A CONAE 24

Recentemente algumas publicações têm mostrado a organização do que convencionou-se chamar de extrema-direita (uma combinação de libertarianos tipo Milei com neoliberais tipo Guedes) para participar da Conferência Nacional de Educação – CONAE – que acontecerá de 28 a 30 de janeiro em Brasília.

Concordemos ou não com tais ideias, não há nisso nada de estranho, desde que as regras de participação tenham sido seguidas antes e sejam seguidas durante. No entanto, a preocupação está motivada pela forma com que tais grupos atuam em defesa de suas ideias, o que não raramente, inclui a violência física e verbal.

Dado o histórico destes grupos, as preocupações são legítimas, mas tendo a concordar com Renata Aquino que escreve:

“Então, o que na CONAE interessa de fato à extrema-direita? O histórico desses setores nas vésperas de períodos eleitorais anteriores sugere que este é um primeiro movimento para elevar a temperatura do debate público e produzir a matéria-prima para extrair e explorar o pânico moral que os sustenta politicamente.”

Leia mais aqui.

Ou seja, penso que poderão estar mais interessados em produzir conteúdo para veicular com suas ideias nas fake news que alimentam a militância. E aqui, os participantes e os dirigentes devem cuidar para não fornecer tais cenas voluntariamente. Se as regras da CONAE foram seguidas antes, seus militantes têm o direito de expressar suas opiniões e serem ouvidos respeitosamente. O que gera a obrigação de que façam o mesmo.

A CONAE tem regras. Ela não começa dia 28 próximo. Ela termina – e passa a subsidiar outras batalhas que se seguirão. De fato, a CONAE começou há muitos meses com conferências municipais e estaduais como uma das instâncias de preparação do Plano Nacional de Educação 24-34. A chamada extrema-direita deve ter percebido que, ficando fora da participação na CONAE, fragilizava sua posição nas lutas que se seguiriam, especialmente no Congresso, e quer “mostrar” que esteve presente e que suas ideias foram barradas injustamente pelo “comunismo que tomou conta da educação”.

A outra possibilidade é que tentem conturbar o andamento dos trabalhos. Mas isso é um assunto para os organizadores através das mesas diretoras das atividades e ultrapassado o limite, é assunto para a segurança do evento.

Tudo isso só aumenta a importância da CONAE em si e de seu significado, já que o plano resultante da CONAE é também o início de uma longa batalha que terá continuidade no Ministério da Educação e depois no Congresso, local  onde estas ideias neoliberais/libertárias têm mais sustentação. Daí a importância de que os resultados da CONAE, como instância de participação civil, coloquem a educação no rumo certo.

A organização destes grupos de extrema-direita também deve ser um alerta para o fato de que estão se organizando na base, nos municípios, nas escolas e vão atuar para asfixiar as escolas, por exemplo, com grupos de pais que vão fiscalizar a atuação de professores, diretores ou ainda, controlar os livros que existem nas bibliotecas – tal como ocorre hoje nos Estados Unidos. É o acirramento do “escola sem partido”.

Um relatório recente sobre estes movimentos nos Estados Unidos traça um mapa da atuação destes:

“Uma minoria vocal de pais invocou, nos últimos dois anos, a ideia de “direitos dos pais” para exigir mudanças curriculares e políticas que afetem não apenas seus próprios filhos, mas todas as crianças ao alcance dessas mudanças. Esses pais, por exemplo, buscaram alterar os currículos de história sobre escravidão e raça, ditar como (e se) as escolas ensinam sobre orientação sexual e identidade de gênero, remover livros das coleções das bibliotecas escolares e definir políticas escolares relacionadas aos alunos transgêneros. Curiosamente, os pais mais vocais que participam de campanhas pelos direitos dos pais tendem a se ver como se posicionando contra o Estado e suas escolas, em vez de estarem dentro de uma comunidade democrática que luta por participação inclusiva, investigação informada e deliberação respeitosa entre os membros da comunidade.”

Leia aqui o relatório do NEPC sobre estes movimentos.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em Links para pesquisas e marcado , , , , . Guardar link permanente.

Uma resposta para A CONAE 24

  1. Pingback: A CONAE 24 | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas | A Estrada Vai Além Do Que Se Vê

Deixe um comentário