Uma nova crise nos meios universitários americanos expõe o real interesse de corporações e milionários ao efetuarem suas doações. Mostra como atuam através de Fundações e “organizações sem fins lucrativos” que são máquinas de interesses políticos de doadores que não aparecem na cena, mas que de fato controlam as atividades e finalidades de tais organizações e de suas financiadas – o chamado “dark money”.
“Dark Money” diz respeito a fundos que são doados por milionários a organizações sem fins lucrativos para que exerçam algum tipo de influência em atividades que interessam aos doadores, sem que eles e/ou seus objetivos apareçam como doadores de fato destas organizações. Os doadores ou os termos da doação permanecem ocultos e tais organizações podem receber uma quantidade sem limite deste tipo de dinheiro.
Sem fins lucrativos (declarados), mas com muita finalidade política, Peter Greene as definiu como “máquinas de lavagem de dinheiro”.
O caso mais recente e emblemático acontece agora com a Fundação dos milionários irmãos Koch. As críticas dizem respeito à transparência das doações, bem como aos termos específicos das doações que poderiam levar a uma influência indevida dos doadores em questões acadêmicas, envolvendo pesquisa e até o currículo das instituições, passando pela própria seleção de professores.
É sabido que os Koch, como são conhecidos, financiam pela sua Fundação a agenda da nova direita americana. São mais de mil pessoas financiadas na área do ensino superior nos Estados Unidos. Mas isso é apenas parte da filantropia dos Koch que, segundo Castells, envolve até o MBL no Brasil.
Para uma visão da atuação destas organizações no Brasil leia aqui.
Segundo o blog Inside Higher Ed “um acordo já extinto de 2008 entre Koch e a Florida State University, por exemplo, deu à fundação um papel na revisão de candidatos a docentes.” O blog também remete para outra denúncia feita por Angel Cabrera, da George Mason University:
“Angel Cabrera, presidente da universidade desde 2012, compartilhou a notícia com os membros do corpo docente em um e-mail dizendo: “Fui informado de vários acordos que foram aceitos pela universidade entre 2003 e 2011 e levantam questões sobre a influência de doadores em questões acadêmicas”. “
Leia aqui também.
Inside Higher Ed informa que, sob crítica, a “Fundação Charles Koch planeja tornar públicos seus futuros acordos plurianuais com universidades. A mudança vem depois de anos de críticas de membros do corpo docente e estudantes que afirmam que as concessões de Koch em alguns campi se desviaram das normas acadêmicas.” Mas as mudanças anunciadas pela Fundação não acalmaram as críticas, pois elas não vão atingir os acordos já realizados no passado, exatamente o foco das denúncias.
A influência dos Koch e de outros nas universidades, levou à criação de uma organização que trabalha para libertar as universidades da influência das grandes corporações chamada “UnKoch my campus”:
“A influência corrosiva do “dark money” minou as instituições democráticas dos Estados Unidos, mas não apenas em nosso sistema político. A educação, em particular o ensino superior, serve como o motor da investigação crítica e fundamento da nossa democracia. É onde os cidadãos são expostos a ideias e, por sua vez, é responsável por moldar a opinião pública, o discurso político e a política.
Os mesmos ricos doadores e corporações que têm poluído nosso sistema político por mudanças políticas egoístas voltaram seus olhos para as universidades em busca de mudanças políticas e culturais de longo prazo. Ninguém mais exemplifica esse tipo de filantropo político do que Charles Koch, CEO da Koch Industries.”
O debate passa pelo financiamento das instituições universitárias e deveria ser levado em conta no Brasil, onde o governo tem restringido o seu financiamento. Como aponta o Blog Inside Higher Ed, citando Eric Austin:
“Como muitos outros professores nos últimos anos, Austin também expressou uma preocupação mais geral sobre a ameaça crescente para a academia de um financiador privado ideologicamente orientado, juntamente com um financiamento público dramaticamente reduzido. “Essas duas tendências em conjunto – são realmente problemáticas”.
Luiz Carlos, veja essa matéria: “Eu me sinto anão da filantropia perto de Bill Gates, diz Elie Horn”. Dono da Cyrela quer incentivar empresários a aderir a movimento de doação de riquezas https://www1.folha.uol.com.br/colunas/redesocial/2018/07/eu-me-sinto-anao-da-filantropia-perto-de-bill-gates-diz-elie-horn.shtml