Postado originalmente na Uol em 8/06/2010
Já postei anteriormente oito razões para não se premiar escolas ou professores pelo desempenho dos alunos. Agora adiciono mais oito. Portanto, ao todo, já são 16.
Embora a batalha dos dados na área científica revele que quase tudo pode ser demonstrado por eles na dependência do que você selecione, o que segue é uma destas possíveis visões… esquecidas por aqueles que costumam afirmar que suas posições favoráveis à premiação de escolas estão baseadas em “dados científicos”.
Só para contrariar, documento do National Center for Fair and Open Testing, nos Estados Unidos, reúne estudos que mostram a inadequação de pagar professores ou escolas a partir de pontuação de estudantes em testes. Segundo o documento, pesquisadores independentes tem encontrado que avaliar e pagar a partir de pontuação dos alunos nos testes é perigoso e irrelevante para a melhoria da aprendizagem. “Infelizmente”, diz o documento, “as evidências do dano não parecem afetar o crescimento da popularidade de tais esquemas. Formuladores de política, incluindo o Secretário de Educação dos Estados Unidos Arne Duncan, deveriam parar de promover estas fracassadas abordagens”.
O documento organiza estudos que comprovam a ineficácia desta abordagem:
1. Pagar pela pontuação maior obtida em testes resulta em inflação das pontuações e não em verdadeira aprendizagem (Koretz, 2009; Madaus, Russell and Higgins, 2009; Nichols and Berliner, 2007).
2. O pagamento baseado em “performance” exacerbará os danos ao curriculum causados pelo NCLB (Nenhuma Criança para Trás – programa implantado em 2002 por Bush filho) em especial o estreitamento do currículo (McMurrer, 2007; Au, 2007; Morton and Dalton, 2007).
3. É incorreto e ineficaz pagar professores por resultados em testes os quais apresentam problemas de construção e erros (Rhoades and Madaus, 2003; Farley, 2009).
4. Pagar pelos “ganhos” obtidos na pontuação do estudante não resolve o problema da indução de danos educacionais pelos testes. Há muitas falhas nos mecanismos de cálculo do “crescimento” ou do “valor agregado”. Pesquisadores da RAND concluiram que “a pesquisa atualmente é insuficiente para amparar o uso de métodos de valor agregado em decisões de alto impacto sobre professores individualmente ou escolas” (McCaffrey, et al., 2005; Bracey, 2007; National Research Council, 2009).
5. O pagamento por pontuação em testes pode nem mesmo aumentar a pontuação dos estudantes (Martins, 2009; Springer, Podgursky and Lewis, 2009).
6. Para muitos professores a motivação primária não é o alto salário. “Se fosse assim, eles teriam escolhido outra profissão” – fantástico, é a típica argumentação que jamais ocorreria a um “educational business man”. Além disso, diz o documento, os professores olham os testes como um pobre aferidor de suas habilidades, portanto, pagar pela performance prejudica mais do que aumenta seu senso de profissionalismo e sua moral (Whitford and Jones, 2000; Nichols and Berliner, 2007). Ele pode diminuir a motivação (Ryan and LaGuardia, 1999). O pagamento por “performance” também tem mostrado um aumento da fraude (Pfeffer, 2007).
7. O pagamento individual de professores por pontuação do estudante encoraja a competição não saudável (MacInnes, 2009) Attention please: “mesmo o pagamento de bônus para a escola pode causar divisão entre o quadro de funcionários e com os pais (FairTest Examiner, 1997 neste link encontrarão mais estudos indicando a limitação do uso de valor agregado associado a alto impacto).
8. O pagamento por “performance” causa distorção nos objetivos em outras ocupações tanto no setor público como no privado (Adams, Heywood and Rothstein, 2009).
Enfim, finaliza o documento, a pesquisa sobre pagamento por “performance” mostra que ela baseia-se em suposições dúbias e falta evidências de seu sucesso, enquanto há boa evidência de que frequentemente falha.
Bem… depois de todos estes estudos científicos, continuar a usar testes de alto impacto para tomar decisões sobre professores e/ou sobre escolas, só pode ser uma decisão ideológica….
Divirtam-se com o texto original clicando aqui, onde encontrarão também a bibliografia citada acima.