Ricardo Paes de Barros é nosso conhecido. Esteve ocupando cargos nos governos do PT na extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos, base de operação da oposição dentro do governo, dirigida à época por Moreira Franco. Alí também esteve Mangabeira com seu Pátria Educadora, mas na época deste programa, Ricardo já havia jogado a toalha e saído do governo. Deixou o governo para ir trabalhar no Instituto Airton Senna. O namoro entre a ex-SAE e este Instituto já vinha há algum tempo.
Agora ele está na crista da onda do governo Temer, cotado para ocupar um ministério provavelmente ligado à política social. Ele acha que o bolsa família cresceu demais e paga R$ 77,00 para gente que não deveria. Por outros caminhos, alimenta a visão da classe média que, afetada pelas políticas recentes de ajuste, acha que essa gente do bolsa família ganha sem trabalhar. Para eles, estão deseducando o povo…
Temer diz que vai aumentar o valor pago no bolsa família, mas o dinheiro, como se vê, virá do próprio orçamento do programa, com a redução de sua abrangência pela velha teoria neoliberal da “focalização nos pobres” que, há algum tempo atrás, Paes de Barros dizia estar superada (veja abaixo). E, nesta política, quem define quem é pobre são os ricos, portanto, sempre sobra dinheiro para pagar mais para menos gente.
Seu currículo explicita seus vínculos:
“É professor titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Ciências para Educação do Centro de Políticas Públicas – CPP.
É graduado em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com mestrado em estatística pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e doutorado em Economia pela Universidade de Chicago. Possui pós-doutorado pelo Centro de Pesquisa em Economia da Universidade de Chicago e pelo Centro de Crescimento Econômico da Universidade de Yale.
Integrou o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) por mais de 30 anos, onde realizou inúmeras pesquisas focadas em questões relacionadas aos temas de desigualdade e pobreza, mercado de trabalho e educação no Brasil e na América Latina. Entre 1990 e 1996, Ricardo foi professor visitante da Universidade de Yale e, entre 1999 e 2002, diretor do Conselho de Estudos Sociais do IPEA. Entre 2011 e 2015, foi subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Em 2015, Ricardo deixou o serviço público e assumiu a Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper, onde se dedica ao uso de evidência científica para identificação de grandes desafios nacionais e para a formulação e avaliação de políticas públicas, cobrindo os temas de produtividade do trabalho, educação, primeira infância, juventude, demografia, imigração, além dos tradicionalmente recorrentes em sua trajetória, desigualdade, pobreza e mercado de trabalho.”
Sobre o que pensa Paes de Barros sobre educação, já divulgamos aqui e você pode ver de novo clicando aqui e também aqui.
“Esse debate sobre a focalização foi superado. O que continua a existir é uma coisa discriminatória contra o setor privado. A educação claramente discrimina a universidade privada diante da pública, como se, por definição, algo estatal fosse melhor do que o privado. O programa nacional de alfabetização, por exemplo, tem de ser com as universidades públicas, e não com as privadas. Por quê? É pura discriminação – e ela tem de ser contestada. Há a ideia de que privatizar parte da educação é mercantilizar o setor. Esse é o grande nó dos serviços públicos do Brasil. Na educação essa mentalidade é brutal e representa um grande problema. Não se pode usar o Fundeb (fundo de financiamento para a educação básica) para contratar uma rede de escolas de educação média para prover os serviços de um Estado. Um Estado poderia gastar menos contratando uma rede de ensino particular. Ele não se preocuparia com infraestrutura, nem com o quadro de docentes. O foco do Estado seria o controle da qualidade do ensino. Isso economizaria dinheiro e dor de cabeça. Imagina isso no Estado de São Paulo, que tem mais de 200 mil professores. As Organizações Sociais (OS) deram certo na saúde. Mas não se pode usar OS na educação. Não podemos testar o modelo de charters schools no Brasil, que são escolas privadas pagas em parte pelo governo e gratuitas para a população. Na Colômbia estão fazendo isso. A Suécia está se livrando de todas as escolas públicas (grifo meu LCF). O país paga para a rede privada prover o estudo. Para a família é gratuito – e só o que importa é a qualidade.”
Sobre a qualidade da educação na Suécia, mostrei que é uma falácia e que seus resultados no PISA, certamente um exame crível para Paes de Barros, cairam (veja aqui).
Sai o merdacante e entra o barro.
Me lembro de 5 ou mais anos atrás o professor dizendo sobre esse processo de privatização que estamos vivenciando com as escolas charters e as avaliações externas. Entendo que a contratação de professores seguirá a mesma lógica do bolsa família: menos professores e pequeno reajuste salarial.