Postado originalmente na Uol em 30/09/2011
A vantagem de você ser dono de um jornal como a Folha é que você fala o que quer e não precisa demonstrar nada. Não é ciência, como já disse. É fé em uma ideologia. Hoje a Folha reage à discussão em curso na Rede de Ensino de SP que pode levar a diminuição de aulas em português e matemática e à criação de módulos de terminalidade diferenciados no ensino médio.
O mito, defendido pela Folha, é que o aluno que não sabe português e matemática, não tem condições de aprender as outras disciplinas. Logo, o principal a ser ensinado é o conteúdo de português e matemática. A Folha afirma e não precisa demonstrar. Ora, estamos falando do último ano do ensino médio. O aluno teve todos os anos anteriores para aprender estas duas disciplinas com o peso que a Folha quer. Mas é o mito. É tabu aceitar diminuir o peso curricular destas disciplinas mesmo que seja no último ano do ensino médio. E como a imprensa não tem que demonstrar nada, passa por sábia.
Não há nada que possa ser usado pela Folha como evidência empírica de sua afirmação, mas ela não precisa, é questão de fé… e de ideologia. A reforma educacional chinesa há alguns anos diminuiu o número de horas de aula de matemática no currículo. Isso não prejudicou Shangai que é campeão no PISA. E lá não foi só no último ano.
Ao final de seu editorial (note a importância concedida ao tema) vem a real razão do incômodo da Folha. Termina dizendo: “Menos “sociologia” e “filosofia”.”(Assim entre aspas.) “Mais matemática e português.” (Assim sem aspas.)
A principal razão é esta: vai que a moçada começa a pensar…
A realidade. Outra observação feita no editorial revela também o corte ideológico da Folha: ela apoia os módulos variados de terminalidade pois o ensino médio “deixa de atender às demandas profissionais de jovens que querem trabalhar no final da adolescência – o que estimula a evasão escolar.”
Que todos não precisem ir para a universidade é uma verdade, mas que somente a camada social mais pobre seja direcionada para a terminalidade profissionalizante e as outras mais privilegiadas sejam dirigidas às universidades, é discriminação social da grossa.
De fato, o que a Folha propõe é que todos devem aprender português e matemática para que possam ir bem no PISA e atender às demandas dos reformadores empresariais da educação. E que o ensino médio continue sendo dual, em base à origem social, novamente, para alimentar os interesses empresariais de mão de obra barata. É a agenda internacional. É a mesma solução que os conservadores ingleses da Thatcher, agora de volta ao poder, estão fazendo na Inglaterra com o chamado bacharelado inglês.
OS: Os reformadores empresariais da educação continuam fingindo-se de mortos em relação ao jovem que se suicidou na escola de maior IDEB do Estado de SP. Para eles é caso de polícia e não um problema educacional.