Neste momento, apenas tornou-se o magistério dispensável, podendo inclusive substituí-lo por “instrutores” mais baratos no futuro.
Mas as repercussões futuras podem ser mais amplas (nesta ou em futuras gestões municipais) De fato, se o sistema de ensino é o mesmo da iniciativa privada, porque não permitir que os estudantes estudem diretamente nas escolas privadas através de “vouchers” que permitam que os pais paguem com dinheiro público a matrícula de seus filhos naquelas escolas colocando-os diretamente nas escolas que quiserem?
Aqui no Estado do Paraná não está diferente. A privatização também chegou em cidades muito pequenas, com cinco mil habitantes, com 90% das escolas na área rural. Conteúdos totalmente fora da realidade social, cultural e educacional de alunos que não tiveram aulas no período da pandemia devido a não terem acesso a Internet e nem como buscar atividades impressas na escolas por falta de transporte. Mas a secretaria afirma que o apostilamento será ” melhor e suprirá as defasagens” destes alunos.
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