Há algum tempo divulguei um estudo de Matthew di Carlo que mostrava, resumidamente, que até 60% dos fatores que explicavam a nota dos estudantes estava fora da escola e apenas 20% se deviam a fatores intra-escolares.
Um estudo divulgado pelo site do Todos pela Educação, com o ENEM, chega a resultados parecidos no Brasil:
“Grande parte (79%) do desempenho de uma escola no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é explicada por fatores exteriores a ela, como o nível socioeconômico das famílias dos alunos, a cor da pele dos estudantes, a dependência administrativa e o Estado em que está localizada, entre outros. O chamado efeito escola responde, portanto, por apenas 21% da média da unidade.”
A conclusão é da pesquisa de doutorado do professor Rodrigo Travitzki, realizada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
“A maior contribuição da pesquisa, segundo o autor, é mostrar o que de fato os rankings com dados do Enem revelam e os efeitos que podem gerar. “De certa forma, confirmei com a estatística o que muitos já imaginavam: o ranking informa mais sobre as condições socioeconômicas da escola do que sobre seu possível mérito pedagógico”, sintetiza Travitzki.”
Ver vídeo aqui.
Pois é. Sabemos que é assim, mas quem controla os efeitos do que medimos? Quem controla os governos? E as empresas de assessoria? No dia a dia, a política educacional continua centrando a culpa no professor. Se os estudos – daqui e dos Estados Unidos – revelam a importância do nível sócio-econômico, que tal os empresários pararem de gerar pobreza pagando salários baixos, ao invés de criar Fundações para depois doar dinheiro e deduzir do Imposto de Renda que deveriam pagar?
Soa um tanto irônico.
Bom dia, Professor!
Encontrei mais um vídeo sobre a importância do nível sócio-econômico: http://univesptv.cmais.com.br/pedagogia-unesp/d-29-avaliacao-educacional-e-escolar/avaliacao-e-responsabilidade-cultural
Selecionei esse vídeo para utilizá-lo nas reuniões com os professores. Além da culpabilização do professor, vivemos uma tendência, já alertada pelo senhor, da medicalização das crianças. Tudo é motivo de realizar encaminhamentos para médicos e psicólogos. Dessa forma, penso que, também no interior das escolas, o debate sobre a questão sócio-econômica precisa ser aprofundado. Quando comentei sobre isso na última reunião, muitos disseram desconhecer tal informação.