Como é notório, este blog fez uma pausa nas suas publicações.
Depois de 11 anos examinando aqui os avanços da reforma empresarial da educação que insiste em soluções fracassadas de privatização e aprisionamento de nossas escolas (para fins econômicos e políticos), achamos que o básico nesta matéria, foi apresentado.
Com a proliferação dos estudos sobre as consequências deste modelo educacional e com o aparecimento de medidas mais concretas de implementação destas ideias, principalmente no ensino básico, indicando que elas estão se tornando mais presentes em nossa realidade e diminuindo o ceticismo de alguns para com elas, penso que, agora, é preciso avançar em nossas tentativas de análise, o que significa inserir mais claramente do que fizemos no passado, o entorno político/social que criou a necessidade desta visão empresarial da educação – seus fins políticos e causas econômicas.
Em 2018, quando escrevi um pequeno livro chamado “A Reforma Empresarial da Educação: nova direita, velhas ideias”, apontávamos, em base à experiência internacional, que uma parte da esquerda se juntaria à direita política na implementação destas ideias. E o que vemos é que, apesar da grande esperança que foi depositada no atual governo Lula, constatamos penosamente o alinhamento do Ministério da Educação a estas ideias. Divergimos deste caminho desde os primeiros momentos na chamada transição entre o fim do governo Bolsonaro e o início do governo Lula.
Nossa percepção é que neste momento, todas as possibilidades de deter o avanço de uma visão empresarial para a educação básica foram inviabilizadas. E como já dissemos em outros posts, a indicação do ministro Camilo para o MEC, um quadro do PT, foi indicação pessoal de Lula, portanto, longe das pressões políticas que afetaram outros ministérios, no caminho para compor um governo politicamente de centro, multifacetado, e igualmente longe dos problemas que a atual composição do Congresso Nacional tem gerado. Trata-se de opção de governo e especialmente de Lula e, claro, do PT. Note-se, por exemplo, que as ONGs e Fundações privadas que operam na área educacional estão em sintonia com a política educacional desenvolvida pelo MEC.
Isto invalida uma argumentação oportunista que reaparece a cada crítica que se faz ao governo atual e que diz ser a crítica a este governo um instrumento que fortalece a direita política. Isso pode ser verdade, mas não no caso do Ministério da Educação. O que nos leva a uma questão de fundo: a natureza do governo Lula e do PT.
O PT é um partido cada vez mais de centro, coerentemente com sua postura social-democrata, e que insiste em não dar espaço dentro do governo para seus próprios quadros mais à esquerda. Almeja ser o grande fator de pacificação nacional em meio a um país (e um mundo) polarizado.
As crises persistentes do capitalismo, que inviabilizaram em grande parte as propostas da social-democracia pelo mundo, decepcionaram e criaram a figura do “pobre de direita”: pessoas desesperadas por soluções para seus problemas. E o que não está sendo processado pela social-democracia é que a solução de tais problemas não é apenas uma questão de “troca de governo”, pois estamos lidando com problemas estruturais do capital. Portanto, os problemas que a social-democracia enfrenta não serão resolvidos apenas com projetos que visem “consertar” o capitalismo, um modelo de organização social que se esgota estruturalmente e recorre cada vez mais à barbárie para continuar a existir.
Nada temos contra os projetos da social-democracia que visam minimizar o custo dos desastres do capital para a população mais pobre, mas a tarefa não se resume a isto. É preciso apontar claramente qual a raiz dos problemas e construir o futuro, mobilizar para conscientizar, o que significa igualmente apontar para as lutas necessárias – mesmo que isso prejudique os objetivos eleitorais imediatos. As dificuldades da social-democracia também se constituirão em dificuldades para as forças políticas à direita e elas não têm um projeto de superação para estas – a não ser radicalizar o neoliberalismo moribundo no âmbito doméstico, o que levará ao aprofundamento dos problemas da maioria da população.
