O arsenal de “métodos” da reforma empresarial da educação é infindável. A ONG Parceiros da Educação (organização empresarial que atua na área da educação) desenvolveu para a rede pública estadual de São Paulo um método científico de administração de desempenho das escolas que as conduzirá ao sucesso – e que se denomina Método de Melhoria de Resultados – MMR.
A ideia que o alimenta é a mesma, no fundo, que alimentava as iniciativas empresariais destinadas a introduzir melhorias na produção fabril e que se chamava “espinha de peixe”. É algo mais modesto, mas que visa organizar diagnóstico, identificação do problema, atuação corretiva da escola e melhoria – a título de dar “transparência ao processo”. Vem embalada com uma roupagem democrática de “transparência” mais “participação da comunidade”.
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A análise não incluir a disponibilidade de recursos da escola. Francisco Soares também critica esta ausência, mas isso é um detalhe. O fato é que a proposta tem uma concepção equivocada na base: a ideia de que o fracasso da criança se deve a uma falta de conhecimento e atuação científica da escola sobre seus problemas, como se tudo pudesse ser resolvido entre os atores da escola dotados, agora, de método científico de análise.
Professores, alunos e demais atores da escola sabem muito bem o que está mal na escola, não precisam de métodos específicos para tal. Para ter bom resultado, tal método deveria colocar na mão de seu conselho escolar a gestão da melhoria com poderes para não só encontrar o que vai mal, mas demandar do Estado os devidos resultados necessários para atender a melhorias desejadas na escola e no desempenho do aluno- em um sentido bilateral. Mas aí o Estado vai pular fora.
A questão não é só identificar problemas e demandar dos atores da escola. Uma vez identificados existem os que não estão sobre controle da escola (mais de 50% no caso de desempenho do estudante) e existem os que estão sob responsabilidade do próprio Estado resolver e ele não o faz. Há ainda os que dependem de outras Secretarias Estaduais para serem resolvidos articuladamente. Sem que isso seja colocado na “mesa da escola”, fica inviável realizar planos de melhoria. Mas, para o empresariado, tudo é uma questão de “vontade” a ser induzida por um método de cobrança de resultados e consequências.
Novamente aqui há um equívoco conceitual, ou seja, o de que a melhoria da escola é uma questão de empenho dos atores, apesar das condições não serem adequadas. Para alguns defensores da reforma empresarial, estas tais condições não passam de “desculpas” para justificar a falta de empenho da escola.
Deve-se agregar ainda que existem situações outras crônicas que o Estado não resolveu: professores horistas que não podem se dedicar a pensar os problemas da escola; professores sobrecarregados de aulas que não têm espaço para organizar-se coletivamente e cuidar daquela parte dos problemas que se referem à escola e outros mais.
Estes métodos são adequados para situações em que a organização tem controle dos resultados e dos recursos envolvidos. Não é o caso da escola.
Mas, enfim, Alckmin precisa fazer alguma coisa para acalmar os abutres que vivem rondando a Secretaria de Educação com suas ideias milagrosas.
Preocupante o final do artigo quando o secretário não aponta recursos da secretaria para esse projeto, sendo custeado pela ONG Parceiros da Educação. Qual será a moeda de troca? Empresário brasileiro não atua sem pretensões particulares!