Os bolsonaristas gritam aos quatro ventos que a escola não pode fazer “proselitismo”. Entendem por proselitismo a formação política dos estudantes nas grandes filosofias sociais, mas temem, de fato, é que os estudantes se informem daquelas que contrariam o seu credo. Procuram impedir estas, para que suas ideias não sejam contraditadas. Elas não resistiriam ao confronto.
Olavo de Carvalho percebeu logo o tamanho da besteira de se exigir que todas as posições filosóficas fossem ensinadas, supondo que apenas uma delas, o socialismo, estivesse disseminada nas escolas. Ele percebeu que, ao obrigar o ensino de todas, estaria, por tabela, introduzindo o socialismo (junto com as outras) nas escolas, por uma questão de isonomia. Deu uma “bronca” no MBL, o que motivou a auto-crítica deste, retirando-se do “escola sem partido”, com direito a entrevista de Kim Kataguiri na Folha de São Paulo, dizendo que havia sido um erro.
Lemos agora que uma ONG de Goiás vai adaptar uma cartilha sobre o liberalismo (melhor dizer, neoliberalismo) para distribuir para as escolas:
“O Rei do Churros é uma metáfora para crianças de um dos clássicos do liberalismo, “As Seis Lições”, de Ludwig von Mises, um dos pais da chamada Escola Austríaca, defensora do Estado mínimo e da primazia do mercado.
A adaptação da obra de Mises para linguagem infantil está para ser lançada em livro pelo Instituto Liberdade e Justiça, que se dedica ao liberalismo com foco na educação e tem sede em Goiânia (GO).”
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A obra tem o título de “Antônio e o Segredo do Universo em Seis Lições” e sairá com uma tiragem de 2.000 exemplares, que serão distribuídos para escolas, ONGs e bibliotecas de Goiás e outros estados.
Se é para não ter “proselitismo”, penso que os professores destas escolas têm o direito (e talvez o dever) de, a partir do conteúdo desta cartilha, ampliar o horizonte dos alunos e incluir as demais filosofias sociais: o conservadorismo, o liberalismo clássico e o socialismo, mostrando as diferenças e implicações de cada uma de tais filosofias e suas diferenças com o neoliberalismo.
Dessa forma, os estudantes terão uma visão completa das opções sociais e deixarão de ser submetidos ao “proselitismo político” neoliberal.
Curiosamente, nenhum bolsonarista ficou bravo com a iniciativa da ONG. Já pensou se uma ONG distribui nas escolas “Marx para crianças”?
Por que, então, pode “Mises para crianças”?
Sempre um prazer ler seus textos e aprender com você.
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