Quem apoia o “Common Core” brasileiro?

O Common Core americano é uma espécie de “base nacional comum” voltada para um núcleo central de standards em leitura e matemática. Foi montada por envolvimento dos Estados americanos e implementada pelo governo federal americano, por adesão em troca de acesso a recursos federais. Valerie Strauss mostra em seu blog as conexões entre Bill Gates e a instituição do Common Core americano:

Você pode dizer de Bill Gates que quando ele gosta de algo, ele adere (pelo menos por um tempo, até que ele decida que não gosta mais). Através de sua fundação extremamente rica, Gates gastou ao longo dos anos centenas de milhões de dólares para criar e promover o Common Core State Standards, os standards comuns para os Estados. Quando a iniciativa teve a oposição de críticos de todo o espectro político, Gates, manteve-se firme. Não só ele continuou a despejar dinheiro na implementação e promoção do Núcleo Comum, mas, de acordo com um novo artigo na revista Fortune, ele jantou com o bilionário conservador Charles Koch, em fevereiro de 2014 e tentou convence-lo a parar de dar dinheiro para o grupo Tea Party que estava se posicionando contra o Common Core. Koch não se mexeu, mas Gates manteve seu apoio ao Núcleo Comum, e em 2015, ele doou mais de US $ 42 milhões para várias dezenas de organizações apoiarem o Core.”

Eis como se entrelaçam os negócios e as ideias dos reformadores. Financia-se a divulgação e a adesão, quando não a própria elaboração. Não deixe de ler o artigo (em inglês) na revista Fortune mencionado acima, elaborado por Peter Elkind.

Leia mais aqui (em inglês).

No Brasil quem faz o papel de Bill Gates é o empresário Jorge Lemann que criou a Fundação Lemann, o homem mais rico do Brasil e que investe em educação não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos em atividades educacionais destinadas a brasileiros que vão se formar lá e replicar as ideias dos reformadores empresariais de lá, aqui.

Os reformadores empresariais do Brasil querem que a Base Nacional Comum brasileira seja feita à moda do Common Core americano, negociam se for à moda Australiana também. Para muitos deles deveríamos nos concentrar no “essencial”, que para eles se constitui em leitura e matemática, mas sempre na forma de “standards” a serem avaliados por testes.

A Fundação Lemann está neste processo, inclusive para influenciar a base nacional comum da educação infantil, como noticiado antes. Esta é a razão do desconforto dos reformadores brasileiros com os atuais estudos do MEC para formatar a nossa base nacional comum. É por isso, também, que a Folha de São Paulo disparou em seu editorial contra as “verbosidades” da nossa base nacional comum.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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