A epidemia e os “parasitas” de Guedes

Recentemente, o Ministro da Economia Paulo Guedes chamou todos os servidores públicos de “parasitas”. Disse:

“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo, o hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático, não dá mais. A população não quer isso, 88% da população brasileira são a favor inclusive de demissão de funcionalismo público, de reforma, de tudo para valer.”

Leia aqui.

Para ele, “o dinheiro não chega no povo” – provavelmente porque Guedes não precisa do serviço público.

Pois bem, a crise do coronavirus mostra como o dinheiro chega ao povo: quem vai segurar a epidemia é o SUS – que querem privatizar. A maioria da população dependerá do SUS.

O neoliberalismo primitivo de Guedes (para usar a expressão de Lara Resende) é isso: não têm ideia do que fazer com o serviço público para melhorá-lo, torná-lo mais eficiente e tudo que sabe propor é a sua extinção através de privatização. Com isso coloca os serviços públicos na ótica do lucro das empresas, as quais têm compromisso com seus acionistas e não com a população. O neoliberalismo foca a proteção da “propriedade”, mas nós precisamos focar na proteção da “vida” de todos.

Agora, na epidemia, são os profissionais da saúde – os “parasitas” de Guedes – os principais âncoras que arriscarão suas vidas, em condições muitas vezes precárias geradas por estas políticas, para mitigar as consequências de uma epidemia que vai vitimar muita gente. Principalmente aqueles que não estão com estado imunológico adequado, motivado pelas precárias condições de vida. Aí está uma das razões para se ter políticas públicas sociais adequadas de saúde e de educação para todos.

O papel do Estado não é apenas apoiar a iniciativa privada para que ela não pare – especialmente as pequenas e médias empresas. Seu papel vai mais longe e deve ter como foco proteger o cidadão e fortalecer aqueles que estão garantindo seu bem-estar.

Por motivos diferentes, mas próximos, o neoliberalismo e o libertarianismo – ambas vertentes do liberalismo – são individualistas: cada um é responsável por si mesmo. E isto explica a fala de Bolsonaro:

“O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (16) que é um “direito” apertar as mãos de apoiadores e que, caso tenha sido infectado com o novo coronavírus por esse motivo, a “responsabilidade” é dele. “Ninguém tem nada a ver com isso”, declarou.”

Leia aqui.

O ódio que têm ao Estado, sua sanha destrutiva advém deste sentimento de que cada um está em plena condições de assumir a responsabilidade por seus atos, e pelo seu próprio corpo. É um darwinismo social que prega a sobrevivência do mais forte, daquele que sabe tomar as melhores decisões, enfim, da meritocracia. Sobrevive quem tem mérito e os demais são uma subclasse que não tem direitos porque não tem mérito.

Este momento serve para mostrar a importância do coletivo e da solidariedade. Não existe um ser isolado, individualista e egoísta que em suas atitudes não afete o coletivo. Para estes liberais, coletivo e solidariedade são ideologizados como sinônimos de comunismo e, portanto devem ser substituídos pela política do “vire-se”.

É o que estamos vivendo em termos de política pública e isso é de extremo perigo para vida da maioria dos brasileiros como se pode ver neste momento.

Mas, vamos lá “parasitas”!

Vamos enfrentar a epidemia e vamos exigir do governo mais verbas para o SUS e combater a privatização na saúde, da educação, do sistema prisional e da segurança, a privatização do saneamento básico e da água.

A Espanha, das janelas de seus apartamentos, aplaude seus profissionais da saúde em luta. Devemos fazer o mesmo e colaborar no plano pessoal para reduzir a demanda sobre o sistema de saúde e preservar a vida.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em Assuntos gerais, Meritocracia, Privatização e marcado , , . Guardar link permanente.

2 respostas para A epidemia e os “parasitas” de Guedes

  1. Eduardo disse:

    Com forte ideologia liberal, mas sem inteligência, bolsonaristas não reconhecem a ironia do vírus, combatido por meio da ciência, da universidade pública, do SUS e da pesquisa, todos atacados e ameaçados pelos verbos e medidas provisórias dos boçais. Que tristeza ser governado por essa gente!!!!

  2. João Silva disse:

    Bom dia. O melhor exemplo é a Espanha que está estatizando hospitais privados: https://exame.abril.com.br/mundo/contra-coronavirus-espanha-estatiza-hospitais-privados. Att

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