São Paulo separa escolas

O Estado de São Paulo está desenvolvendo um projeto para separar as escolas de 1ª. a 5ª.; de 6ª. a 9ª. e as de ensino médio. Serão três sub-redes específicas. O projeto tramita atendendo a rigoroso rito de planejamento passo a passo. A ideia é lamentável pois rompe a lógica de que a “escola é da comunidade” e deve estar ao seu lado.

Manifestações têm sido feitas em várias cidades do estado a partir de vazamento das informações locais sobre eventuais escolas que seriam atingidas e incluem alunos, pais e professores.

Somente poderemos ter uma visão global do que está sendo planejado dentro de algum tempo, com as medidas que eventualmente darão continuidade a este projeto. É claro que há mais etapas.

Primeiro, houve uma mudança na assessoria. Sai a consultoria McKinsey e entra a consultoria Falconi que já está com escritório dentro da Secretaria, tal qual ocorria com a anterior. Onde Falconi está, temos reengenharia de processos, meritocracia e outras ações que costumam acompanhar estas consultorias. A McKinsey era paga pelos empresários. A Falconi deve ser também. É um “presente” dos empresários para o Estado.

A história do Dia E (#VemProDiaE: participe do megaencontro sobre a reorganização no dia 14 de novembro) que está sendo promovido em São Paulo,  tem cara do Dia D que se tentou realizar em Sergipe e foi abortado pelo magistério de lá, quando aquele estado procurou implantar o Índice Guia.

Segundo aspecto a considerar: homogeneizar as escolas é um passo que pode estar preparando a continuidade do processo de municipalização do ensino fundamental com seu deslocamento para os municípios. Isso não está escrito, mas é uma boa justificativa para se entender talvez o que está ocorrendo.

No entanto, não podemos descartar que também possa ser uma preparação para entregar as escolas de ensino fundamental para Organizações Sociais que já encontrariam seu raio de operação e de responsabilização definidos: 1.5 km ao redor das escolas que continuarem existindo. Nesta mesma linha, seria uma arrumação de “mercado” para tornar as escolas “atrativas”, com “clientes” definidos.

Ao mesmo tempo, o processo de terceirização poderia no futuro ser melhor conduzido se as escolas se especializam em determinadas séries, pois é mais fácil para as terceirizadas administrarem ciclos específicos do ensino básico em escolas definidas.

Se isso acontece, por municipalização ou privatização, o Estado fica com o foco no ensino médio, e pode ampliar seus esforços nesta rede, sem descartar também a estratégia de entrega de mais escolas de ensino médio à iniciativa privada copiada de Pernambuco que já se encontra sendo aplicada no Estado de São Paulo. Sabe-se que este é o projeto de ensino médio acalentado pelo empresariado que saltita em torno do governo Alckmin e da Secretaria de Educação do Estado. Dessa forma, o processo de terceirização das escolas de nível médio pode avançar, pois elas se separam dos outros ciclos do fundamental.

Entre as consequências nefastas como a privatização, está também a ampliação do número de alunos em sala de aula, como consequência do fechamento de escolas e a transferência dos alunos para outras. Ou seja, o que temos não é uma reforma educacional e sim uma reforma fiscal combinada com um provável aumento da terceirização/privatização.

Com a Falconi por perto, não podemos esperar boa coisa para a educação pública de gestão pública.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em Escolas Charters, Meritocracia, Privatização, Reorganização escolas em São Paulo, Responsabilização/accountability. Bookmark o link permanente.

4 respostas para São Paulo separa escolas

  1. Roland Scialom disse:

    O projeto de reforma da educação pública em questão terá que ser publicado para que todos possam saber exatamente do que se trata, discuti-lo em cada escola, e aprovado pela população do Estado, antes de qualquer tentativa para implementa-lo, que é para que as coisas evoluam de forma civilizada.
    Se, ao invés disso, o caminho for: o governo impor algo que a população reprova e a população protestar nas ruas, haverá muita bagunça.
    Por outro lado, o ensino público está mal porque falta às autoridades competentes uma concepção de ensino público à altura das necessidades do Estado. Por exemplo, Darcy Ribeiro tinha essa concepção. Ou então, essa concepção existe e é o que vemos implementado, isto é, uma concepção baseada numa mediocrização deliberada da sociedade brasileira. Neste caso estamos perdidos para sempre e caminhando para um venezualização da sociedade brasileira.

  2. Vocês viram o perfil dos proprietários da Falconi?
    Empresários brasileiros (bilionários) como Marcell Hermann Telles, Carlos Alberto Sicupira e Pedro Moreira Salles.
    Banqueiros e industriais definindo os rumos da educação pública no estado de São Paulo.
    Há dúvidas sobre para onde caminha a educação paulista

  3. Pingback: São Paulo separa escolas | Ani Dabar

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