Postado originalmente na Uol em 10/09/2010
A prova de que a carta de compromisso do Movimento Todos pela Educação e mais 26 entidades é inodora, sem posicionamento político, é que todos os candidatos a presidente assinaram-na. Isso significa que conseguiu-se redigir um texto no qual cada um dos candidatos consegue ver seu programa e seu viés ideológico. Daí sua inutilidade para as forças mais progressistas.
Alguns podem comemorar isso. Da minha parte, acho que quem sai vitorioso são as forças liberais e conservadoras pois apoiadas na grande empresa – articuladora e financiadora do Movimento Todos pela Educação – continuará a pressionar as autoridades educacionais para converter a educação em mercadoria e adotar na área a lógica dos negócios. E, neste caso, a carta ajudará nisso com a agravante de ter todas as entidades educacionais ao seu lado como signatárias.
Mesmo um eventual governo da Dilma, não garante que a educação não tomará esse rumo. Não esqueçamos que desta vez o PMDB faz parte do governo formalmente.
O Movimento Todos pela Educação apenas ocupou um espaço deixado vago por aquelas entidades da área da educação que têm compromisso com idéias mais progressistas. Elas deixaram de se organizar para escrever sua própria carta, com clareza política e ideológica, tentando puxar os candidatos para ela. Uma carta deste tipo não poderia deixar de pedir a não mercantilização da educação, o fim dos testes de alto impacto como política de avaliação do INEP, a recusa à lógica dos negócios na educação, mais recursos, o cumprimento das deliberações da CONAE, entre outras.
Mais um espaço que vai sendo ocupado pelas forças de centro-direita graças à falta de ação da centro-esquerda.