SP: desempenho dos alunos recua no SARESP

Todas as médias de matemática em todos os níveis da educação paulista caíram, segundo a própria medida do governo Alckmin (PSDB), na avaliação do SARESP no Estado de São Paulo. A exceção fica por conta de Língua Portuguesa na 3ª. série no ensino médio, que aumentou. Em Língua Portuguesa também houve melhora nos anos iniciais do fundamental (5a. série), mas a melhoria neste nível é uma tendência nacional, independentemente das políticas estaduais locais.

 A Secretaria da Educação preferiu refugiar-se no crescimento do IDESP minimizando a queda nas médias. Mas nem mesmo o IDESP consegue salvar a situação. E mesmo sendo benevolente e olhando para o cálculo de valor agregado das políticas da reforma empresarial em São Paulo  ao longo dos últimos dez anos, não se pode ver uma perspectiva medianamente otimista, especialmente para os anos finais e ensino médio.

idespfinal16A área em que o valor agregado aumenta mais  é na 5a. série do ensino fundamental (1,44), área que como dissemos o ensino avança no país todo independentemente da política local. Note-se que o IDESP dos anos finais na 9a. série do fundamental e no ensino médio só conseguiu aumentar, em termos de valor agregado, em meio ponto na última década (0,5). E no caso do IDESP divulgado em 2016 para a 9a. série houve uma queda no IDESP de 3,06 em 2015 para 2,93 agora.

Em termos de médias nas provas de matemática e em português (ver abaixo), novamente só a 5a. série se destaca, enquanto o valor agregado dos outros níveis no  máximo chega a um aumento global de 5,7 pontos para os anos finais do fundamental e de 4,3 pontos para o ensino médio, em dez anos. Mesmo com a alardeada política privatizante do ensino médio integral importada de Pernambuco agrega-se apenas 4,3 pontos na média de matemática do ensino médio, e em português agrega-se míseros meio ponto em uma década.

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Analisando o SARESP  divulgado em 2015, dizíamos que a avaliação do estado de SP estava tentando sair de um buraco que se aprofundou a partir de 2008. Em relação a 2015 refletindo sobre os aumentos de médias ocorridos naquele ano no SARESP, escrevemos:

“Este “soluço” não chega a ser sinal de qualidade. Basta ver como a curva geral, vista nos gráficos, desenha um verdadeiro buraco a partir de 2008, e que agora quer retornar ao seu ponto de origem, do qual se descolou e caiu há oito anos atrás. Já fomos iguais ou melhores do que os resultados atuais.”

Isto também vale para os resultados de 2016 divulgados agora. A situação, na maioria dos casos, é de queda nas médias. Para quem acha que testes medem a educação das crianças, isto é interpretado como diminuição da qualidade da educação, já que quando a média sobe, considera-se que houve melhoria. Os reformadores poderiam sofrer menos se começassem a duvidar desta máxima.

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Em 2008, em matemática no Ensino Médio, tínhamos um resultado de 273,8 (escala 0-500) pontos que, em 2015, subiu para 280,9 depois de passar por um buraco que levou a educação paulista ao “volume morto” entre 2009 e 2014, chegando a cair para 268,7 neste período. Mas, depois do soluço de 2015, neste ano de 2016, a média voltou a cair daqueles 280,9 em 2015 para 278,1.

E na nona série do Ensino Fundamental, em 2008 tínhamos 245,7 que avançou para 255,2 no ano passado e agora, em 2016, caiu para 251, depois também de amargar diminuição em um buraco em que se chegou a 242,3.

A única série que cresce consistentemente é a 5a. série do Ensino Fundamental, mas este crescimento da 5ª ocorre no país inteiro.  Mesmo neste caso, o Estado conseguiu a proeza de derrubar a média de matemática de 223,6 para 222,4, contrariando toda a tendência nacional para este nível.

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Em português no ensino médio, estávamos em 2008 com 272,5 pontos no SARESP, sendo que em 2015 obtivemos modestos 268 pontos, e agora em 2016 chegamos a 273,  mesmo valor de 9 anos atrás,  ou seja, ensaiamos neste ano uma tentativa de sair do “volume morto”, um buraco cavado pelos reformadores que chegou à marca negativa de 262,7 pontos.

Na 9ª série do Ensino Fundamental estávamos com 231,7 há nove anos atrás e chegamos a 237,9 em 2015, e agora ficamos estacionados praticamente no mesmo valor, 237,4. –  depois de chegar a baixar para 226,3 durante os últimos nove anos.

A política dos reformadores empresariais (incluindo pressão por desempenho, bônus e alinhamento do que se ensina em sala de aula com a avaliação, para não falar do treinamento para as provas) não mostra avanço depois do PSDB orientar a educação paulista com estas ideias nos últimos 20 anos. Mesmo com estes resultados, não se deve esperar por mudança, pois é uma questão de fé que o PSDB tem na reforma empresarial da educação.

Em 2011 registramos em um post o depoimento do então governador de São Paulo, José Serra:

“O ano passado [2010] o governo gastou 655 milhões em bônus para a rede estadual de ensino, seguindo sua política de meritocracia. O pagamento do bônus foi baseado no Saresp de 2009. Em entrevista, o então governador José Serra dizia: “Estou convencido de que estamos fazendo uma revolução silenciosa, mas eficaz no sistema de ensino estadual. É daquelas mudanças das quais nós vamos nos orgulhar no futuro, que vai marcar época”.

O pior é que os arquitetos destes resultados pífios estão agora no governo Temer prontos para fazer lá o mesmo que fizeram cá: promover décadas perdidas para a educação brasileira.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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2 respostas para SP: desempenho dos alunos recua no SARESP

  1. Saulo Rodrigues de Carvalho disse:

    Professor, as quedas poderiam ter sido piores. Em 2010 a equipe do falecido Paulo Renato modificou os critérios de avaliação, inflacionando os índices daquele ano, para mostrar um pseudo avanço. Parece que desta vez nem critérios mais rebaixados de avaliação ajudaram a escamotear o fracasso da politica neoliberal na Educação de São Paulo. A verdade sempre aparece.

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