O governo Lula atua na frente da “salvação”, mas faz mal a frente da mobilização e da conscientização da população para a origem dos problemas. E a razão disso é que se contenta apenas com a frente eleitoral: ganhar eleições. É um governo que cada vez mais faz a defesa da “democracia liberal” (hoje claramente uma “democracia de base neoliberal”) e tenta fazer uma política social-democrática dentro dela. Vale dizer, transformou-se em um governo “conservador”, sem um projeto de futuro, enquanto uma direita política histriônica se faz passar por “revolucionária” – de motosserra na mão.
Este post tem, portanto, a finalidade de apontar aos leitores que vamos fazer alguns acréscimos nos objetivos deste Blog. Ele será menos focado na questão específica da avaliação – ainda que não se afastará de todo do tema – e terá seus objetivos expandidos mais ainda para questões políticas, econômicas e sociais. E em um mundo conflagrado como o que se aproxima, vamos veicular análises de questões estruturais que afetam o modo de vida do capital e as opções que temos.
Em tempos de polarização é necessário construirmos posições mais claras quanto às causas, rumos e lutas a serem travadas neste contexto.
Prof.Freitas Parabéns pelo retorno. Faz falta o seu senso crítico e os seus estudos acadêmicos rigorosos. Continuo balançando os dois neurônios da maioria fechada nos seus conceitos elitistas e atrasados. Agora estou morando em BH tratando de saúde e com os descendentes. Abraços fraternos extensivo esposa
Grande abraço Rogério.
Professor, Freitas. Obrigada!
É de fundamental importância esse avanço de patamar na busca por abstrações cada vez mais concretas; no acesso a análises que irão nos proporcionar maior aproximação a totalidade do capital e suas determinações junto ao movimento das políticas educacionais internacionais e nacionais.
Obrigada por reativar o Blog, Professor Luiz Carlos de Freitas. Suas reflexões são objetivas e nos instigam a problematizar muito do que se coloca como normalidade ou inexorável.
Abraço.
Adorei a análise contida no texto. Realmente eu espera mais da atuação do ministério da educação da “cota” do PT. Tem sido uma grande decepção ver os rumos que a educação vem tomando. Espero que continuemos esse debate em prol da sociedade.
Excelente análise dos dilemas históricos da educação. Obrigada por retomar as análises e continuar nos inspirando para as lutas necessárias!!!
Estaremos juntos na crítica ao Capital!
Prof. Freitas, obrigada pela análise e por ser presença de força e luta!
Abraço Katia.
Apoiado. Te sigo e te seguirei sempre, pois suas análises são extremamente necessárias.
Salve, Luiz!!! Muito bom ver o blog ativo novamente!! Mais que necessário como um convite e incentivo à reflexão coletiva!!! Ótima a proposta de análise mais abrangente!! No aguardo e na expectativa das próximas postagens, compartilho meu entusiasmo e envio um cordial abraço!!! Ana Luiza
Em sex., 20 de jun. de 2025 às 19:52, AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do
Olá Ana. Obrigado.
Abraço.
Bom dia!
Amigo e mirante Freitas
A aplicação das Avaliações em Larga Escala, método e conteúdo, faz parte dos interesses históricos e imediatos da burguesia para o que resta ainda de escola pública.
Sendo as suas palavras no blog e “seus objetivos expandidos mais ainda para questões políticas, econômicas e sociais” é efetivamente continuar desnudando as ALEs e os interesses subjacentes.
Na espera para compartilhar e debater as próximas postagens…
Gostei muito do seu texto, Luiz. Claro, conciso e principalmente pelo novo enfoque que dará, colocando a educaçao num contexto mais amplo, político, economico e social, o que vai ao encontro da presente realidade que vivemos hoje na sociedade. Parabés!
Obrigado Geraldo.
Abraço
Como sempre, muito lúcido na reflexão. Obrigada
Em sex., 20 de jun. de 2025, 19:50, AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
Caro Luiz , notícia muito boa esta que está nos trazendo: voltaremos a aprender, e muito com o teu BLOG.
Importante retomada, Luiz. Seguimos no enfrentamento.
Muito importante dar essa centralidade nas discussões, professor. Concordo com tudo que li neste texto.