O Brasil mais e mais vai se inclinando para um enfoque de política educacional baseado na pressão (“responsabilização” para alguns). Outras formas de se elaborar políticas baseadas na participação coletiva negociada, na gestão democrática, vão perdendo força.
A estratégia consiste em acusar professores, gestores e sindicatos pelos problemas educacionais e de aprendizagem (agora chega a vez dos pais) e mobilizar todas as fontes de poder (incluindo parcela dos mesmos gestores e professores) para disputar e aumentar o controle sobre o aparato escolar.
O setor dos gestores já está há tempos sob pressão, o dos professores apenas está iniciando. Não avança mais pelas dificuldades operacionais e políticas que os reformadores encontram. Mas estes dois níveis estão sob disputa acirrada. Os professores enfrentam as políticas de bônus e o apostilamento das redes – ambas medidas destinadas a garantir controle.
Agora, entra na mira um novo ator a ser disputado: os pais. A estratégia é ganhar os pais para as ideias que os reformadores estão tentando vender há algum tempo para gestores e professores e com isso, isolar os sindicatos e pressionar os gestores e professores a aceitar aquelas ideias.
O Movimento Todos pela Educação lança agora campanha para “envolver” os pais (e a “comunidade”) na aprendizagem das crianças: “Todos somos educadores” dizem. Teremos mais pressão.
No entanto, o que não está sendo devidamente levado em conta, é que todas estas pressões vão terminar atingindo um só ator: o estudante. Todas as fontes de poder estão sendo mobilizadas para, ao final de contas, fazer o aluno aprender – independentemente das condições objetivas que ele tem na vida e na escola.
Há uma caça por balas de prata que possam resolver o problema educacional. A cada momento, alguém copia alguma receita que parece ter dado certo em algum lugar, sem sequer fazer uma análise do entorno cultural no qual aquela receita aparentemente funcionou.
“Os pais devem acompanhar de perto o que está acontecendo no cotidiano da criança, com pequenas e grandes ações. Observar a lição de casa, ir a reuniões, arrumar um espaço tranquilo para ela estudar, entre outras ações, são exemplos. É bastante importante para a criança ter rotina e um ambiente harmônico. Diálogos que façam links com os conteúdos vistos na escola também são importantes.”
Ou seja: controle do aluno em casa. Quem vai segurar a mão dos pais? Um alto funcionário da educação sul coreana advertiu há algum tempo os Estados Unidos para os cuidados que se deve ter ao mobilizar os pais:
“Existe uma longa tradição de pais na Coréia do Sul que empurram os filhos para se destacar academicamente, mas esta determinação dos pais pode ser contraproducente, Mr. Ahn disse à sua audiência. (…)
Mr. Ahn disse que o envolvimento dos pais na educação é fundamental para o sucesso do aluno, e os políticos estavam absolutamente certos em incentivá-lo. Mas ele pediu equilíbrio. “A extrema pressão dos pais não é algo a ser invejado”, disse ele.” (…)
Perto do fim de seu discurso, o Sr. Ahn também advertiu contra políticos americanos e o público que elogiam o “zelo educacional” dos pais sul-coreanos, e disse que foi um erro sugerir que “os pais americanos deveriam ser mais parecidos com os pais coreanos.”
O Movimento Todos pela Educação inicia a campanha sem atentar para os possíveis efeitos adversos. Estamos fazendo experimentos sociais em larga escala ao introduzir ideias nos sistemas públicos de educação e não sabemos muito bem quais as consequências sociais e pessoais que estamos estimulando.