Mais uma reforma “milagrosa” se desfaz: New Orleans

New Orleans (EUA) sofreu uma grande destruição com o furação Katrina e os reformadores empresariais aproveitaram para privatizar todo o sistema educacional destruído pelo furação. De lá para cá, têm feito uma incessante propaganda sobre os “resultados positivos” da privatização, os quais não correspondem à realidade, como mostra agora Tom Ulticam. Diz ele:

“No entanto, a realidade é que as escolas de Nova Orleans são ineficientes, comprometem as comunidades, têm custos extremamente altos de gerenciamento e transporte e ainda estão lutando para melhorar academicamente. Eles são um exemplo triste, mas típico, de reforma educacional baseada no mercado.”

Leia aqui.

Como alerta Diane Ravitch:

“As comparações entre os “sistemas” antigos [antes do Katrina] e os novos [depois do Katrina] são duvidosas, na melhor das hipóteses, porque o furacão Katrina reduziu drasticamente as matrículas de 62.000 para 48.000. Como Bruce Baker apontou ao revisar um estudo recente, a pobreza concentrada foi significativamente reduzida pelo êxodo de alguns dos moradores mais pobres da cidade, que se mudaram para outro lugar.”

Como é sabido, mudanças no padrão de ocupação da população no entorno das escolas afetam os resultados de aprendizagem, pois os testes medem mais o nível sócio-econômico do que a própria aprendizagem. Se a pobreza se desloca de uma região para outra e em seu lugar chega uma população de maior nível sócio-econômico, os testes podem melhorar, mas em resposta à mudança da população que já não é mais a mesma.

“Ultican cita os estudos de Andrea Gabor sobre as escolas de Nova Orleans para mostrar que a herança remanescente da segregação e privação de direitos foi preservada totalmente no novo sistema. As escolas que matriculam os alunos mais brancos têm admissões seletivas e notas altas nos testes. A maioria das escolas é altamente segregada e tem resultados muito baixos nos testes.”

O setor privado que opera em New Orleans vive de vouchers, o que permite a criação de uma linha direta que transfere para seu bolso o orçamento público da educação. É um empresariado dependente dos vouchers do Estado. Eis o que motiva a crítica à educação pública que eles mesmos financiam. Em nome de uma hipotética “eficiência”, abocanham o orçamento público do Estado. O tal “estado mínimo” se torna “máximo” para eles.

Ao contrário do que a propaganda da reforma diz, “não procure em New Orleans lições sobre reforma escolar”.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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