Considerações à margem do Manifesto (VI)

Postado originalmente na Uol em dezembro/2010

A que se deve o aparecimento deste documento? Arrisco que ele está ligado à necessidade do PSDB se refundar. Ele tem sido o carro chefe dos conservadores/liberais no país. Boa parte dos especialistas a que o documento se refere são quadros históricos do PSDB. Durante as últimas eleições, o PSDB foi muito criticado por não ter proposta que o diferenciasse perante o eleitor. Lideranças do PSDB têm ocupado espaço na mídia falando da necessidade de refundar o partido. A Folha de São Paulo de hoje trata disso. Para as próximas eleições o PSDB quer ter uma cara própria, quer ter suas próprias propostas que o distinga perante o PT e outros partidos.

Em Tendências e Debates da Folha de São Paulo de hoje (29-12-2010) podemos ler:

O apoio da população nos diz que devemos continuar a nos contrapor duramente ao projeto de poder do PT. Nesse quesito, nestes 22 anos desde a nossa fundação, a história esteve do nosso lado. Sempre em busca do melhor para o país. Assim, temos o direito de pedir calma aos que corretamente cobram um partido mais dinâmico, ou mais aguerrido, ou mais popular. A esses, afirmo que o PSDB está conversando muito internamente no intuito de superar nossas deficiências e nos organizarmos para aperfeiçoar nossa atuação.”

A fala é de Luiz Paulo Vellozo Lucas, deputado federal pelo PSDB-ES, e presidente do Instituto Teotônio Vilela, instituição “think tank” do PSDB.

Daí a articulação em torno das ideias do Manifesto e sua forma de atuação via municípios, estados e federação, fortemente ancorado em movimentos “independentes” com forte financiamento privado. Daí a necessidade de mobilização, pois com ela marca-se a proposta do PSDB perante a sociedade – e de quebra divulga-se a “crise educacional” em que o país está mergulhado.  Os “novos reformadores”, portanto, já estão em campanha.

Certamente, os Estados com governadores do PSDB e adjacências serão mobilizados para aplicar as soluções propostas no Manifesto de forma a criar “efeito demonstração”. Nos Estados Unidos o Texas jogou papel importante na preparação da generalização destas medidas posteriormente pela Federação com o No Child Left Behind. Neste sentido, Alckmin, em São Paulo, ao retirar Paulo Renato da Secretaria da Educação, jogou contra esta estratégia, aparentemente. Entende-se porque o PSDB reagiu à saída de Paulo Renato da Secretaria, e porque ele sai atirando contra Alckmin. Era a oportunidade de se ter um Estado importante engajado nesta estratégia. O novo Secretário indicado é uma incógnita e teve o dedo de Chalita em sua indicação. Chalita nunca praticou a fundo a política educacional do PSDB.

Enfim, vamos entrar em um período muito forte de disputas de ideias e a discussão do PNE no Congresso será palco desse embate. Entretanto, sempre há a possibilidade destas ideias encantarem setores da base aliada do governo federal (p. ex. Cristovam Buarque, entre outros) e este embate ser bem menor do que se pensa.

A experiência internacional mostra que, em matéria de educação, há uma convergência entre as forças políticas de vários matizes nos Congressos. Isso fará com que a luta pela escola pública, gratuita, seja muito mais dura e incerta nos próximos meses. As entidades científicas e sindicais, bem como a academia, precisam entrar neste embate já. O que está em jogo, como esteve na última década nos Estados Unidos, é a destruição do sistema público de educação.

Em próximas postagens, detalharemos a estratégia liberal.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em A proposta, Links para pesquisas, Postagens antigas da UOL, Responsabilização/accountability. Bookmark o link permanente.

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