O Prof. Marcos Francisco Martins da UFSCar publica hoje artigo no Correio Popular, jornal da cidade de Campinas, refletindo sobre o processo de reorganização das escolas do Estado de São Paulo. Segue abaixo reprodução do texto autorizada pelo autor.
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Publico, como comentário, excertos de minha dissertação de mestrado (BIANI, R.P. A Progressão continuada rompeu com mecanismos de exclusão? (2007). Campinas, SP: FE/UNICAMP.) discutindo a lógica capitalista na escola
(…)
Nas gestões empresariais, a qualidade da qual se fala é aquela que garante a produtividade, a rentabilidade, o máximo de benefícios, na forma de lucro, e o mínimo de custos. No campo educacional, os discursos da qualidade estão assumindo
[…] o conteúdo que este conceito possui no campo produtivo, imprimindo aos debates e às propostas políticas do setor um claro sentido mercantil de consequências dualizadoras e antidemocráticas. No campo educativo, o discurso da qualidade foi assumindo a fisionomia de uma nova retórica conservadora funcional e coerente com o ataque feroz que hoje sofrem os espaços públicos (democráticos ou potencialmente democráticos), entre eles, a escola das maiorias (GENTILLI, 1997: 126).
(…)
Importar a teoria da qualidade empresarial para o campo educacional implica pensar a educação, também, em termos da relação custo x benefício havendo, então, a necessidade intrínseca do controle da qualidade que se centra, principalmente, nos resultados ou nos produtos. A ideia é o retorno satisfatório dos “investimentos”, num prazo curto e com mínimos riscos.
Na educação, o controle de qualidade passa a ser feito pelas avaliações, em vários níveis, vistas como meio para se obter melhor padrão de qualidade na educação. No discurso do Banco Mundial para a melhoria da qualidade da educação é possível perceber a importância da relação custo – benefício:
A relação custo-benefício e a taxa de retorno constituem as categorias centrais a partir das quais se define a tarefa educativa, as prioridades de investimento (níveis educativos e fatores de produção a considerar), os rendimentos e a própria qualidade (TORRES, 1996: 138).
A ênfase na relação custo-benefício, presente nas reformas educacionais impostas pelo Banco Mundial à educação no Brasil, reforça a ideia de qualidade de produtos e não de processos, ou seja, centra-se no controle do custo (investimentos em livros didáticos, infraestrutura – como as salas ambientes, computadores, televisores e vídeos, etc.) e do benefício (anos de escolaridade, diplomação) em detrimento da qualidade da instrução e da formação oferecidas.
Nesse sentido, as avaliações serão para verificação de resultados, não levando em conta em que condições eles foram produzidos – as condições anteriores à escola, por exemplo. Enfatiza-se o aspecto quantitativo em detrimento do qualitativo, sendo que a diretriz principal passa a ser o barateamento dos custos com a educação pública (do mesmo modo como uma empresa que maximiza os custos cortando gastos) que gere, no entanto, altos índices de aprovação, o que se tornou possível pelas políticas implantadas pelo Governo – principalmente os ciclos e a progressão continuada.
Essas políticas não alteraram as lógicas do tempo, do espaço, da avaliação, enfim, da cultura escolar, o que as levou, em nosso entender, a incidirem negativamente sobre a qualidade da aprendizagem (que deveria ser o real benefício a ser maximizado em educação).
As propostas do Banco Mundial identificam-se com as propostas neoliberais, cujas lógicas são a do mercado, da competição, da exclusão, ou, resumindo, da manutenção da ordem social. Em educação, o neoliberalismo “é a tentativa de transplantar para a escola pública formas de gestão empresarial ou que se mostram mais adequadas para as organizações que visam lucro” (AFONSO, 2003: 44).
Nessa lógica, o Estado atua como avaliador dos produtos – e, consequentemente, das instituições educacionais que o produziram. Ambos – produtos e produtores – deverão estar de acordo com as exigências impostas pelo Banco Mundial as quais estão em consonância com os interesses do modelo de produção capitalista vigente.
Fiel a esta lógica, o sistema ao avaliar suas escolas, o faz na perspectiva positivista da avaliação, valorizando o produto e exercendo controle de qualidade para garantir uma pseudo homogeneização das condições de oferta do ensino. Assim, o discurso da equidade e a democratização do acesso à educação formal configuram-se como uma realidade. E a questão dos baixos resultados de desempenho é explicada como um problema ora ligado à falta de qualidade dos docentes ora ligado ao baixo capital cultural dos estudantes (SORDI e MALAVASI, 2004: 110).
(…)
Ao cooptar-se com a lógica do capitalismo, a escola cumpre uma função social coerente com o conjunto das relações sociais de produção da sociedade capitalista, na qual está inserida, relação esta que, em nosso pensar, promove e mantém os processos de produção de desigualdades e exclusão em detrimento dos processos de inclusão e emancipação pessoal e social.
(…)
Tais afirmações vêm ao encontro do que queremos ressaltar: houve reforma, mas não mudança. Nossa afirmação coaduna-se com a de Arroyo (1999: 156), segundo a qual:
Tivemos e temos inúmeras reformas e políticas que quase nada inovam na lógica estruturante do nosso sistema escolar nem na concepção utilitarista e credencialista de ensino. […]. [O que há são] retoques, mais nominais do que reais […]. Em realidade, essas administrações estão brincando de mudanças apenas trocando os nomes.
(…)
Acreditamos que transformações não ocorrerão “de cima para baixo”, pois aqueles que detêm o poder dificilmente agirão “contra si próprios”.
_____________
E assim… Estamos diante de mais uma reforma na qual se reforma para manter e não para mudar.
Gostei muito da análise. Direto ao ponto. Era esse o nível de argumentos que eu esperava no Roda Viva da Cultura… o que vimos foi uma total perda de tempo, repetição de discurso para justificar o injustificável: FECHAR escolas. Surreal alguém apoiar isso, ao invés de diminuir o número de alunos por sala em todas as escolas (nesse caso seriam necessárias MAIS escolas ao invés de menos). Não é a reorganização em ciclos o problema (aliás, se fosse feita com o verdadeiro intuito de realmente equipar as escolas de acordo com as necessidades de cada faixa etária, seria deveras interessante).