E agora Costin?

Claudia Costin escreve hoje em seu espaço na Folha de São Paulo a respeito dos perigos de uma democracia não liberal. Diz, com base em um cientista político alemão Yascha Mounk:

”podem existir democracias não liberais, em que o desejo da maioria tem condições de contrariar direitos de grupos étnicos ou sociais, como também liberalismo sem democracia, situação em que interesses fragmentários, inclusive o de elites, têm canais de expressão, o que não ocorre com os da maior parte da população.”

Leia aqui.

Mas a autora deixa de lado o essencial, em matéria de educação: a relação entre a escola pública gerida pelo Estado e a própria democracia liberal. É como se a morte da escola pública proposta pela democracia não liberal, deixasse de ter relação com a destruição da própria democracia liberal.

Os liberais de raiz, estão surpresos com a possibilidade de uma democracia iliberal. De fato, sua agenda foi construída silenciosamente nas terras da Virgínia (USA), sob financiamento pesado dos irmãos Koch – empresários que defendem escolas charters e vouchers nos Estados Unidos -, com a atenciosa direção de James MGill Buchanan desde as décadas de 50, em base a propostas já veiculadas antes por Von Mises e por Hayek. Contou com os esforços também de Milton Friedman em Chicago – sim, a Chicago dos Chicago boys que hoje estão no ministério da economia do governo Bolsonaro. Teve seu teste original na ditadura de Pinochet no Chile e depois nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Construiu a proposta da reforma empresarial da educação (iniciada por Dilma e aprofundada por Temer com apoio do PSDB) que se tornou modelo global de reforma educacional apoiada por organizações internacionais, entre elas o Banco Mundial, do qual participou no setor educacional, a própria Claudia Costin. Cabe agora ao governo Bolsonaro completá-la inserindo esta reforma no mercado educacional alimentando a terceirização de escolas e os vouchers. Mais de um Estado brasileiro já vinha caminhando nesta direção – sob silêncio dos liberais.

O objetivo desta reforma era e é enfraquecer a escola pública, pois ela é um dos esteios centrais da democracia liberal. Nas nossas circunstâncias históricas, somente a escola pública de gestão pública pode ser inclusiva, se criarmos as condições para tal – dentro dos limites da democracia liberal. Mas as soluções fáceis tomaram a cena das reformas e passou a ser mais fácil entregar a escola pública para o mercado, acreditando que a concorrência entre escolas melhoraria sua qualidade. A segregação social aumentou contrariando as perspectivas da democracia liberal inclusiva. Os dados estão disponíveis no Chile, nos Estados Unidos e onde mais foram aplicados os princípios da reforma, mas não querem ser vistos.

Feito o prejuízo em escala. Agora temos que cuidar da limpeza da sujeira. Esperamos contar com Claudia Costin (e outros adeptos das reformas empresariais) agora que os seus (da reforma) reais objetivos estão visíveis, inclusive por aqui.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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