Respondendo ao Instituto Alfa e Beto – II

(Continuação do post anterior.)

Lógicas à parte, a reação do Instituto Alfa e Beto é bastante diferente de outros Institutos e Fundações cuja produção já questionamos neste blog. Há uma “overreaction”. O Alfa e Beto não é o primeiro a ter sua produção debatida aqui. Já questionamos a Fundação Lemann e o Instituto Airton Senna, por exemplo. Escrevi variados posts sobre estudos da Lemann. Com o Senna discutimos a pesquisa das habilidades socioemocionais. Nenhuma destas instituições reagiu com xingamentos como fez o Instituto Alfa e Beto.

O caso do Instituto Senna foi emblemático. A discussão continuou com Mozart Ramos no Educação 360 promovido pela Globo no Rio, com a moderação do jornalista Antonio Gois. Coincidentemente, um grupo da Unicamp produziu um excelente artigo alertando para os problemas da pesquisa com habilidades socioemocionais, o que alimentou o debate. Cada um continuou a defender suas ideias mas ninguém “magoou”… ou saiu batendo o pé. Com o Alfa e Beto infelizmente está sendo diferente.

Mas esta é a nossa função neste Blog. Uma parte dos reformadores empresariais (um cacoete mundial) gosta de promover “junk science” com financiamento próprio. Se eles fazem isso apenas para seu consumo e faturamento, é errado, mas tem menor impacto. No entanto, quando pretendem orientar política pública com tais publicações, viram um problema social, de todos e em especial para a academia.

Não estamos dizendo que o Instituto Alfa e Beto está fazendo “junk science”, pois colhe os estudos já publicados nas revistas, mas é pelo menos descuidado para informar adequadamente os métodos de coleta e análise de sua tentativa de resumir tendências da pesquisa educacional, a partir destes estudos já publicados. Este é o ponto.

Podemos mesmo dizer, para antecipar nossa tréplica que: se os autores tivessem colocado na introdução dos livros que veicularam, todas as ressalvas que fazem em sua réplica ao post deste Blog, não haveria necessidade de que este Blog veiculasse aquele primeiro post criticando as publicações do Instituto. Faltou autocrítica aos pesquisadores do Instituto.

Neste sentido, a contestação do Instituto é muito oportuna principalmente porque mostra ao leitor do Blog, pela própria argumentação do Instituto, as inconsistências e as “petições de princípio” que orientaram a produção dos livros. Podemos, pois, invocar a própria tentativa de contestação do Instituto como elemento básico para nossa tréplica, sem necessidade de introduzirmos novos argumentos no debate.

Passaremos por alto as acusações e ofensas contra o Blog e seu autor pois a questão aqui é científica e não pessoal. Nem conheço o Sr. Araujo e Oliveira. Os leitores têm acesso às matérias do Blog e podem julgar por si mesmos o esforço para trazer, aqui, evidência empírica que põe em cheque as políticas divulgadas pelos reformadores empresariais no Brasil. Por mais que isso incomode, é o que continuaremos a fazer, pois precisamos conhecer os impactos destas propostas, as várias maneiras destas políticas se comportarem, as quais nem sempre são tratadas pelos próprios reformadores.

Em nossa tréplica, portanto, vamos nos ater à parte do texto do Instituto que propõe responder as quatro críticas resumidas por eles a partir do meu post original.

(Continua no próximo post.)

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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